Youth Yard na Socorro: é no potencial do presente que se vislumbra a promessa do futuro

Youth Yard na Socorro: é no potencial do presente que se vislumbra a promessa do futuro

| Março 17, 2024 6:05 pm

Youth Yard na Socorro: é no potencial do presente que se vislumbra a promessa do futuro

| Março 17, 2024 6:05 pm

A matiné de março da Saliva Diva na Socorro fez-se na companhia dos vianenses Youth Yard, jovem banda que neste serão de segunda-feira mostrou ser uma proposta altamente promissora. Entre um indie de natureza punkish e um blues rock (com vibes de surf rock pelo meio) bem escorrido, instalaram uma atmosfera cativante, que tanto se alimentou do rasgo de energia pura como de melodias delicadas, soando muitas vezes à banda sonora de uma noite boémia em regime de intimidade urbana. Nesse sentido, pode-se mesmo afirmar que o local escolhido só os beneficiou, pois espalhou a mesma energia e descontração que a música do coletivo e contribuiu assim para uma postura mais solta e espontânea.

Musicalmente há arestas por limar, no sentido de ainda os sentirmos algo incertos em relação ao caminho a percorrer, e porque as composições nem sempre parecem estar todas ao mesmo nível. Por exemplo, “Kash”, retirada do mais recente EP Straight to the Point, é uma faixa esplêndida, um hino indie punkish suculento de uma vitalidade luminosa que faria com que os Mannequin Pussy se rendessem a esta malha (comparação mais do que apropriada, já que os Youth Yard estavam para abrir o concerto deles em novembro passado, no Maus Hábitos, antes de a tour ser cancelada), sendo que “Slow Drivers”, com os seus ambientes cinemáticos de sedução misteriosa alicerçados num refrão bem catchy (meio a piscar o olho aos Blood Red Shoes), também convenceu. Por outro lado, uma música como “Trashin’ Bars”, apoiada em guitarradas orgulhosamente bluesy e na voz de Gonçalo, soou agradável aos ouvidos sem realmente maravilhar, e é nessas alturas que nos sentimos a assistir a dois concertos diferentes em simultâneo: o de uma banda a rebentar de potencial e outro simplesmente competente. Efetivamente, Katie acaba por se afirmar como a vocalista ideal para o grupo, sobretudo por ter um timbre perfeito para este som e ser naturalmente carismática em palco.

Contudo, a sensação é de que isto são só pormenores que com o tempo serão resolvidos, pois estaríamos a mentir se disséssemos que esta sessão não foi bem divertida. Até pelo ambiente de intimidade calorosa do qual beneficiaram, e pela atitude punk que já identificávamos como um grito abafado a querer sair com veemência e que posteriormente se notou mais, com Katie a berrar junto do público ou mesmo a baixista Hanna a tocar com uma garra palpável.

E é neste tom a abraçar a intensidade – musical e emocional, os dois aqui são indissociáveis – que vemos os Youth Yard ganhar fulgor. Ainda não estão “no ponto”, é certo, mas para lá caminham com uma confiança contagiante e uma alma inabalável. No fim, o público presente berrou por um encore, o que forçou a banda a regressar e a repetir uma das músicas, interpretada aqui com possivelmente o dobro da paixão. Seguiram-se mais pedidos por um segundo encore, mas já não havia mais nada para oferecer… A certeza, no entanto, é de que esta aventura inocente tem tudo para se tornar fulgurante e gloriosa. Juntemo-nos então a eles, no entusiasmo do que ainda está por vir.

Texto: Jorge Alves
Fotografia: Inês Leal

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