Sonic Blast 2025: antevisão da 13ª edição

Sonic Blast 2025: antevisão da 13ª edição

| Agosto 3, 2025 10:07 pm

Sonic Blast 2025: antevisão da 13ª edição

| Agosto 3, 2025 10:07 pm

Todos os anos, Vila Praia de Âncora – uma pacata vila perto de Viana do Castelo, à beira-mar – é invadida por metaleiros, stoners e afins. O ar adensa-se e torna-se quase irrespirável, as tendas amontoam-se umas em cima das outras, formando uma pequena e estranha metrópole de barbudos, alternos e “satânicos” – onde reina sempre a boa disposição e o companheirismo – e todos aguardam o início de um dos mais únicos festivais de música do ano. Sonic Blast

Algo de indescritível começa a acontecer. Ouve-se num sussurro: “What is this that stands before me?”. A atmosfera é irresistível, e como é óbvio, deixamo-nos levar.

Na última década, o Sonic Blast afirmou-se como um dos festivais mais imperdíveis em Portugal, e uma das referências nos géneros de stoner rock e doom metal a nível europeu, sem deixar de incluir uma grande variedade de artistas e géneros adjacentes. É um festival que, embora tenha uma estética única e muito identificável, se recusa a ser resumido a apenas um ou dois tipos de música, e que todos os anos apresenta um cartaz invejável. Este ano não é exceção.

Para além dos nomes mais óbvios do cartaz, há múltiplas bandas de menor popularidade que se vão apresentar na Praia do Caldeirão e são igualmente merecedoras de atenção. É nessas bandas que nos vamos focar agora.

Gnome

Começamos a lista com a banda que será a grande surpresa para muitos nesta edição. Os belgas Gnome não são, seguramente, um dos maiores nomes no cartaz, mas prometem ser um dos melhores concertos do festival. Embora pertençam a um género de música onde os artistas se levam demasiado a sério com alguma frequência, os Gnome são, acima de tudo, uma banda divertida. Com letras muito simples e até cómicas (como “Old Soul” e “Duke of Disgrace”), que misturam temas de fantasia clássica com a realidade do dia a dia, acompanhadas de melodias de guitarra absolutamente viciantes, prometem ser um dos pontos altos do festival. MAQUINA

Os MAQUINA serão conhecidos por muitos dos portugueses no festival, dada a sua onda de popularidade nos últimos anos – que incluiu uma presença no festival do ano passado, considerado por muitos o melhor concerto da edição de 2024. Essa popularidade tem motivos. O trio lisboeta, que tem tocado em todos os pontos do país – em alguns deles, múltiplas vezes por ano – enfeitiça com os seus ritmos repetitivos e hipnóticos, mistura de kraut, techno, industrial e disco. É música de discoteca para metalheads, absolutamente única e eletrizante. Não há que enganar. Sunflowers

Uma das inclusões mais surpreendentes, mas talvez mais merecedoras desta edição, será a dos portuenses Sunflowers, que celebraram em outubro do ano passado 10 anos de revolução sonora no underground português. É uma banda com bastante história que acaba reconhecida num dos maiores festivais de música do país.

Não sendo, segundo os próprios, uma banda que se refugia num único estilo ou som, a evolução e a experimentação ao longo da sua discografia é evidente. Embora os dois géneros mais evidentes sejam o surf rock e o punk – Dick Dale, Cramps, Misfits – os seus álbuns mais recentes têm influências de rock progressivo, rock psicadélico e até dream pop.

Se estão a pensar “como é possível não haver mais surf rock num festival que decorre numa praia?”, não temos resposta para isso. Mas um passo na direção certa seria a inclusão dos clássicos “Charlie Don’t Surf” e “Post Breakup Stoner” na setlist.Tō Yō

Os japoneses Tō Yō, um dos conjuntos mais recentes de todo o lineup, preenchem a vaga que Bombino e Gaye Su Akyol preencheram nos últimos anos com um concerto de rock psicadélico que abrirá o segundo dia do festival.

Longe de serem cabeças de cartaz, a banda evidencia o esforço por parte da organização em diversificar a oferta do festival. O som psicadélico dos Tō Yō é descrito pelos próprios como “por vezes violento e por vezes ingénuo” – por vezes meditativo como Kikagaku Moyo ou Khruangbin, outras rápido e estimulante como Led Zeppelin. É um concerto que provavelmente vai ter uma audiência modesta, por decorrer a uma hora em que muitos estarão a almoçar (ou ainda a dormir), mas que sem dúvida merece mais atenção. Slomosa

Os Slomosa, estilisticamente, são a banda desta lista que mais se assemelha às bandas que tipicamente vêm ao SonicBlast. O stoner rock dos noruegueses não é revolucionário, mas é eficiente, e tem uma componente vocal melódica que a diferencia de muitas outras – o seu som é claramente stoner, mas é também catchy e acompanhado de letras de grande qualidade. Da sua discografia, realço os singles “In my Mind’s Desert”, “Horses” e “There is Nothing New Under the Sun” – três das músicas mais viciantes que se irão ouvir no festival.

Enquanto muitas bandas de stoner rock se preocupam demasiado com a estética e falham no conteúdo, os Slomosa estão acima da média em ambos os parâmetros. Patriarchy

O duo americano Patriarchy é uma das bandas mais disruptivas desta edição do Sonicblast. Apresenta um som industrial e darkwave, que mais parece saído de uma discoteca em Berlim (que, ironicamente, é onde a banda vai tocar, 3 dias antes de se apresentar em Vila Praia de Âncora), e com uma crítica social mordaz e corrosiva que desafia abertamente normas sociais – a começar pela roupa e maquilhagem.
Seria difícil ser a banda mais punk de um dia de festival que inclui os Circle Jerks, mas esse título é obviamente dos Patriarchy.
Nagasaki Sunrise

Concluimos a lista com mais uma banda portuguesa, desta feita os lisboetas Nagasaki Sunrise, uma gema à espera de ser descoberta. A sua música mistura elementos de thrash, power metal e hardcore punk, criando um som absolutamente eletrizante e que, em conjunto com as letras – todas elas focadas na Segunda Guerra Mundial, e nas atrocidades cometidas em nome do progresso, da religião e da paz – remete para um mundo que parece muito distante, mas que não é.

Nada nos Nagasaki Sunrise parece moderno, mas de igual modo, não são apenas um throwback. Por trás da estética dos anos 80 – tanto no seu som como na sua aparência – está uma reinvenção da música antisistema de outrora, como lembrete de que aqueles que não conhecem a história, estão condenados a repeti-la. Embora esta lista se limite apenas a algumas das bandas menos conhecidas desta edição, é importante reforçar que o cartaz da edição de 2025 do SonicBlast é de luxo. Fu Manchu, Molchat Doma, Emma Ruth Rundle, Circle Jerks, Amenra… a lista é interminável, não só em quantidade como em qualidade. E os bilhetes quase esgotados do festival só demonstram isso.

 

Texto redigido por Leonardo Estrela

Fotografia por Iago Alonso

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