Já está disponível para audição Ouro, o novo trabalho de João Alegria. Editado pela Harmonic Ooze Records, etiqueta de Tucson, no Arizona, comandada por Cecyl Ruehlen, Ouro contém 15 faixas, todas integralmente concebidas, compostas e tocadas pelo guitarrista lisboeta.
Ouro, disponível em formato físico (CD) e digital, marca outro momento importante na extensa discografia do guitarrista português, especialmente por fazer a ponte estética entre as composições curtas e melódicas dos primeiros anos de carreira e as formas longas e ambientais das suas fases intermédias e finais.
Para a criação deste trabalho, Alegria recorreu a uma multiplicidade de efeitos, objetos — como o arco — com que toca guitarra, e ao “corta-e-cose” da edição e experimentação digital. Além disso, field recordings, amplamente ausentes nos seus trabalhos mais emblemáticos, voltam a surgir neste álbum, mais um na conta pessoal de um músico cuja resiliência, compromisso e criatividade parecem não ter limites.
Com uma carreira que se estende ao longo de mais de uma década e uma discografia com mais de 30 títulos – inteiramente disponível para escuta no Bandcamp –, Alegria tem evoluído a sua música com naturalidade, sem nunca deixar de habitar as geografias sónicas da improvisação, experimentação, música ambiente e música concreta. Desde as composições curtas e de melodias suaves que caracterizaram primeiros títulos como VI, a música do guitarrista tem progressivamente assumido contornos mais sombrios, desenhados com drones circulares e texturas envolventes. XXVII, registo que o experimentador português reeditou em 2023 através da sua Veia Records, é um exemplo paradigmático desta fase artística, marcada por formas composicionais longas, atmosferas densas e gradações microtonais.
Em 2021, ano em que celebrou 10 anos de carreira, João Alegria lançou Vertical, álbum triplo de cariz antológico, editado pela chancela portuguesa combustão lenta records, cuja música é uma das melhores introduções às ideias sonoras do músico.
Texto: João Morado