
Reportagem: Linda Martini – Teatro Aveirense
Reportagem: Linda Martini – Teatro Aveirense

Reportagem: Linda Martini – Teatro Aveirense
Depois de um concerto poderoso a rasgar o clima de festa do Enterro de 2013, os Linda Martini voltaram a Aveiro, desta vez num espaço onde todos os espectadores têm bilhete para uma viagem de sonoridades melancólicas, intensas, rasgadas de sentimentos como saudade, perda e mudança, num rock alternativo com pitadas a post-rock, acarinhando tanto os fãs mais antigos como os novos curiosos. A verdade é que, já com 10 anos de carreira, os Linda Martini continuam sempre a surpreender com a sua inovação e renovação artística de álbum após álbum. E prova disso é o entusiasmo notório por parte do público, quando ouve os singles mais recentes nos concertos. Prova que a banda oriunda de Lisboa não vive do passado.
Pairava um clima descontraído, antes do concerto, no Teatro Aveirense, que decorreu no passado dia 21 de Março. Com uma plateia esgotada, aqui e ali viam-se sorrisos e sentia-se um estado de espírito que estava quase a tornar-se fervoroso. Sabia-se bem o que aí vinha. Conversas animadas cobriam a área, com um público jovem, a rondar a faixa etária dos 18 aos 25 anos. Mas, volta e meia, apreciadores mais velhos também se destacavam, uns mais calmos, a apreciar o momento, introspectivos, outros a converterem-se ao espírito jovial. Quando as luzes se apagam, os instrumentos ganham presença uniforme e dão uma áurea única ao local. Entram em palco Cláudia Guerreiro (baixo), Hélio Morais (bateria), André Henriques (voz, guitarra) e Pedro Geraldes (guitarra). O público aplaude e a viagem começa. As melodias começam a ficar velozes, com uma bateria intensa e acordes esquizofrénicos, o rock habitual dos Linda Martini.
Pontos altos do concerto inserem-se fundamentalmente com a entrada da música “Partir para ficar”, clássico dos Linda Martini. A partir do momento em que a letra “Mãe, eu quero ficar sozinho” se destaca, há uma metamorfose espiritual no Teatro Aveirense: o público deixa-se embalar pelo diálogo e tons negros da canção, muitos com os olhos fechados, a apreciar os versos de José Mário Branco, um dos mais violentos poemas políticos escritos em língua portuguesa; “Ratos” trouxe momentos mais intensos, com os fãs num estado exorbitante; “Panteão” também merece destaque pelos cânticos em conjunto e entusiasmo dos ouvintes; “Volta”, embora em tons mais secos, não desiludiu, catapultando-nos para uma viagem com melodias mais suaves.
Obviamente que todas as canções tiveram a sua natureza em palco, mas não se pode deixar de destacar o clássico “Amor Combate”, a fechar as portas do concerto. É impossível não se render ao seu êxtase e aos momentos emocionantes que a banda e o público transmitem. Um cântico que faz jus aos arrepios que se sente e a uma imersão na melodia difícil de dar conta. E é isto que faz dos Linda Martini uma das melhores bandas nacionais, com uma carreira notável e já com um legado especial. Como é óbvio, os concertos já não apresentam o factor surpresa que apresentavam há cinco ou seis anos atrás, mas, mesmo assim, é de congratular o caminho que a banda percorre. Porque os Linda Martini são “feitos de algo mais, que não tem forma nem razão”.