7 ao mês com Regulator Records

| Outubro 15, 2019 9:15 pm

O convidado do mês de outubro para a nossa rubrica mensal 7 ao mês – e a primeira editora portuguesa a assinar a sua participação aqui – é a renascida Regulator Records, que se apresenta em nome próprio da seguinte forma:

A Regulator Records nasceu em 2005. Eu, o Ricardo Martins (vocalista de Day of the Dead) e o Rui Mata (baixista de The Vicious Five) tínhamos trocado umas ideias sobre fazer uma editora porque queríamos lançar as músicas de Sannyasin (ex-X-Acto) e avançámos com a ideia. Começou com o propósito de lançar os nossos projetos e os projecos dos nossos amigos, independentemente da sonoridade dos mesmos. Sem muros, barreiras ou limitações artísticas. O modus operandi mantém-se, independentemente das sonoridades ou do potencial comercial dos projetos. Se os primeiros três lançamentos estão próximos do contexto e estética punk-hardcore, entretanto já editámos sonoridades bastantes heterogéneas que vão da eletrónica/industrial, crust, post-metal à musica alternativa. Depois do lançarmos o 7” dos The Youths suspendemos a atividade da Regulator e em 2017, a possibilidade de editar o Natureza Morta do Ricardo Remédio reativou a editora. Neste momento faço a gestão da editora com o Ricardo Remédio, que é o administrador não executivo (risos).


Este conceito de paixão pela música, independentemente do sucesso comercial das bandas que o selo assina, levou-nos a querer saber mais sobre as principais influências que afincaram a personalidade da Regulator Records no mercado da música. Para esse fim convidámos João Vairinhos (o administrador executivo que nos redigiu o texto de apresentação) a escolher e escrever-nos a história de 7 editoras/bandas/álbuns ou singles que de alguma forma impactaram o trabalho da editora. Aproveitem para conhecer mais de perto a Regulator Records, ouvindo e lendo as sete recomendações abaixo.


Dischord Records | Teen Idles – “Sneakers” (1980) 

A Dischord foi e continua a ser a principal referência da Regulator Records enquanto editora. É uma editora independente que lançou discos fundamentais para qualquer fã de punk-hardcore (Teen Idles, Minor Threat, Void, The Faith, a compilação Flex Your Head etc.). Começou com um grupo de miúdos a fazerem aquilo que queriam e como queriam, e reza a lenda que não assinam contratos com as bandas e que tentaram ser comprados por editoras major durante os anos 90, mas que recusaram sempre esse passo. Não tenho quaisquer problemas com editoras que entram na esfera mais mainstream, no entanto percebo perfeitamente a posição daquelas que querem manter a sua identidade e uma forma de trabalhar totalmente independente. A Dischord não se limitou a lançar apenas uma sonoridade punk-hardcore e o seu catálogo evoluiu à medida que os anos foram passando, muito por culpa da própria evolução das bandas dos seus fundadores. Depois dos Teen Idles e Minor Threat, o Ian Mackaye teve os Embrace e os Fugazi, sendo os últimos uma das grandes referências da música alternativa. Quem tiver interesse em conhecer melhor a Dischord pode procurar a compilação do seu 20º aniversário (um duplo CD com um booklet incrível que documenta a história da editora). 




Revelation Records | The Judas Factor – “The Last Song” (1999) 

O catálogo da Revelation Records é uma instituição e uma autêntica enciclopédia de projetos de hardcore e outros géneros relacionados com o mesmo. Como todas as editoras que vão ser referidas, tem um catálogo heterogéneo e foi evoluindo ao longo dos anos, no entanto, continua a editar bandas de hardcore novas com grande qualidade como os TORSO. Podia escolher dezenas de músicas que são clássicos e que fazem parte de discos editados pela Revelation. Bandas de hardcore como Sick of it All, Gorilla Biscuits, Youth of Today, CIV, bandas de indie/emo como Texas is the Reason, Elliot ou bandas da nova escola de hardcore como os Morning Again ou Shai Hulud, no entanto escolho uma música de um disco que já pus a tocar milhares de vezes e que é certamente um nome que passa despercebido porque não teve grande destaque, pelo menos por cá. 




Ipecac Records | Daughters – “Satan In The Wait” (2018)

O Mike Patton sempre foi um músico que me intrigou, quer pelo seu talento, quer pela loucura de ter tantos projetos com estéticas e linguagens musicais tão diferentes. A Ipecac espelha a desarrumação que deve ir naquela cabeça, e é este tipo de desarrumação que pretendemos para a Regulator: ausência total de regras no que diz respeito às sonoridades a editar. Como em todas as editoras referidas, a maior dificuldade é escolher uma música e a Ipecac não é exceção: Fantomas, Melvins, Isis. Para não estar preso ao passado, escolho uma das músicas que oiço frequentemente, incluída num disco ao qual é impossível ficar indiferente. 




Neurot Records | Neurosis – “I Can See You” (2004) 

A Neurot é uma editora independente formada por membros de Neurosis. Para além dos lançamentos dos projetos dos seus fundadores, edita bandas com personalidade e com impacto inegável no contexto mais alternativo, como é o caso dos recentemente adicionados Deafkids. Há uns anos atrás, para quem gostava de comprar discos, uma das grandes vantagens de fazer tours, ou de ser roadie de outras bandas, era poder comprar os discos novos em lojas ou em concertos, antes dos mesmos ficarem disponíveis em Portugal. Comprei o Eye of Every Storm dos Neurosis no ano em que saiu quando fui com os Vicious Five ao Saint Feliu. Lembro-me que na altura este disco dividia opiniões porque tem uma componente menos furiosa habitualmente característica dos Neurosis (chegaram a dizer-me que era música de elevador). Não foi amor à primeira audição, mas insisti e é dos discos que mais gosto a par do Times of Grace e do A Sun That Never Sets. Foi também este disco que me chamou a atenção para o trabalho da Neurot




raster-media | Belief Defect – “No Future” (2017) 

Nos últimos tempos tenho consumido muita música com uma forte componente eletrónica. Esse facto fez com que passasse a valorizar o trabalho de algumas editoras com uma abordagem mais erudita e mais ligadas a soundesign e artes visuais. Juntamente com os Pact Infernal, os Belief Defect são a banda de música eletrónica que mais oiço hoje em dia porque, no meu entender, conseguem dar um peso quase apocalíptico aos ambientes que criam em cada música. A partir dos Belief Defect, cheguei a editoras como a raster-media e adorei o seu conceito e as autênticas obras de arte que produzem. 




Sannyasin – “Nailwork” (2005) 

Os X-Acto, e posteriormente os Sannyasin, foram e serão eternamente uma das referências do punk-hardcore português. Como seria de esperar de um (pré)adolescente, à primeira audição senti empatia imediata, quer pela sonoridade que praticavam, quer pela mensagem direta e, por vezes até chocante, que procuravam passar. Temos de ter em consideração que ter letras sobre vegetarianismo (por exemplo) tinham um impacto bastante diferente há 20 anos atrás. Fui apresentado aos X-Acto com treze/catorze anos com o split com Inkisição, e tive oportunidade de ver um dos primeiros concertos de Sannyasin numa das famosas matinés do Ritz Club. Obviamente nessa altura nunca pensei ter oportunidade de lançar um disco deles e o facto de ter acontecido é e será um marco fundamental para a Regulator.




Ricardo Remédio – “Banquete” (2017) 

A edição do Natureza Morta do Ricardo Remédio em 2017 foi o pretexto para ressuscitarmos a editora. Sou fã do trabalho do Ricardo Remédio desde que tive oportunidade de tocar com ele quando fundámos os LÖBO, adorei o projeto dele a solo RA e assim que ouvi o Natureza Morta, pensei que era uma pena um trabalho daquela qualidade não ter um lançamento para além da edição das pen’s com a caveira em 3D. Optámos por fazer duas edições em cassete e digipack e acabei por ter o privilégio de poder tocar aquelas músicas ao vivo com o Ricardo em alguns concertos de apresentação em Portugal e Espanha. Pode ser que saia um dia em vinil também, quem sabe? 




Aproveitem para acompanhar todas as novidades da Regulator Records via Facebook ou Instagram e ouvir/comprar os discos através do Bandcamp da editora.
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