7 ao mês com ∩ (intersectiō)

| Novembro 15, 2020 11:48 pm

7 ao mês com ∩ (intersectiō)



∩ (intersectiō) deu-se a conhecer ao mundo o ano passado através do EP PURGA, uma produção eletrónica com forte componente artística, a juntar não só as linhas digitais da música mas toda a estética palpável através do lançamento conjunto com oito fotografias no formato analógico. A história de PURGA não ficaria cingida contudo a 2019, pelo que neste 2020 voltou a receber uma versão dedicada no formato livreto de 16 páginas, numa edição limitada a 25 edições cujas últimas cópias poderão ser adquiridas aqui.

Ainda nas vibes dos seus exercícios sonoros – altamente criativos e com grande foco no formato visual – decidimos convidar o Ricardo Nogueira Fernandes, mentor do projeto ∩ (intersectiō) a participar na edição de novembro da nossa rubrica mensal 7 a mês, para nos ajudar a decifrar sete nomes no panorama da música que tiveram uma ampla influência não só no seu trabalho como produtor, mas igualmente na formação de alguns traços como pessoa. Os discos podem agora encontrar-se abaixo, e seguem acompanhados das palavras do produtor num exercício que explica as raízes da ação.

Um processo que tem o seu quê de ingrato por deixar de parte uns tantos quantos discos. Tentei então fazer uma seleção de álbuns que me influenciaram quer ao nível musical quer ao nível pessoal. E, como as duas dimensões se cruzam é, em parte, um testemunho do que sou. 

 

DJ Shadow – Endtroducing (1996) 

O Endtroducing foi uma escola de aprendizagem das técnicas de produção com base em sampling numa altura em que o acesso a informação técnica sobre o assunto não se encontrava tão disponível como hoje em dia, seja pelo Youtube seja pelo belíssimo portal que é o WhoSampled. Foi também um meio de acesso a um universo de produção de instrumentais que ia muito além das balizas estilísticas dos beats de hip hop, quer na estrutura da composição quer nas fontes sonoras, mas também na exímia comunicação quase não verbal de certas temáticas. 


Jaylib – Champion Sound (2003) 

Este álbum, além de me ter dado a conhecer o trabalho do J Dilla, foi o próximo nível do impacto que a editora Anticon tinha tido na minha formação musical. A perceção de que era possível, recorrendo sensivelmente às mesmas fontes de sampling e máquinas dos beatmakers de boombap, criar algo que coloca em causa muitas certezas dentro da produção de hip hop. Era como se o Coltrane tivesse pegado numa MPC e numa SP-12 e tivesse começado a estilhaçar todos os alicerces.

The Velvet Underground & Nico – The Velvet Underground & Nico (1967) 

Para mim é dos álbuns mais importantes da história do rock. A aparente candura da melodia e da voz da Nico contrasta com o ruído que surge inesperadamente e com as letras de temas marginais. Diria que é um equilíbrio entre uma sólida escola clássica de rock com uma necessidade de experimentalismo. Nesse sentido ter-me-á levado a conhecer Sonic Youth, que também mergulham incessantemente num caos controlado. Este disco também salienta a importância do álbum como peça artística, como um todo, com uma coerência sonora, estilística e estética. 


Tim Hecker – Virgins (2013) 

O Virgins foi a introdução a um tipo de eletrónica que desconhecia à altura. O processo de composição por edição destrutiva, loops cuja perceção do fim e início se esbatem pela sua aleatoriedade e uma estrutura livre foram pontos que influenciaram de forma determinante o meu trabalho e que me levou a outros como o William Basinski, The Caretaker, Lawrence English ou mesmo Éliane Radigue. A familiaridade dos instrumentos reconhecíveis contrasta com a estrutura desconcertante das composições. 


Altar of Plagues – Teethed Glory and Injury (2013) 

Numa Amplitalk do Amplifest, James Kelly referia que os vocais em registo gutural são gratuitos caso não sejam para expressar sentimentos de dor ou condição social desfavorável. Este é um álbum bastante emocional, de emoções extremas, e usa, sem preconceitos estilísticos, as ferramentas necessárias para atingir esse fim. Apesar de ter uma base identificável de black metal, a introdução de elementos dissonantes, drones, entre outros recursos da eletrónica, é um enriquecimento e não um mero adorno na transmissão destes estados dilacerantes.

Arca – Arca (2017) 

Este álbum foi basilar na minha perceção e aceitação da minha fragilidade. Ver um homem (à data) colocar-se numa posição de tal vulnerabilidade foi inspirador e fortificante. Deu-me um certo alento e segurança no processo de aceitar que o meu EP teria voz, com letras bastantes íntimas, e que a persona seria um meio de explorar uma sonoridade e sinceridade extremas. Apesar de os álbuns da Arca não serem facilmente comparáveis entre si, este é sem dúvida uma charneira no trabalho dela. A verbalização adicionada ao cariz experimental da produção traz mais uma camada. 


IDLES – Joy as an Act of Resistance (2018) 

O título é quase auto-explicativo. À semelhança do Brutalism, é um álbum bastante frontal e sincero. Trata-se quase de um manifesto de clarificação de que todas as questões são políticas por mais íntimas que possam parecer à primeira vista. Isto com uma base sonora densa mas ao mesmo tempo dançável e contagiante. Desde o tratamento dos temas mais clássicos como a questão classista, os meios de comunicação ou a imigração, aos que contêm uma dimensão mais pessoal, mas intrinsecamente politizada, como a masculinidade tóxica ou relações interpessoais.


Se quiserem saber mais sobre o  (intersectiō) aproveitem para o seguir através da sua página de Facebook ou pela plataforma Bandcamp, onde podem comprar o seu trabalho.

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