O Festival Para Gente Sentada regressa já amanhã para a sua 13ª edição com um cartaz de luxo. Realizado inicialmente em Santa Maria da Feira, o Festival Para Gente Sentada destacou-se desde cedo pela aposta forte na música de cantautor, levando ao cineteatro António Lamoso nomes consagrados como Devandra Banhart (que viria posteriormente a dedicar uma música à cidade), Sufjan Stevens, Sparklehorse, Bill Callahan e Tindersticks, num evento que prezou sempre pelo conforto e intimidade. Em 2015, o evento mudou de casa e passou a realizar-se em Braga, mantendo uma dinâmica cultural semelhante e fora dos grandes centros urbanos. Nomes como Mercury Rev, José González, B Fachada e Mallu Magalhães foram alguns dos nomes que integraram esta nova fase de um festival cada vez mais consolidado e com um público fiel.
Este ano, Braga volta a ser palco de alguns dos melhores artistas nacionais e internacionais, realizando-se novamente no grande auditório do belíssimo Theatro Circo e na Blackbox do gnration, não esquecendo o público bracarense com atuações gratuitas em espaços públicos da cidade.
Os grandes destaques desta edição vão para Perfume Genius e Julien Baker, que assumem aqui o estatuto de cabeças de cartaz com duas atuações que se preveem marcantes. Embora díspares musicalmente, tanto Perfume Genius como Julien Baker abordam nas suas frágeis e despidas canções temáticas semelhantes, debatendo-se ambos com problemáticas LGBT e queer e as suas relações emocionais e amorosas no quotidiano. Perfume Genius é o projeto de Mike Hadreas, excêntrico songwriter que ao longo desta década tem vindo a adquirir um culto importante com uma consistente e inovadora discografia. Na sua passagem por Braga, Perfume Genius apresenta-nos o excelente quarto álbum No Shape, disco que conta com a participação de Weyes Blood e onde podemos encontrar a eufórica “Slip Away”, um épico barroco que transpira liberdade e orgulho e que se assume como tema central desta nova aventura do artista americano.
Julien Baker, por outro lado, opta por um confronto mais sereno e intimo que o anterior. Geralmente acompanhada apenas por um piano e uma guitarra, assistimos nas suas canções a um debate emocional entre as convicções cristãs e queer com as origens da cantautora. Na sua segunda atuação em Portugal, Baker apresenta-nos Turn Out The Lights, o segundo disco da cantautora americana que aos 22 anos nos traz uma obra carregada de emoção e sofrimento, composto por 11 belíssimos temas onde a dicotomia entre o bem e o mal, os anjos e os demónios e os fantasmas de Baker sobressaem e dão lugar a algumas das canções mais viscerais e íntimas do presente ano.
A música portuguesa também estará em grande plano no Theatro Circo com as atuações de Noiserv, o projeto do multi-instrumentalista David Santos que se apresentará pela segunda vez no festival com o mais recente disco 00:00:00:00, e ainda os Capitão Fausto que irão apresentar em formato filme-concerto Pontas Soltas, um documentário realizado por Ricardo Oliveira que demonstra o processo e a produção do disco Capitão Fausto Têm os Dias Contados.
No gnration recebemos a vertente mais híbrida do festival, albergando no mesmo espaço estilos que vão do formato mais acústico até à ao lado mais electrónico da música de dança. No primeiro dia os post rockersFirst Breath After Coma apresentam Drift, o segundo longa-duração dos leirienses editado pela Omnichord Records em 2016 que lhes valeu uma nomeação para melhor álbum do ano pela IMPALA, seguindo-se o coletivo Holy Nothing para terminar a noite com a sua electrónica efusiva e dinâmica. No segundo dia o gnration recebe as canções doces e delicadas de Luís Severo, que desde que despiu a máscara de O Cão da Morte nos apresentou discos como Cara d’Anjo e o mais recente homónimo, ambos dotados de uma lírica simples mas invejável, repleto de canções frágeis e emotivas. A noite (e o festival) encerra com a house festiva de Moullinex, o projeto de Luís Clara Gomes que editou este ano o terceiro longa-duração Hypersex, via Discotexas.
Para abrir o festival, e porque o público bracarense não é esquecido, os dias iniciam com concertos de acesso gratuito em espaços públicos da cidade. Para isso, o Festival Para Gente Sentada traz a Braga a prata da casa, com os bracarenses Ermo e Máquina del Amor. Os primeiros são o duo composto por António Costa e Bernardo Barbosa, que com apenas dois discos e alguns ep’s possuem já um peso inegável na música portuguesa. Despidos de rótulos e convenções, a música dos Ermo é única e instável, já que o grupo procura sempre evoluir e explorar novos campos musicais. Lo Fi Moda é o mais recente registo discográfico do duo e um dos melhores de 2017, onde as noções de identidade e humanidade são postas de lado gerando um organismo alienígena e eclético extremamente viciante. Os Máquina del Amor são o supergrupo bracarense que junta membros dos Smix Smox Smux e peixe:avião, que em 2017 regressou às edições com Disco.
Os bilhetes para o Festival Para Gente Sentada encontram-se disponíveis em bol.pt, locais habituais (Fnac, Worten, CTT…) e na bilheteira do Theatro Circo. O bilhete diário pode ser adquirido ao preço de 20€ e o bilhete para os dois dias por 30€.