No dia 20 teve lugar mais uma edição do NOS Club. Esta ocorreu na Casa da Música e contou com concertos de Bombino, Underground Spiritual Band, Matt Elliott e The Legendary Tigerman.
Na Sala Suggia decorreram os concertos de Bombino e Underground Spiritual Band, enquanto na Sala 2 actuaram Matt Elliott e The Legendary Tigerman.
O músico inglês foi o primeiro a entrar em palco.
Acompanhado de uma guitarra acústica, alguns pedais e uma flauta, Matt Elliott começou o concerto com as longas e atmosféricas “Zugzwang” e “The Kursk”, dando uso aos pedais, criando loops e outros efeitos que contribuíam para a atmosfera melancólica destas duas canções. Para animar o ambiente, seguiu-se uma versão de “Misirlou”, canção grega dos anos 20 que se tornou mundialmente famosa em 1965, devido à versão surf rock realizada por Dick Dale.
Como ainda tinha alguns minutos disponíveis, Matt Elliott acabou o concerto com um cover de “From Russia With Love”, da banda sonora do filme de James Bond com o mesmo nome.
Foi um concerto bastante bom e bem recebido pelo público.
Apesar de tudo, o concerto mais aguardado pela maior parte das pessoas era claramente o de Paulo Furtado AKA The Legendary Tigerman. O músico pôs o público ao rubro, com uma setlist de 19 ou 20 canções, a contar com o encore. O foco foi o seu mais recente álbum, True.
Tanto sozinho em palco, como com a ajuda de Paulo Segadães na bateria e João Cabrita no saxofone, Tigerman deu tudo num concerto que pareceu satisfazer os seus maiores fãs mas que, na minha opinião, foi repetitivo e, em várias alturas, aborrecido.
A setlist continha algumas músicas interessantes que, infelizmente, constituíam a parte menor da mesma. Os blues de Paulo Furtado tornaram-se rapidamente repetitivos e, após o concerto de Matt Elliott, souberam a pouco.
Bombino, o virtuoso guitarrista do Niger, regressou a Portugal depois da sua passagem por Paredes de Coura o ano passado — data na qual veio apresentar o seu então novo LP Nomad.
Além da sua data no Porto, Bombino esteve também no dia anterior em Lisboa, no B.Leza.
Antes de mais, dissertemos um pouco sobre a personagem:
Omar “Bombino” Moctar é um tuareg que, desde tenra idade — e provavelmente para distanciar a sua mente dos horrores da guerra e do exílio — é um músico auto-didata. Tendo crescido no seio de uma conjuntura complicado (e talvez por causa disso) Bombino é um músico focado no activismo geopolítico. Ele procura preservar a herança do seu povo e dos seus costumes.
Muitos falam dele como sendo um homem voltado para a educação das novas gerações, uma nova voz do Saara.
E foi, de facto, para os jovens que Bombino se dirigiu maioritariamente na Casa da Música.
A plateia era composta maioritariamente por gente nova e, desde os primeiros acordes foram enfeitiçados pela sua guitarra frenética e pelas repetições sonoras enérgicas que saiam de todos os instrumentos da banda.
Entre cordas partidas e problemas na percussão, o espectáculo por nada parou.
Muito pelo contrário, foi crescendo em êxtase e os ânimos (esses, ao rubro) exaltaram-se e a plateia levantou-se para libertar o seu corpo das amarras da incapacidade de ouvir um concerto daqueles sentado. Foi difícil conter a vontade de dançar pelos 30m em que os seguranças de palco tentaram conter o público que tentava contornar esse entrave, com o pretexto de conseguir desfrutar daquele espectáculo na integra e em condições. E isso é impossível de fazer sentado, tais os espasmos provocados pela combinação de lírica de Bombino (os seus temas abordam muitas das vezes a paz e a fraternidade, evocando também elas a aproximação dos povos qual metáfora para a luta que estava a decorrer dentro da Sala Suggia entre o público e os seguranças) e pelos arranjos sonoros frenéticos e repetitivos, que não davam margem para descanso, emergindo a plateia neste êxtase durante mais do que uma hora.
A luta finalmente acabou quando uma enorme massa humana invadiu a frente do palco perante a impotente força e presença dos seguranças da Sala Suggia. Isto prova apenas que a força de um povo é tão forte quanto a sua vontade. talvez um dia vejamos este tipo de união em escalas maiores e em prol de outras causas. Até lá, sabem bem pequenas revoluções destas.
E sabem bem concertos destes.
Volta sempre Bombino.
Seguiu-se os Undergound Spiritual Band, o verdadeiro e derradeiro tributo a Fela Kuti com cunho nacional.
Este projeto surgiu para prestar homenagem a Fela Kuti — compositor nigeriano que marcou os anos 60 lembrado como grande ativista dos direitos humanos. A sua origem, percurso e influências, dentro de um contexto político controverso, fizeram deste músico uma lenda, pelo respeito pela vida humana e utilizando a música como veículo para a reivindicação política. Kuti foi também o percursor do Afrobeat, um estilo musical que mistura diversos ritmos africanos, jazz e funk.
Os Underground Spiritual Band apresentaram-nos no passado dia 20 de Dezembro um concerto delicioso. A banda composta por treze elementos pertencentes a diversos projetos musicais nacionais, tais como o Dentinho & The Promised Band ou os Olive Tree Dance. Todos os elementos têm formação musical e presentearam o público no decorrer do concerto com a clara vénia a Fela Kuti mas também prestando homenagem a bandas como os Antibalas ou os Souljazz Orchestra. Ainda houve tempo para apresentarem dois temas originais.
Obrigada a estes verdadeiros músicos que fazem-nos acreditar que Portugal está na eminência do ressurgimento de grandes projetos, os quais o público português deveria estar atento.
A música é, acima de tudo, cultura. E estes projetos são o espelho disso mesmo!
Texto e fotos: Rui Santos e Eduardo Silva e Margarida Canastro