
Após a edição do EP Manta em 2023, a violinista Helena Silva apresenta agora Celeste, o seu primeiro álbum de longa duração.
Se em Manta se revelava a pureza de um primeiro gesto discográfico em nome próprio, em Celeste torna-se clara uma maturação na forma de compor: o som etéreo do violino entrelaça-se agora com texturas mais abrasivas, esculpidas através de efeitos e camadas eletrónicas. Entre o acústico e o digital, o instrumento único multiplica-se em loops, abrindo caminho a paisagens sonoras que desconstruem a tradição clássica e a reorientam para a contemporaneidade.
Celeste é, sobretudo, um disco a meia-luz — feito de contemplações, mas também de ocultações. É igualmente um álbum marcado pela ideia de geografia: isso nota-se em “Outra Terra”, ou no field recording do gamelão em “Figurado”, peça onde colidem o imaginário pagão das máscaras balinesas e o figurado de Barcelos, terra natal da artista.
Com poucas luzes, mas intensamente significativas, Celeste é um trabalho onde cada clarão se transforma em ponto de orientação.