Mick Harvey recordou e revisitou Serge Gainsbourg na Casa da Música

| Novembro 14, 2019 4:42 pm

Foi em janeiro 2017 (mais vale
tarde que nunca) que tive o primeiro contacto com o trabalho a solo de Mick
Harvey
com o disco Intoxicated Woman, o seu 4º e último volume da
coleção de traduções e reinterpretações de Serge Gainsbourg (que à data eu
também desconhecia). Conhecia apenas o seu excelente trabalho com Nick Cave
& The Bad Seeds
e a sua participação, no ano anterior, no disco
excelente disco da PJ Harvey, The Hope Six Demolition Project, e
pareceu-me um excelente momento para conhecer este músico. O resultado foi um
dos meus discos preferidos desse ano com alguns temas como “The Homely Little
Ones”, “Eyes To Cry” e “Puppet Of Wax, Puppet Of Song” que me fascinaram
imediatamente.

 Em 2019, Mick Harvey era um músico que
eu não esperava ver ao vivo, porém, a tour Mick Harvey plays Serge Gainsbourg
fez uma paragem pelo Porto pelas mãos da House Of Fun num concerto
obrigatório. Mick Harvey é um músico extraordinário e rodeia-se dos
melhores na enorme banda constituída por James Johnston, Toby Dammit,
Yoyo Röhm, JP Shilo e Xanthe Waite (sobrinha de Mick),
alguns dos quais antigos membros de Nick Cave & The Bad Seeds e da
banda de PJ Harvey.

O concerto teve início com uma
pequena introdução do músico protagonista da noite explicando que, numa
primeira parte, os músicos do quarteto de cordas iriam apenas observar e
posteriormente participariam em algumas músicas. Ouviu-se, então, “Requiem (Requiem
Pour Un Con)” a primeira amostra do talento dos músicos em palco que homenageiam
da melhor maneira Serge Gainsbourg através da reinterpretação e tradução
dos seus temas. Durante “The Barrel Of My 45 (Quand Mon 6.35 Me Fait Les Yeux Doux)
subiu ao palco Xanthe Waite, neste tema, como guitarrista e vocais no
seguinte, “69 Year Of Love (69 Année Érotique), abandonando o palco para
reaparecer esporadicamente em temas que requerem uma voz feminina. Entre grande
parte das canções Mick Harvey faz questão em dar um ar da sua graça
mostrando um à vontade tremendo (fruto de 40 anos de palco) e um sentido de
humor apurado.

Uma das canções que eu mais
queria ouvir foi anunciada pelo australiano como sendo “a canção vencedora da
eurovisão 1964, pelo Luxemburgo…mas numa versão um pouco diferente” e, assim,
voltou Xanthe Waite para interpretar “Puppet Of Wax, Puppet Of Song (Poupée
de Cire, Poupée de Son)” tema originalmente interpretado por France Gall
e cantado pela sobrinha de Mick, também, no disco Intoxicated Woman.
Em alguns temas, como por exemplo, “Coffee Colour (Coleur Cofe)” Xanthe
foi acompanhada por uma segunda voz feminina.

Entre clássicos como “Bonnie and
Clyde”, “Dedly Tedium (Ce Mortel Ennui)” e “Harley Davidson”, a banda, tocou 19
canções apresentando “Inicials B.B.” como o fim do espetáculo numa performance
que faz jus à imponência do tema. Com alguma insistência do público, assim como
alguma dispersão, houve um regresso para encore sem o quarteto de cordas. A
revisita à obra do francês por parte de Mick Harvey terminou, então, com
mais três canções, “Scenic Railway”, “Contact” e “J’Envisage” de Alain
Bashung
. Pouco depois do final do concerto o protagonista da noite aproveitou
para partilhar umas palavras com os seus fãs e assinar discos com a maior
simpatia possível.

Os temas do homenageado Serge
Gainsbourg
, mesmo traduzidos para inglês, mantêm a sua alma e são facilmente
reconhecidos por quem apenas conhece as versões originais. Todos os músicos em palco
demonstraram grande experiência e proporcionaram um excelente serão com um
concerto imperdível. O humor e comunicação de Mick, embora não fossem
algo essencial, ajudaram ao bem-estar geral e felicidade de toda a sala e
ajudaram a cimentar este concerto como um dos melhores que assisti neste ano.




Texto: Francisco Lobo de Ávila 
Fotografia: Edu Silva
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