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ⓒ Jorge Silva |
No passado dia 29, o Hard Club no Porto, como acontece regularmente, foi o palco de mais um serão com lotação esgotada de música pesada a cargo dos YOB, em digressão no contexto do álbum mais recente Our Raw Heart, com a primeira parte a cargo dos belgas Wiegedood. A expetativa do público pelo regresso da banda de Oregon era elevada, pelo que se apressaram a entrar no recinto assim que as portas abriram por volta das 21h30.
A partir daí, os Wiegedood abriram as hostilidades com o seu black metal de cariz minimal e vagamente atmosférico, mas com ADN vincadamente tradicional. Sendo parte do reconhecido colectivo de música pesada Church of Ra (o mesmo que congloba bandas como Amenra, Oathbreaker, Hessian, entre outras), a banda não demorou até demonstrar a razão por merecerem lugar em tão prestigiada instituição. Esta ocasião serviu para os Wiegedood fazerem um showcase dos álbuns da sua autoria, todos intitulados De Doden Hebben Het Goed I, II e III, o que por sua vez deu azo a uma sessão de negrume áspero, frio e direto ao assunto, se bem que com os seus altos e baixos, num alinhamento que se destacou com alguns momentos pujantes como “De Doden Hebben Het Goed III”, “Cataract” e “Svanesang”. No geral, foram uma banda competente que cumpriu a missão que lhes foi incumbida, sendo bem sucedidos em aquecer as hostes para a atração principal.
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Wiegedood ⓒ Jorge Silva |
Por volta
das 22h50, era a vez dos veteranos YOB darem o ar da sua
graça e fazer jus ao seu estatuto de culto dentro dos cânones do doom metal. Com uma
audiência em pulgas para ouvir o cruzamento de doom, sludge e prog da banda de
Oregon, essa começou-se a ouvir com as duas primeiras faixas de Our Raw Heart,
“Ablaze” e “The Screen”, que conquistaram logo o
público e assentaram o ambiente para o que se avizinharia. A apoteose
assim continuou com uma faixa dos dias de The Illusion of Motion, “Ball
of Molten Lead”, dando seguimento a uma profusão de riffs que têm tanto de
fatídico como de complexo. De apontar que, a este ponto, a interação entre a
banda e o pública foi mínima – apenas o habitual “greetings”, a
descrição do propósito da banda estar ali, memórias de passagens anteriores por
cá -, mas isso só acentuou a experiência de YOB ao vivo, que se
revelou sem rodeios e apenas focado na música em si.
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YOB ⓒ Jorge Silva |
O concerto continuou com “The Lie that Is Sin”, discutivelmente a faixa mais sludgy do alinhamento, com um arranque difícil de digerir (no bom sentido) e que eventualmente deu lugar a uma investida sonora completa com riffs de índole épica e guturais de impor respeito. Após outra presença do novo álbum, o tema-título “Our Raw Heart”, com uma motivação geralmente mais melancólica, chega a penúltima faixa “Grasping Air”, com o feature do vocalista Levy da banda de abertura Wiegedood, que apenas intensificou a aura sufocante e petrificante com os seus vocais ríspidos. Para fechar o concerto, a banda invocou a faixa “Marrow” para uma miríade de instrumentação épica e celestial, que atingiu o público como que uma inacreditável aparição de um ser etéreo e discutivelmente o zénite do concerto todo, que assim acaba com um estrondo quase transcendental.
Texto: Ruben Leite
Fotos: Jorge Silva