Os Stereo Total começaram a fazer música antes da internet existir, antes do Euro, antes da Alemanha se reunir e antes ainda de haver bandas ou músicas. O grupo é composto por Françoise Cactus, que passa o seu tempo como apresentadora de rádio, autora e artista entre as sessões da banda, e Brezel Göring, um homem cuja escolha do nome artístico foi motivada pelo desejo de não ser levado a sério pela música e pelos escribas.
Quando começaram a fazer música juntos, tinham como missão romper as regras, desestabilizar as ideias. Eles podem não ter deitado fora a estrutura harmónica europeia ou o tempo 4/4, mas fizeram certamente perguntas sobre todos os outros aspectos das técnicas musicais e líricas. Stereo Total continuam a fazer música eletrónica com os sons de um Casio da feira em segunda mão, que voam em face do que geralmente é aceite como música eletrónica. Continuam também a tocar rock de garagem lo-fi, que goza com todos os clichés masculinos associados às guitarras. Quando Françoise Cactus toca bateria, os ritmos do feminismo, anti-profissionalismo e diletantismo subversivo vêm à tona.
Musicalmente, Ah! Quel cinéma!, décimo segundo disco editado pelos Stereo Total em julho pelas mãos da Tapete Records, não pode ser facilmente alinhado com qualquer coisa. Se álbuns anteriores ressoaram com influências de chanson, trash, punk, rock’n’roll e NDW (New Wave alemão), os Stereo Total chegaram agora com o seu próprio universo musical que não dá atenção a dispositivos estilísticos.
Françoise Cactus destaca-se na arte da gravação de 8 faixas, criando uma experiência sonora extraordinária. Brezel Göring baseia-se na sua gama preferida de instrumentos mais propensos a serem encontrados nas mãos de crianças em lares onde uma educação musical não está na agenda: órgão de plástico para bebés e um piano terrível, acompanhado por guitarras caseiras coladas, não por artesãos talentosos.
Temas como lesões pessoais (“Ich bin cool”), traição (“Mes copines”), deficiências de personalidade provocadas pelo abuso de drogas (“Methedrine”), raiva (“Hass-Satellit”) opiniões inflamadas de si próprio (“Brezel says”), suicídio (“Le Spleen”), luto (“Dancing with a memory”) e almas atormentadas (“Elektroschocktherapie”) são apresentados em formato panorâmico e, muitas vezes, da forma mais divertida possível.