Editado na passada quinta-feira pela Saliva Diva, Isolamento Voluntário? é o novo disco de Daniel Catarino, mas não estava pensado para o ser. As canções foram surgindo quase como diário cronológico do autor alentejano durante a pandemia, com o intuito de escamotear os momentos em que cada uma delas sentiu necessidade de nascer.
“Não tenho mais medo de morrer do que ontem” e “Um cruzeiro sem embarque” abordam dúvidas e receios do início do confinamento, “Candidatura” e “Coração Muito Estreito de Gibraltar” são olhares preocupados com a sobrevivência e a liberdade. “Conversa de Cama / Bom Dia”, que é lançada em simultâneo com o disco, resume a esperança e o delírio que se instalaram desde março de 2020. Ao desaguar no caos, este final tanto é epílogo do ontem como prólogo do amanhã.
Se em Sangue Quente Sangue Frio se destacavam os instrumentos acústicos, em Isolamento Voluntário? entramos no campo de um indie rock que pisca o olho ao psicadelismo e à música de intervenção. A isto não são indiferentes as participações do disco: Nuno Markl, Inês Barbosa, Pedro Pestana (10 000 Russos, Tren Go! Sound System), João Baião (Amanita Ponderosa), Joel Fausto (Omitir), Xinês (Awaiting The Vultures), Rapaz Improvisado e Eddie Santos emprestaram à distância as suas vozes e talentos a estas canções em que, à imagem dos trabalhos anteriores, Daniel Catarino usa as palavras para traçar retratos poéticos e viscerais.