Festival Para Gente Sentada – Dia 1

| Novembro 21, 2017 5:36 pm

©Mariana Prata / comUM
Festival Para Gente Sentada regressou nos dias 17 e 18 de novembro para a sua 13ª edição, a terceira desde que se mudou para a cidade de Braga e onde encontrou o espaço ideal para a propagação de um evento cuja aposta se foca desde cedo na música de cantautor. Depois de 10 míticas edições realizadas em Santa Maria da Feira, por onde passaram nomes como Sufjan StevensDevandra BanhartBill Callahan e Sparklehorse, o festival mudou de casa para o centro minhoto, abrangendo o conceito do festival a mais salas e a uma maior variedade de estilos musicais, sem nunca perder o lado íntimo e reconfortante que o distinguiu desde a primeira edição em 2004.

A abrir as hostes do Theatro Circo esteve Noiserv, o projeto de David Santos que nos trouxe uma atuação diferente do habitual. À semelhança de Kaitlyn Aurelia Smith na sua estreia no festival Semibreve em 2016, também Noiserv registou em tempo real e com o auxílio de uma câmara no topo do palco todo o processo de execução das suas canções, transmitindo ao público uma perspetiva mais próxima e realista do que é tocar em palco envolto em toda a parafernália do multi-instrumentalista português. Verdadeiro craftman musical, Noiserv constrói os seus temas fragmento por fragmento, abordando uma diversificada escolha de instrumentos e sons que se vão juntando peça por peça até formarem uma composição completa. No final, a boa disposição de David foi vencedora e conquistou o público do Theatro, que lhe retribuiu com uma grande ovação.





Aguardávamos, então, lugar para o grande destaque da noite com o aguardado regresso de Perfume Genius a Portugal. No Shape foi o disco que serviu de mote para a tour de Mike Hadreas com passagem única na maior sala bracarense, e a ocasião era de grande expectativa já que esta primeira noite se apresentou como a mais lotada de duas. Acompanhado por três companheiros de banda, Hadreas entrou em palco em vestimentas vistosas e brilhantes, numa espécie de veludo dourado e sapatos com purpurina que não deixaram ninguém indiferente. Sem grandes palavras mas com uma presença enorme, o artista norte-americano deslizava pelo palco em movimentos que transpiravam suavidade, delicadeza, liberdade e muita sensualidade, percorrendo temas da sua ainda curta mas inovadora discografia. Iniciando o concerto com o tema de abertura do seu mais recente disco, seguiram-se de imediato “Longpig” e “Fool”, dois dos temas que integram o antecessor Too Bright, de 2014. “Normal Song” e “All Waters”, singles que o colocaram nas bocas do mundo aquando do lançamento de Put Your Back N 2 It, em 2012, trouxeram o lado mais íntimo e frágil da performance que até lá se apresentara maioritariamente agitada e energética. “Grid” e “My Body”, por outro lado, foram os temas responsáveis por trazer o lado mais industrial e estridente da performance, com apontamentos de sintetizador e samples caóticos que nos remetem para os experimentalismos dos Throbbing Gristle, de Genesis P-Orridge.

Com “Slip Away”, single de avanço de No Shape, chegávamos ao fim da atuação, que retornaria de imediato para o previsível encore, iniciado com duas bonitas rendições a solo tocadas em piano. Seguiram-se mais dois temas ao lado de Alan, o teclista e namorado de Mike Hadreas que contribuiu aqui para um dos momentos mais enternecedores do concerto. Já com a banda toda em palco, houve lugar ainda para ouvir “Hood” e a inevitável “Queen”, um dos mais célebres e aclamados temas de Perfume Genius, culminando assim um concerto arrepiante onde o corpo e a sexualidade foram celebrados de modo gracioso e belo, merecendo uma enorme ovação de pé por parte de um público extremamente satisfeito.





A noite não se ficaria por aqui, já que a música prosseguia no gnration com os leirienses First Breath After Coma. Influenciados por bandas como M83Sigur Rós e Explosions In The Sky, a banda de post-rock apresentou os temas do seu mais recente disco Drift, passando por “Salty Eyes” e ainda “Umbrae” que, assim como no disco, contou com a presença de David Santos (Noiserv). Melodias bonitas e as alternâncias entre silêncios e clímax intensos típicos do género foram alguns dos pontos que marcaram esta atuação para uma Blackbox totalmente lotada.

A noite só ficaria completa depois dos efusivos Holy Nothing nos apresentarem as suas composições de sintetizador e batidas pujantes, presentes em temas como “Cumbia” e a o mais recente single “Speed of Sound”.


Fotografia: Mariana Prata (comUM)
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