Reportagem: NOS Primavera Sound 2014 – Parque da Cidade [Porto]

Reportagem: NOS Primavera Sound 2014 – Parque da Cidade [Porto]

| Junho 12, 2014 7:40 pm

Reportagem: NOS Primavera Sound 2014 – Parque da Cidade [Porto]

| Junho 12, 2014 7:40 pm

A Threshold
Magazine
foi à terceira edição do NOS Primavera Sound, que se realizou mais uma
vez no Parque da Cidade, no Porto. O tempo parecia não querer ajudar mas, feitas
as contas, a chuva não apareceu para incomodar o público nem para, no pior dos
casos, cancelar alguns concertos. Fiquem com uma espécie de crítica ao que se
passou nestes 3 dias de festival.

Dia 5
Os da Cidade, banda de António Zambujo, João Salcedo, Miguel Araújo e Ricardo Cruz, deram
um concerto dentro do esperado, com pouco público mas suficiente para se ouvir
a cantar, dando um bom início ao festival que prometia grandes concertos. 


De seguida
assistiu-se a Rodrigo Amarante, que sempre simpático e comunicativo, deu um
concerto bastante bom com vários pontos altos, como é exemplo “Irene”, “Maná” e
“Hourglass” do mais recente Cavalo, editado em 2013.




Os americanos
Spoon, liderados por Britt Daniel, vieram ao Porto com a promessa de novidades
para breve. Deram um concerto bom, mas o facto do seu som ser um pouco genérico
e da setlist não se ter focado mais nos seus êxitos, fez com que o concerto que
não ficasse na memória do público. Talvez se tivessem tocado mais músicas do álbum
Girs Can Tell, o concerto teria resultado melhor.



Sky Ferreira foi
um dos destaques da noite, trazendo algum público ao Parque da Cidade. Apesar
do nome e das suas origens portuguesas não disse uma única palavra em
português. Deu um bom concerto mas nada de fantástico, de notar os aplausos a
Zach Smith (vocalista dos DIIV e namorado da cantora) e as vozes do público a
cantar principalmente o tema “Everything is Embarassing”. Não houve mamas à
vista, para pena de muitos que ansiavam vê-las.


Caetano Veloso
foi o nome que atraiu mais público nesta primeira noite de festival. Começou logo
com a “Bossa Nova é Foda”, do álbum mais recente do artista Abraçaço, editado em 2012. Mas o grande destaque vai para “O
Leãozinho”, é claro, com o público a aproveitar para entoar a canção mais
conhecida de Caetano.


As irmãs Haim,
logo 3 raparigas jovens e vistosas, foram uma das surpresas da noite. Deram um concerto
bem acima do esperado no palco Superbock, mostrando o porquê de serem uma das
bandas revelação do ano passado. Apresentaram Days Are Gone, que apesar de se
virar mais para o pop, não impediu que as irmãs mostrassem algum rock.




Aproximavam-se
as 0h45 e já se estava tudo à espera no palco NOS do rapper Kendrick Lamar, o
2º nome mais esperado do dia. Bastante comunicativo e com uma atitude bem
humilde perante o público, tivemos direito a um concerto explosivo em que todas
as músicas foram pontos altos, sendo que “Hands Up” e
“Wave” foram o que mais ouvimos em todo o concerto. Kendrick comparou
o Porto à sua cidade natal, Compton, Califórnia, pois a primeira coisas que
cheirou foi “Weed”. 




Com o melhor concerto
do dia já concretizado, coube aos australianos Jagwar Ma a missão de encerrar o
primeiro dia. “Come and Save Me” e “Let Her Go” foram as músicas que mais
mexeram com o público que já se encontrava um pouco cansado.




Dia 6 

No dia 6 chegamos a tempo de ainda ver metade
da actuação dos americanos Midlake, que em 2013 editaram o seu quarto álbum de
estúdio Antiphon, marcado pela saída do vocalista Tim Smith. Boa actuação da
banda, tocando vários temas do último álbum, dos quais se destacaram o single
homónimo “Antiphon”, “Vale” mais virada para o psicadelismo e “The Old and
Young”. Gostaríamos de os ver outra vez no nosso país mas desta vez em nome
próprio.





Television performing Marquee Moon
Muitas expectativas existiam em torno da
actuação dos Television. A banda americana tocou a sua obra-prima de 1977 Marquee
Moon
na integra, álbum onde podemos encontrar os primórdios do post-punk. Talvez devido
ao facto das expectativas serem tão altas, o concerto tornou-se um pouco
aborrecido e sentiu-se falta do elemento surpresa. Podemos eleger com toda a
certeza que o ponto mais alto do concerto foi quando se ouviram os primeiros
acordes do tema título, “Marquee Moon”.






Em 1995 diziam adeus, mas em 2014 dão um dos
mais belos concertos do NOS Primavera Sound. Sim, falamos dos Slowdive. Um dos
precursores do shoegaze a par dos My Bloody Valentine, a banda britânica
percorreu toda a sua discografia, começando pelo tema que deu lhes deu o seu
nome. Nunca o shoegaze tinha soado tão limpo e ao mesmo tão belo como nesta
noite. Foram os temas de Souvlaki que mais arrepios geraram! “Machine Gun”, “Souvlaki
Space Station”, “When the Sun Hits” e “Allison” fazem-nos recordar a primeira
vez que ouvimos estas canções e instantaneamente trazem consigo as emoções de
nostalgia e felicidade. Também houve tempo para uma cover de Syd Barrett, para
o tema “Golden Hair”. Ainda estamos sem palavras para o excelente concerto a
que assistimos e só nos podemos considerar felizardos pelo regresso da banda.









O concerto do festival está aqui. Os canadianos
Godspeed You! Black Emperor foram um dos nomes que mais nos atraíram ao Parque
da Cidade e fizeram jus às nossas expectativas. Muito introspectivos, entraram e
saíram do palco sem proferirem uma única palavra. Não precisam, a música fala
por eles. “Hope Drone” deu início ao concerto seguindo-se “Mladic” do último
Allelujah! Don’t Bend! Ascend, editado em 2012, levando ao
desinibimento geral com os ritmos mais orientais. “Gathering Storm” da
obra-prima Lift Your Skinny Fists Like Antennas to Heaven! foi, como o
próprio nome indica, uma tempestade musical, um turbilhão de guitarradas misturadas
com violinos. Assistimos aqui ao melhor momento da noite. Ainda tocaram o tema “Moya”
e para finalizar “Behemoth”.
Os GY!BE mostraram o porquê de serem uma das melhores bandas de
post-rock de sempre. Para quem foi ver Pixies, é pena pois perderam 1h45 do
melhor que o festival podia oferecer.




Da banda dinamarquesa pouco conhecíamos, mas ficamos com uma boa impressão e com vontade de explorar mais.


Os escoceses Mogwai (ou Mogway como indicado nos guias da NOS), uma das bandas mais influentes e conhecidas do post-rock, apresentou ao vivo o seu mais recente Rave Tapes, editado no início do ano. Hardcore Will Never Die But You Will, editado em 2010 não foi esquecido e “Rano Pano”, “White Noise” e “How to be a Werewolf” fizeram parte do alinhamento. O grande destaque vai para “Mogwai Fear Satan”, do primeiro álbum Young Team de 1997, faixa épica que explica bem o que são os Mogwai. O único senão deste concerto foi o horário simultâneo ao concerto dos Darkside











A dupla formada
pelo já tão conhecido pelo público português
Nicolas Jaar e por Dave Harrington
proporcionou a quem esteve no palco Pitchfork momentos de prazer e dança
desenfreada ao som de um house minimalista. Para aqueles que tinham receio que
o som ao vivo não se equiparasse ao som de estúdio, as dúvidas foram
dissipadas. Os Darkside conseguiram a afeição do público e proporcionaram um
dos momentos da noite. Ouviram-se temas como “Freak, Go Home”,
“Golden Arrow” e “Paper Trails”. Soube a pouco mas não por
desleixo dos artistas. Ficámos com vontade que eles cá voltassem num futuro
próximo, em nome próprio.




Do produtor norueguês pouco vimos mas fica a nota de que It’s Album Time é dos melhores álbuns do ano. 


Dia 7

Depois de um  passeio
pelo recinto, afinal estava um bom sol que ainda não tinha decidido aparecer no
Parque da Cidade, dirigimo-nos ao palco SuperBock para assistir ao concerto de
Refree, banda espanhola de rock alternativo. Com pouco público na plateia, os
espanhóis deram um concerto competente mas não se podia pedir muito mais.


Concluído o concerto no palco SuperBock, fomos ali ao lado, assistir
ao concerto dos portugueses You Can’t Win Charlie Brown. Via-se muito público
no palco NOS para ouvir temas do mais
recente trabalho da banda Refraction/Difraction, editado no início do ano,
como foi exemplo dos singles “Be My World” e “After Decemeber”. Também foram
interpretados temas do primeiro álbum Chromatic, mas limitados a 45 minutos
de concerto, a banda terminou com uma cover de “Heroin” dos míticos The Velvet
Underground
. Mais uma vez os You Can’t Win Charlie Brown a darem um belíssimo
concerto.




Lee Ranaldo apresentou-se em palco com a sua banda para apresentar Last Night On Earth, editado em 2013. O facto de ter sido o guitarrista dos Sonic Youth parece nos a razão que pode ter levado muita gente a assistir ao seu concerto, o qual acabou por ser enfadonho e pouco representativo da alma experimentalista e ruidosa dos Sonic Youth.


Foi em 1998 que saiu In the Aeroplane Over The Sea. Desde que aí a banda de Jeff Magnum se tornou uma banda de culto. Mais ainda quando a banda do Louisiana regressou em 2013. Este Primavera Sound foi abundante em regressos, sendo que o dos Neutral Milk Hotel foi o mais ansiado pelo grande público. Às 20h já encontrava uma grande plateia em frente ao palco NOS, pelo que pouco depois apareceu Jeff Magnum sozinho para dar início a uma hora de lo-fi indie rock e folk. “Two-Headed Boy” e já está tudo de coração nas mãos. De seguida apareceu o resto da banda para continuar o concerto frenético que nos esperava. O ponto alto foi sem dúvida “Oh, Comely”, com Jeff Magnum de novo sozinho em palco. Lágrimas foram derramadas neste hino, lágrimas de alegria com certeza por estarmos perante os Neutral Milk Hotel!
Mas não foi só de In the Aeroplane Over The Sea que se fez o concerto, também passando por temas de On Avery Island e do EP Ferris Wheel on Fire
Seguramente um dos melhores concertos do festival para um público que aguardou um ano inteiro para os ver (foram confirmados no fim da segunda edição do Optimus Primavera Sound).
Apesar de já o termos visto há pouco tempo na última edição do Vodafone Mexefest, não quisemos perder o concerto de John Grant, uma das maiores surpresas do festival para quem não conhecia. “I Wanna Go to Marz” foi o primeira tema a ser escutado no palco SuperBock, do tão aclamado Queen of Denmark de 2010, seguindo-se “Vietnam”, esta já do último trabalho do cantautor editado no ano passado Pale Green Ghosts. O público começava a espevitar e foi na música que dá nome ao último disco que John pôs toda a gente a mexer. A partir daí foi sempre a subir com a gingona “Black Belt”, levando o público ao êxtase. Em “Where Dreams Go To Die”, John Grant afirmou que o Porto não era um desses sítios e em “GMF” dedicou a música a todos os “greatest motherfuckers” presentes! 

Para terminar, talvez a mais bela composta por John Grant,”Glacier”, interpretada ao piano, causou um arrepio geral, seguindo-se a poderosíssima e final “Queen of Denmark”. Foi um dos melhores concertos do festival e a maior surpresa. Um bom aquecimento para The National. Que ele volte sempre que quiser, nós lá estaremos.




Os grandes amigos do nossos país, os americanos The National, gostam de cá actuar, nem que seja todos os anos. Mas não é isso que lhes tira protagonismo. É sempre um prazer voltar a ver Matt Berninger ao comando de uma das mais influentes bandas de indie rock dos últimos anos. Com um álbum editado em 2013 Trouble Will Find Me, os The National chegam ao Porto com o estatuto de cabeça de cartaz, sendo a principal razão da enchente do último dia de festival. Foram vários os temas que se ouviram do último trabalho como “Don’t Swallow the Cap”, “I Should Live in Salt”, o single “Sea of Love”,” Graceless”, “I Need My Girl” e o tema utilizado na publicidade televisiva do próprio festival ” This Is The Last Time”, gerando um maior frenesim no público. 

Entre músicas do último álbum e High Violet, o concerto foi prosseguindo com temas como “Bloodbuzz to Ohio” , “Afraid of Everyone” e “Sorrow”, interpretada com a ajuda da amiga St. Vincent.  Segui-se “Ada”, do melhor álbum Boxer, editado em 2007, com direito a um outro de Chicago de Sufjan Stevens, tornando-se um privilégio estar lá para ouvir. De Boxer foram interpretadas canções como a feroz “Squalor Victoria”, “Slow Show”, “Mistaken for Strangers” e o maior êxito “Fake Empire”.

Já quase no fim ouviu-se “Mr. November”, do velhinho Alligator de 2005, com Matt Berninger completamente tresloucado em palco de um lado para o outro a sentir o verdadeiro peso da canção. Seguiu-se “Terrible Love”, em que Matt fez a habitual incursão na plateia de modo a poder levar com o amor de toda a gente, demasiado até, pois não encontrava o caminho para o palco tendo de a banda terminar a canção sem vocalista. Para fechar com chave d’ouro “Vanderlyle Crybaby Geeks” em modo acústico. Os The National serão sempre bem vindos a Portugal e terão sempre fãs que os queiram ver mesmo que passem cá a vida.








A gostosa da Annie Clark mas com cabelo de avozinha apareceu em palco já passava da meia noite. A comportar-se como um robot, deu início ao concerto com “Rattlesnake” do mais recente álbum homónimo lançado este ano. Seguiu-se o single “Digital Witness”, o tema que a cantora consegue expressar melhor a sua postura face ao mundo tecnológico. Seguiram-se temas de Strange Mercy editado em 2011, como “Cruel” e “Cheerleader” por entre temas do novo trabalho. Infelizmente tivemos que correr até ao palco ATP e só pudemos assistir até à música “Prince Johnny”. Esperemos que Annie cá volte, em nome próprio de preferência.



Os Slint eram outra das bandas de culto que tinha presença marcada no NOS Primavera Sound. Pelas 00h25 entraram em palco os norte-americanos , que
lançaram em 1991 o que é considerado por muitos um dos melhores álbuns de math
rock e/ou pós-rock de sempre: Spiderland. A banda tocou na perfeição músicas
desse álbum como “Breadcrumb Trail”, “Nosferatu Man” e do seu muitas vezes
esquecido antecessor Tweez, e realizou um dos melhores concertos do festival. O
concerto terminou com o que foi provavelmente o seu melhor momento, a
espectacular “Good Morning, Captain”. “I miss you!”, grita Brian McMahan
durante a música. Mas quem vai ficar com saudades somos nós.




Ty Segall, um dos maiores nomes do garage rock dos últimos
anos, acompanhado por uma banda da qual faz parte Mikal Cronin e Charles
Monheart, pôs o público ao rubro com malhas como “Thank God For Sinners” e
“Wave Goodbye”. Aproximou-se do público mais que uma vez, fez crowdsurfing, e,
apesar de ter sido ele o aniversariante, certificou-se de que quem recebia o
presente eramos nós. Um concerto muito energético que, apesar de ter começado
aproximadamente às 2h, manteve toda a gente acordada. Obrigado, gaivota!





Eram 3h da manhã e após um esgotante concerto de Ty Segall há quem ainda tenha energias para assistir ao concerto dos Cloud Nothings, banda do americano Dylan Baldi que logo no início brincou com o público apresentando-se com sotaque alemão “Hello, we are Cloud Nothings from Germany”. Com um álbum novo editado este ano, Here and Nowhere Else, também não havia qualquer outro lugar onde quiséssemos estar naquele momento. Um do concertos mais musculados do festival, marcado por excessivos crowdsurfs e mosh pits, mostrou o porquê dos Cloud Nothing serem uma das melhores bandas de indie rock (com desvios para o post-hardcore) da actualidade. Concerto cheio de malhas onde não poderiam faltar “You’re a Part of Me”, tema mais conhecido do último álbum, “Pattern Walks”, também de Here and Nowhere Else.
Attack on Memory também esteve presente neste concerto, com o tema “Fall In” e com épica e última música “Wasted Days”, que como o nome indica, levou o público à exaustão completa durante mais de 10 minutos.


Texto por Rui Gameiro, Rui Santos, Sónia Felizardo e Tomás Carneiro.


Fotografia por Rui Gameiro e Rui Santos.
FacebookTwitter