Volkan Caner e Doruk Öztürkcan são, atualmente, os She Past Away. Depois da sua estreia no Entremuralhas do ano passado, os turcos regressaram a Portugal numa tour com duas datas: 29 de setembro em Lisboa e 28 de setembro no Porto. Foi no Porto, num concerto com o toque da MIMO que a Threshold assistiu ao concerto da dupla.
Apesar da recente alteração de alinhamento da banda — dada a saída do baixista e membro fundador da banda İdris Akbulut, os She Past Away ficaram reduzidos ao formato duo — a banda não perdeu o seu traço sonoro. O tom monocórdico da voz de Caner perdura. A parte instrumental continua a invocar os melhores tempos de uns anos 80 vividos à base de copiosas audições dos trabalhos dos Cure, Joy Division, New Order e Bauhaus. A título de curiosidade, poderíamos dizer que Caner se assemelha a um Robert Smith nos seus anos de juventude (o seu cabelo eriçado e cara maquilhada ajudam a manter essa ilusão) e que Öztürkcan poderia passar por um dos membros dos Kraftwerk dado o seu uniforme de palco (camisa e calças pretas) e predileção pela ocupação parte eletrónica da instrumentação dos She Past Sway. Öztürkcan é também o produtor dos álbuns dos She Past Away.
Por todos os motivos acima enunciados, um crítico poderia argumentar que os She Past Away não passam de um pastiche de todas estas influências, não acrescentando nada de novo ao género do Post-punk/Goth-wave. E, na verdade. assim é.
Nada do que possam ouvir editado pelos She Past Away vos soará a novo. Mas digam-me, porque é que isso é mau?
Será que os She Past Away ou qualquer banda precisam necessariamente de acrescentar alguma coisa ao seu género musical? Não era o outro dizia que os maus imitam e que os grandes roubam?
É um facto que os She Past Away nada acrescentam ao Post-punk nem ao Goth-wave. Mas também é um facto de que a dupla é, atualmente, das bandas que melhor mesclam ambos os géneros. Os seus álbuns são repletos de memórias sonoras dos anos 80 — essa época dourada para o Post-punk e Goth-wave em que todas as grandes bandas que dão nome a ambos os movimentos existiram —e as suas performances ao vivo não desiludem.
Apesar das alterações no colectivo e perda de um dos membros fundadores — Akbulut — os She Past Away enquanto banda estão no ativo desde 2006 e lançaram este ano o seu mais recente LP, Narin Yalnızlık. O novo álbum foi o leitmotiv desta digressão.
Com o Narin Yalnızlık ainda fresco, escutaram-se mesmo assim malhas antigas como a “Sanrı” e a “Rituel”. O calor português comoveu os turcos, que não arredaram pé do palco sem um triplo encore e um agradecimento pela oportunidade de, mais uma vez, mostrarem o que valem em território nacional.
A primeira parte do certame esteve a cargo do Homem em Catarse, esse portento do folk nacional que esteve também a apresentar o seu mais recente trabalho, o Guarda-Rios.