Cari Cari na Lovers: um cocktail de boas vibes para combater a chuva de um domingo pachorrento
Cari Cari na Lovers: um cocktail de boas vibes para combater a chuva de um domingo pachorrento
Cari Cari na Lovers: um cocktail de boas vibes para combater a chuva de um domingo pachorrento
Num concerto que já se encontrava completamente esgotado quando a Lovers publicou o cartaz com a programação completa de novembro (depois de o ter anunciado separadamente uns meses antes, claro está), os austríacos Cari Cari estrearam-se no Porto para se lançarem a uma divertidíssima festarola – de sons, da vida, do combate à inércia num dia chuvoso (23 de novembro) que não convidava a saídas mas que, neste contexto de comemoração intimista, acabou por ser particularmente revigorante.
Apoiados numa sonoridade essencialmente rock e indie mas ainda assim aberta a outras influências – destaque-se o bom uso do didgeridoo para dar um toque mais exótico, ou simplesmente mais pulsante a certas composições -, o duo (que em palco toca também como trio) formado por Stephanie Widmer e Alexander Koeck proporcionou uma atuação que mais se assemelhou a um convívio aberto para todos os que desejavam participar. E foi mesmo esse o ambiente que se viveu dentro da sala – neste final de tarde a transbordar de energia saudável, danças livres e uma alegria absolutamente contagiante.
Não deixa de de ser uma experiência única observar uma banda claramente popular e que habitualmente toca em espaços maiores (facto referenciado pelo próprio Alexander durante o seu pequeno discurso, ou “Ted Talk”, como lhe chamou), a trocar esse ambiente por um bem mais intimista e “in your face”, com feeling underground e onde o público na frente está quase à beira dos músicos, mas isso até pareceu motivar ainda mais o grupo – que, aliás, fez questão de abordar o seu amor pelo espírito e abordagem DIY.
Foi então neste clima de descontração máxima que escutamos, ao longo de quase 90 minutos de concerto, uma seleção de músicas ora mais psicadélicas, ora mais poppish, mas sempre vibrantes e super catchy. Por vezes há um toque mais bluesy e soalheiro – como na relaxante e ritmada “Belo Horizonte” -, enquanto que noutras ocasiões o tom aponta mais para um indie deliciosamente orelhudo que seria perfeito para um final de tarde passado em Coura, como é o caso de “Summer Sun”. Pelo meio, uma malha como “Mapache” remete-nos de forma bem intensa para o universo do Tarantino – o mesmo realizador que, curiosamente , motivou a formação da banda, criada com o desejo de ver a sua música incluída num filme do senhor.
Contudo, juntamente com as referências cinemáticas (ou evocações, se quisermos) também houve espaço para homenagear Ozzy Osbourne através de um belo excerto da clássica “War Pigs” – que, somos sinceros, caiu mesmo bem. Se estávamos aqui para rockar (sobretudo no sentido espiritual do termo), porque não prestar tributo a um dos maiores hinos dos Black Sabbath?
No final, os Cari Cari brindaram-nos com uma atuação enérgica ,dinâmica e bastante agradável – que era exatamente o que se pretendia. Dificilmente os voltaremos a ver no espaço da Lovers – a banda está a crescer e um regresso ao Porto acontecerá certamente num local maior -, mas podemos sempre dizer que testemunhamos este momento raro e bonito de convívio e descoberta musical. E isso não tem preço.
Texto: Jorge Alves


