É no mês transitório de setembro que nos despedimos do verão e saudamos a edição de 2022 do MIL – Lisbon Internacional Music Network. O festival acontece já nos dias 28, 29 e 30 de setembro no Cais do Sodré. Reconhecido como uma plataforma baseada na experiência do concerto e do colóquio para a descoberta e para a visibilidade da música popular atual, a premissa da sexta edição do MIL “Descobre Enquanto é Segredo” procura, mais uma vez, desvendar novos projetos e artistas emergentes.
No panorama nacional, destacamos a jovem minhota chica, cujo EP Cada Qual no seu Buraco, produzido por Luís Severo e gravado entre o Minho e Lisboa entre 2020 e 2022, nos fala sobre a banalidade da vida e a dificuldade em ser-se adulto – e agir como tal – e nos encantou quer pela sua voz melódica quer pelos arranjos jazz nos seus temas. Quem também parece ter muito para dar são os Conferência Inferno: desde a sua estreia em 2019 com o EP Bazar Esotérico até ao mais recente lançamento Ata Saturna pela Lovers & Lollypops, o trio portuense, adepto da spoken word, parece ora influenciado pela música dos anos 80, bebendo da inspiração de New Order ou de Soft Cell, ora influenciado pela cena portuguesa e pela atitude punk disruptiva de projetos como Vaiapraia, o que torna a sua sonoridade peculiar e bastante atrativa. No panorama internacional temos Neï, conhecida pelo nome artístico Bikôkô, natural de Barcelona. Com apenas vinte anos de idade, produziu o seu EP Aura Aura em 2021, influenciado pela música africana e R&B (cita Erykah Badu e D’Angelo como referências basilares para a criação do seu processo musical). O trabalho da jovem artista já foi ouvido na mais recente edição do Primavera Sound em Barcelona e no MadCool em Madrid, estreando-se agora no MIL para o público português. Ainda em registo hispânico e oriunda de Guatemala, a violoncelista e cantora Mabe Fratti também marcará a sua presença: a música latina estreou-se em 2020 e conta já com três álbuns pela editora britânica Unheard of Hope, onde Será que ahora podremos entendernos se destaca tanto pela sua beleza etérea como pela sua preocupação com a comunicação enquanto problemática e como fazer uso da linguagem com o outro.
A atriz, cantora e compositora francesa SUN mistura a pop convencional com o metal (quando faz uso do screamo) e a sua música expõe a violência de emoções como o amor ou o luto. Em setembro do ano passado ganhou o prémio FAIR – o mais importante prémio francês de música Rock e Pop emergente – graças ao seu EP Brutal Pop lançado em 2019. Também de França nos chega o duo Charlotte Fever (na foto), composto por Cassandra Hettinger (vocalista, sintetizadores) e Alexandre Mielczarek (vocalista, guitarrista e sintetizadores), que se lançou no mundo da música em 2018 com o seu EP homónimo, editando mais tarde, em 2021, o EP Erótico, o qual sonorizou a série da Netflix “Emily in Paris”. A música do grupo francês é reveladora do cruzamento entre a sensualidade e a pop soalheira, o que cativa o público da pop alternativa. Durante o festival ainda poderemos ver as atuações de artistas como Anger, As Docinhas, Avalanche Kaito, Bebé, Bedouin Burger, Blck Mamba, Bleid, Brava, Cassete Pirata, Celso, Clara!, David Sabbag, Evaya, Filipe Karlsson, Filipe Sambado, Flying Moon in Space, Hércules, Hinako Omori, Insolito Universo, Iolanda, Isabel do Diego, Jacuzzi Gang, João Não & Lil Noon, Julián Mayorga, Kriol, L’Homme Statue, Lewis OfMan, Lil Ella, Los Yolos, Mainline Magic Orchestra, Marta Knight, Meskerem Mees, Mílian, Prétu, Puta da Silva, Reinel Bakole, Roseboy666, Rosie Alena, Sereias, Sfistikated, Soluna, Sónia Trópicos, Tomás Wallenstein, Trypas Corassão, Tukan e Verde Prato.
Como é já hábito, para além dos concertos que preenchem os três dias do festival lisboeta, o MIL contará com a convenção internacional de música que promove a valorização e a divulgação da música popular atual, com o objetivo de a internacionalizar. O programa da Convenção conta com várias masterclasses, debates e workshops relacionados com o setor da cultura e da música, onde vários profissionais da cultura de todo o mundo participarão para discutir o futuro da música. Os oradores irão refletir sobre diferentes problemáticas como a acessibilidade, a ética, a sustentabilidade e a economia noturna, bem como as diferentes estratégias e políticas culturais a utilizar na indústria musical na esperança de tornar o setor mais diversificado e inclusivo, preocupado com a questão da identidade. A Convenção decorre no Hub Creativo do Beato ao longo do dia e destaca-se como ferramenta de internacionalização, cujo espaço serve para dialogar e refletir de forma crítica sobre o atual panorama musical, procurando soluções para os seus desafios, de forma democrática.
O programa já se encontra disponível e pode ser consultado aqui.
Texto redigido por Catarina Fernandes
Fotografia por Kevin Blain