Reportagem: Party Sleep Repeat [Oliva Creative Factory, São João da Madeira]

| Maio 14, 2019 11:01 pm
Go!Zilla
No passado dia 27 de abril regressamos à Oliva Creative Factory, São João da Madeira, para mais uma edição do festival Party Sleep Repeat. Com início em 2013, o festival é realizado em jeito de homenagem a Luís Lima, um jovem sanjoanense que nutria grande interesse pela música e por causas sociais, e a receita da sua bilheteira reverte a favor de causas sociais.

Chegando por volta das 19 horas e, infelizmente, após o término do concerto surpresa de Duquesa e Melquiades, dirigi-me ao palco terraço onde estava a terminar a atuação dos Galo Cant’às Duas com o tema “Mudo”. Apesar do curto contacto com a atuação da banda foi possível perceber a enorme química entre o duo e será, sem dúvida, um concerto que não irei perder, numa outra oportunidade.

Astrodome

A estrear o palco Alameda seguiram-se os Astrodome que têm como especialidade o stoner rock e heavy psych. O ano de 2018 marcou o lançamento do seu segundo longa duração e já tiveram oportunidade de o apresentar um pouco por toda a Europa. Um concerto que ficou marcado pelos seus loops hipnóticos, mudanças entre temas mais focados no stoner rock, para outros com maior foco nos sintetizadores e um público, infelizmente, ainda tímido e a meio gás. Ficou o sentimento de que o horário do concerto em nada o favoreceu, talvez, a certo ponto, até o tenha prejudicado. 

Jibóia
Ainda no mesmo palco, por volta das 20h30, subiram ao palco Jibóia, projeto a solo de Óscar Silva, mas em formato trio neste concerto. Já não ouvia falar deste projeto, provavelmente, desde 2016 aquando o lançamento Massala, quase desvanecido da minha memória, ou assim pensava eu até ouvir “Lisboa” ao vivo e relembrar sons que pensava estarem esquecidos, tornando-se mais presentes que nunca. Ao longo de uma hora o público presente foi encantado pela “dança hipnótica da Jibóia” e foram visitadas, essencialmente, as viagens sonoras do lançamento de 2016, cujo laivos de música do Médio Oriente origina a auto-descrição do seu género como “Prince of Persia on Acid”. Foi, no entanto, inevitável ouvir no meio do público “isto é fixe mas é demasiado repetitivo”, sem dar alguma razão à afirmação. 


Finalmente eram as 21h30,o que significava que em breves instante teria início o concerto do Conjunto Corona, uma das razões que me levaram ao Party Sleep Repeat. Este foi o primeiro conjunto pelo qual todos os presentes estavam ansiosos, e isso foi notório pelo facto de se terem aproximado mais do palco, deixando de existir o espaço enorme entre este e público. Era expectável que a banda se focasse no seu último disco, Santa Rita Lifestyle, o segundo melhor disco português de 2018 para a Threshold Magazine, e assim foi. Foi possível ouvir todos as faixas do disco, tendo até como convidado especial Fred&Barra, personagem do “Universo Corona”, na música “Eu Não Bebo Coca Cola Eu Snifo”. Não faltou o hidromel durante “Funk & Dopamina”, num concerto onde a maior parte do público trazia estudadas e decoradas as letras de todo o alinhamento.

Conjunto Corona
Terminado Santa Rita Lifestyle, houve outras passagens pela discografia, como por exemplo “Pacotes”, “Fruta da Ilha” e “Noite de Natal Em Cimo de Vila”, com participação de Alferes M. No fim do concerto dB (David Bruno ou ainda 4400 OG) referiu e fez questão em reforçar o pedido à organização do Party Sleep Repeat de escrever o dito “Adriano Malheiro caloteiro” no fragmento do muro de Berlim presente na Oliva Creative Factory. Regressando para o encore, ouviu-se “187 No Bloco” pela segunda vez naquela noite, desta vez, com um mosh mais intenso que nos outros temas e ao qual se juntaram o Homem Do Robe e Logos. Finalizado o que foi, provavelmente, o melhor concerto do festival, ficou o sentimento de que este se deveria ter prolongado sendo que pareceu ter acabado num ápice. Por muito que quisesse ver o concerto dos florentinos Go!Zilla, e esta foi já a minha 4ª oportunidade para os ver, estava sem energia, então aproveitei para ouvir a banda apenas ao longe e repor energias.

Glockenwise

Outro momento pelo qual ansiosamente esperava era o concerto dos Glockenwise com o seu novo álbum, Plástico, um dos meus discos nacionais preferidos do transato ano. Após a saída do baterista Cristiano Veloso, a banda apresenta-se com os habituais Nuno Rodrigues, Rafael Ferreira e Rui Fiusa, aos quais se juntam Julius Gabriel no saxofone, Cláudio Tavares na bateria e João Sarnadas (Coelho Radioativo) nas vozes de apoio, sintetizadores e guitarra. Envergando os habituais fatos azuis, começaram com uma versão “slowed down” e caótica de “Sempre Assim”, antes de seguirem com o novo disco na íntegra. Foi com esta nova cara que a banda se apresentou sem fazer qualquer passagem pela anterior discografia. Plástico é possivelmente a melhor fase de Glockenwise, porém perde parte da sua imponência e até compreensão num espaço amplo como o palco Fornos, em oposição ao Passos Manuel na semana seguinte. Longe vão os tempos das malhas rock a fugir para o punk e em que as interações de Nuno Rodrigues com o público eram, maioritariamente, fazendo troça de Rafael Ferreira


Um dos concertos mais esperados da noite era por parte do “cabeça de cartaz” (se é que se pode destacar ou foi destacado um), Dead Combo. Mais uma banda a apresentar-se com uma nova roupagem, neste caso, em jeito de apresentação de Odeon Hotel com contrabaixo, saxofone e bateria como instrumentos adicionais às habituais guitarras. Estas novas adições foram uma mais valia pois adicionaram toda uma nova profundidade e nova abordagem à discografia de Dead Combo em oposição à abordagem “clássica”, que por vezes já se mostrava datada ao fim de mais de 15 anos. A fechar o concerto não faltou o tema mais esperado pelo público, “Lisboa Mulata”.


Dead Combo


O encerramento da edição de 2019 do festival coube aos The Parkinsons, numa performance que inicialmente pareceu um pouco forçada e sem grande resposta por parte do público, porém um “vieram ver um concerto ou veio tudo ao teatro” por parte de Afonso Pinto quebrou o gelo e, a partir daí, começaram os incessantes moshes até ao término do concerto com “City Of Nothing”.






Fotografia: Pedro Pereira
FacebookTwitter