Masquete descreve os primeiros passos da Tago Mago, que começou com um concerto do duo francês The Twin Stoners na sala de concertos do Mercado Negro, como uma evolução espontânea e natural, “sem compromisso”, revela. “Eu estou em Aveiro há 3 anos e sentia que a cidade não estava representada a nível de eventos e/ou concertos. Mas depois surgiu o Aveiroshima, lembro-me bem, e estavam cerca de 80 pessoas na 1ª edição. Eu conhecia boa parte das bandas (salvo seja) mas ver 80 pessoas a ir a um festival destes superou as minhas expectativas, sinceramente. Depois conheci a VIC onde, curiosamente, hoje vivo e trabalho. Aprendi a absorver diferentes tipos de concertos/performances ali e, mesmo sendo a minha casa, não vejo necessidade nenhuma de programar concertos. Está tudo certo ali, só falta encher a sala com mais putos da minha idade. Mas estes exemplos foram, de uma forma descomprometida, a prova de que era possível fazer este tipo de coisas em Aveiro. É possível em todo o lado.” A partir daí, as iniciativas com essa chancela passaram a ser mais regulares, trazendo não só bandas portuguesas à procura do seu lugar ao sol, mas também outras bandas internacionais que criam burburinho na cena underground.
Soft Grid, no Mercado Negro |
A partir daí, começaram-se a planear produções um pouco por todo o país e até em Espanha, provando que nunca foram de se limitar a uma perspectiva local ou regional. A abordagem, diz-nos, “é tipo os clubes de futebol que se prezam”, brinca. Na hora de contratar talentos, não se coíbem de sair da bolha eurocêntrica, procurando promessas nas Américas, em África e na Ásia, como os ugandenses pregadores do afrofuturism Nihiloxica, que vieram a Portugal pela mão da Tago Mago. “Crescer em Barcelos e rodeado pelo contexto do Milhões de Festa ou da Lovers & Lollypops (editora e promotora do Porto que tem os Killlimanjaro no catálogo) deu-me um pouco este vício de estar sempre a ouvir música, descobrir bandas ou ler sobre o que se vai fazendo por aí. Os Nihiloxica foram um exemplo desses e, sabendo que vinham à Europa, foi mandar uns mails, safar uma carrinha e fazer umas contas. Marcar tours é bastante mais complicado do que simplesmente descobrir uma banda antes de todos os outros, mas estamos a aprender”.
A aprender também estão os Cosmic Mass, uma das promessas do garage/psych rock em Portugal, se bem que Masquete não estava a contar das origens aveirenses da banda, “mas não era por maldade”, ri-se. Certo é que o quarteto se tornou na primeira banda sob alçada da Tago Mago, com concertos regulares num curto espaço de tempo e que os levou a festivais como À Porta em Leiria ou a partilhar palco com bandas como os alemães Mother Engine. “Curto bué a banda e o preconceito com eles serem de Aveiro prende-se com a minha mania de achar que conheço toda a gente que curte ou faz música. Não os conhecia, eles pediram ao Valentim [do GrETUA] para me mostrar a maqueta e pensei ‘foda-se, isto soa a Killimanjaro com Stone Dead! E são daqui de Aveiro!’. O espanto cedo se transformou em concertos, com a ideia de “pô-los a tocar o máximo e melhor possível” antes do lançamento do disco de estreia, marcado para o Outono.
Mas o mês não se fica por aqui. Novamente a desviar o foco do eurocentrismo, a tour da banda taiwanesa Sunset Rollercoaster que se prepara para a estreia depois de uma breve estadia na América. “O sudeste asiático tem ganho uma dinâmica interregional bastante própria, com bandas que saltam entre Singapura, Japão e Taiwan e volta e meia vão ali aos EUA antes de, posteriormente, vir à Europa. Os Sunset Rollercoaster soam-me a um Connan Mockasin reinventado e foi uma questão de aproveitar o tal salto que vão dar aos EUA para os trazer cá.” Uma bela descoberta que inicia um mês que culmina com a estreia dos brasileiros Boogarins em Aveiro, “um sonho antigo” que chega a 21 de outubro ao novíssimo Avenida Café-Concerto.
Em novembro, haverá nova edição do Kola Moka, desta feita com o novo formato de dois dias, e mais uma descoberta em formato de tour com os alemães Sea Moya e a vinda dos espanhóis Mujeres ao Mercado Negro, “um espaço vital para as bandas emergentes”- diz-nos. “O Mercado Negro recebeu uma avalanche de concertos neste último ano, quer venham de parte da Tago Mago, da Covil, dos ciclos Ressonância da VIC ou da promotora Certeza da Música. A Covil tornou aquele auditório digno de lhes chamares assim, e também é por isso que os estou sempre a chatear para marcar isto e aquilo. Portanto é de esperar que hajam mais concertos para além daqueles que aqui revelo.”
Chegado o mês de dezembro, está marcado o regresso dos anteriormente referidos Northwest (que tocaram na VIC em maio) para uma tour, e ainda outra edição do Kola Moka, que nas palavras de Masquete “vai ser mesmo alta moca desde o dia 28 de dezembro até à passagem de ano. Loucura!”. A Tago Mago continua assim determinada em ajudar a tornar Aveiro no epicentro cultural entre Porto e Lisboa, continuando a sua estreita colaboração com entidades de peso como o GrETUA, a VIC e o Avenida ao continuar a trazer nomes promissores tanto do espectro nacional como do internacional.