Milhões de música, milhões de amor, Milhões de Festa

Milhões de música, milhões de amor, Milhões de Festa

| Agosto 7, 2016 9:51 pm

Milhões de música, milhões de amor, Milhões de Festa

| Agosto 7, 2016 9:51 pm



Dia 2
“Quando é que o after acabou?”

Pois bem, parece nunca ter acabado. Acordámos e fomos para a piscina, o dia ia ser de ouvir a música deitados, a descansar, repor forças para mais logo.

Tudo começou com Filho da Mãe e o grande Ricardo Martins a aquecer a chapa e a mostrarem o seu novo trabalho juntos entre umas outras tantas malhas. Já tinha visto este ano o projeto Filho Da Mãe + Ricardo Martins e Filho da Mãe a solo, daí ter assistido ao concerto mais de longe, na toalha, ao som que vinha do palco.


Filho Da Mãe+Ricardo Martins- Piscina Dia 2


Depois do concerto, lá fui para a piscina “sentir o pedal” ao som daquela que viria a ser a banda revelação para mim, os Big NaturalsUm concerto de jams cósmicas, de psicadelismo cru e krautpunk laboratorial, isto tudo graças a um power-duo que é Gareth Turner e Jesse Webb. O rock psicadélico de Bristol marcou presença em Milhões e cada vez mais deixa a sua marca em Portugal. Uma comunidade de boas bandas, de bom psych, estes Big Naturals fazem jus ao nome, a música que tocam sai-lhes de forma natural e sim são grandes, são barulhentos, fazem de gigantes e nós ajoelhamo-nos a estes lords inspirados em Antrophophh do grande Paul Allen que permaneceu do início ao fim do concerto a incentivar tanto quem via como quem estava no palco a tocar. 


Este concerto fica também marcado pela presença do guitarrista dos The Heads, que também influenciam muitas das bandas da cena psych britânicas, e que iria tocar mais tarde no palco MilhõesMais uma carta bem escolhida, bem sacada, a deixar todos suados, a mergulhar e a colar no baterista que nunca vimos falhar um compasso. “Impec”.



Durante a espera para We Are Match na piscina, assiste-se mais uma vez a um momento para guardar  – ao som de uma música que conduzia a Miami dos anos 70 ou mesmo Ibiza –  vêem-se bolas insufláveis a voar, mergulhos com bolas, bolas e bolas. Este ano foi a vez de estas bolas substituírem as famosas bóias que ocupavam o perímetro da piscina.

E We Are Match começam ainda neste ambiente festivo e alegre. A banda que me fez recordar All We Are, deu um bom concerto, embora alguma desatenção por parte do público tenha feito com que soasse apenas como música de fundo. O pessoal estava todo à espera do senhor do dub e do reggae, Adrian Sherwood, que passeava de Redbull na mão pelas piscinas. A hora do mesmo chegou e incendiou toda a gente; remixes de Congos, músicas do seu álbum Becoming a Cliché.

Adrian Sherwood é um dos “grandes velhos” que este festival trouxe. Um doutor com tese na manipulação de som, com um CV menos bom aos olhos do público mas com a capacidade de mostrar que existe muito e boa electrónica no Reino Unido. Um concerto quente, que fechou o palco da Piscina e nos levou para o campismo, preparação para Sun Araw tinha de ser ainda mais forte que a do dia anterior. 


Fomos apressados para baixo, não aguentávamos mais a espera. Só dizíamos e só se ouvia “Quero bué a Deep Cover” ou mesmo “O On Patrol foda-se, ele que toque esse”.Mas nada disso; Às 21h00 Cameron Stallone e os seus camaradas subiram ao palco e deram-nos um concerto totalmente diferente do que esperava. Nos primeiros momentos lembrei-me logo do álbum dos Pink Floyd, Ummagumma, disco que faz parte dos favoritos de muitos. Sun Araw estavam muito mais vanguardistas: um rock experimental ou mais space rock com as marimbas e a bateria a marcarem os tempos.

A marcar o concerto ficam também as falhas técnicas que acabaram por “comer” sete minutos de atuação da banda. Mesmo assim, após estes sete minutos, houve um agradecimento aos técnicos de som que foram exímios e recuperaram o ritmo do concerto. Ponto positivo para a terra do galo.

Foi um concerto bastante introspectivo, para mostrar músicas que estavam a ser esculpidas pela banda, para mostrar a nova faceta de Stallone“Pena não terem tocado Deep Cover!”, ouvia-se no fim enquanto fortes palmas aplaudiam a banda que começava a arrumar o seu estaminé.

Em seguida partimos para algo mais festivo no Palco Lovers, Domenique DumontA artista trouxe um repertório “fresh and sweet” e fez com que o ambiente fosse de amor. Por alguns instantes recordei o concerto de Sylvan Esso, muito idênticos tanto em sonoridade como em performance ao vivo. Muito fumo, muita luz e muito synth pop. Bastaram-me “L´Esprit de L´Escalier”, “Comme Ça” e “La Basse et les Shakers” para entrar na onda e dançar como se não houvesse amanhã.

Saímos leves deste concerto e sem saber o que nos esperava no Palco Milhões. Eram os The Heads, agora a abrir e a mostrar para Barcelos e para o mundo. Um dos meus concertos do Milhões, já.

Nunca levei com tanto fumo ou tanto gelo seco, como quiserem. Outros grandes velhos que empenham grandes camisolas. O lead guitarist vestia uma camisola de Spacemen 3 e eu delirava, o som estava bom, as melodias “on point”. Bristol em Barcelos cada vez mais, uma vez mais e com o guitarrista que alinhou em Big Naturals a dominar os solos épicos.

Fomos levados para uma fábrica inglesa dos anos 60, viajámos com stoner rock e nunca nos sentimos tão bem. Maravilhoso a cada nota (já nem conseguia respirar) tocavam “Quad” e, essa mesma malha, ainda continua a ecoar nos meus ouvidos, agora em casa sentado de computador a escrever e a recordar todos os momentos que tive. – Um aparte, não é por nada que existe milhões de amor no Milhões de Festa. A cidade encanta do primeiro momento ao último. O festival consegue ter tudo no sítio, consegue ter excelente audiência que não se deixa dormir facilmente e é persistente, assim como a sua organização que este ano ganhou a “cartada” dos festivais de música, para mim, oficialmente. – Mas sim. The HeadsVelhos do krautrock, influência para muitos e agora cada vez mais para mim. Uma das bandas a ouvir mais e com mais atenção.



Não digam que foi “uma seca” ou “demasiado puxado”; foi genial, tivemos tempo para mais duas malhas como encore e para canções como “Bedlam” com uns incríveis 13 minutos a fazer lembrar Sleep com Dopesmoker. Um concerto para contar aos netos mesmo.


Setlist THE HEADS:
Bedlam
Quad
Widow Maker
Kraut Byrds
Cardinal Fuzz
Long Gone
Encore:
Stodgy
Spliff
Demos mais uma volta até ao Palco Lovers onde subiu a palco o artista que tinha atuado na noite anterior com The Bug e Miss Red: GAIKA. Foi um concerto de rap e grime forte em todos os sentidos. Uma lição cantada sobre vários temas tocantes da sociedade civil atual. Desde a manipulação de imagem aos media, GAIKA deixa a mensagem a cada um: “Let us live as we are”. Não se conforma, é um inconformista por natureza, diz não ter cor, diz não ter raça ou mesmo nação. Crítica o racismo, a xenofobia e alerta para esses temas.
Foi bom o concerto enquanto durou. A mensagem foi forte e fica marcada nos ouvidos de quem ouviu.

Seguimos para Bixiga 70, um concerto de pura festa em português, mas do Brasil, onde surgem como uma grande orquestra sempre animada e com boa disposição para dar e vender da sua música afro-brasileira. Mostram o seu novo trabalho e trabalhos mais antigos a um público que, apesar de já ser tarde e faltar o esperado Islam Chipsy, dá tudo e mais alguma coisa no palco. Deixam também uma mensagem forte sobre a alegria do povo português, sobre a situação política no Brasil e deixam claro: “FORA TEMER!”.

O concerto, na minha opinião pareceu-me demasiado longo, demasiado puxado apesar de o repertório ter sido bem escolhido. Outro aparte. Em relação a “repertórios”, “alinhamentos” e “setlists”, durante o festival quando alguém pedia a tão desejada setlist muitas das vezes ouvíamos “Sorry! We have it on our head”. Um festival que não precisa de setlists mas sim de pessoal que encare a música e que a tenha sempre o alinhamento na ponta da língua.

Assim seguimos para Islam, não o Slimani mas o Chipsy, que regressando a uma casa onde já tinha estado, trouxe mais uns amigos: EEKFoi um “chavascal” à moda de Chipsy, electro chaabi puro. Sem espinhas. Mais uma vez estava no Palco Lovers &Suadouro aquilo não parecia terminar, Islam não deixava ninguém tirar o pé daquele palco, só deixava todo o mundo dançar, todo o mundo dar um “pezinho de dança”. Parecia, mais uma vez, uma viagem atribulada num bazar em Marrocos ou em Israel como tinha sido em Jibóia mas desta vez muito mais infernal, muito mais quente, muito mais tudo. Outro dos filhos pródigos que ao regressar a casa não nos falham.


Lembro-me de sair dessa noite a tremer, a querer única e simplesmente uma coisa: a tenda ou a cadeira que tinha há minha espera no campismo para aterrar. Mas isso foi tudo menos o que aconteceu, chegado ao acampamento estava tudo a aquecer novamente e pronto para ir ao XispesEram 4h30 e o after no Xispes só começava lá para as 6h30, já se sabia no que ia dar. Tudo cego, tudo louco, as horas assim passaram a correr e do nada estava a contar moedas para entrar na after que marcou a minha vida. Isto tudo porque à medida que todos nós nos dirigíamos para o mítico local da cidade, o sol nascia junto da ponte, foi magnífico, imaginem agora com uma música ambient por trás fornecida pela ÁCIDA. Incríveis. Nunca foram abaixo, sois grandes. Entrámos no Xispes e avistei logo a Dona Flávia ou “Tia Flávia”, para alguns. Sempre a fazer alguma coisa esta mulher mostrou que vive também o festival como qualquer jovem, não deixa ninguém por ser atendido e não deixa ninguém com fome.

O Xispes estava à pinha. As pessoas não paravam de entrar, o ambiente estava alucinante. Haja saúde para aguentar isto até aos meus 30, como muitos com quem travei conversa que vão desde a primeira edição e hoje, um pouco mais cansados, continuam a ir mas com algumas alterações. Fiquei por lá à conversa, na galhofa, a falar dos futebol nos anos 70, do festival, de como era, de como é e ainda de como irá ser. Esse sim foi o grande ponto de debate. Como é de conhecimento de todos, o festival cresce a olhos vistos e muitos receiam que perca a sua qualidade, no entanto existe um argumento que parece infalível: Milhões de Festa só há um e sempre será assim. Um festival que não muda de ideias porque lhe dá na real gana, um festival para um círculo de pessoas mesmo que poucas. Esse foi o argumento que me convenceu e com o qual a conversa encerrou.

Já se fazia tarde e o corpo precisava de descanso, a cidade acordava e nós adormecíamos pelo caminho desejosos de descansar a vista por uns momentos. Assim foi. Eram dez da manhã e ainda estava acordado. Impressionante. A rotina já se tornava a mesma: acordar, perguntar se o after já tinha acabado, saber que tinha acabado, comer, lavar a cara e os dentes e ir para a piscina.


Dia 3

Ghost Hunt- Piscina Dia 3


Neste último dia de festival dedicamos tanto à piscina como ao Taina, onde vi o melhor concerto desse palco que já ocupou outrora outro lugar. Na piscina tocaram Ghost Hunt, o duo dos Pedros, Oliveira e Chau, que aqueceram ainda mais a tarde.Tocaram tudo o que tinham a tocar e ainda tentaram fazer uma versão que pelos vistos não correu da melhor maneira, mas pensamento positivo sempre, continuaram a tocar e a dar música a quem fazia a festa na piscina. Estávamos de volta aos sons que nos levavam a uma piscina qualquer nos anos 70 de cocktail na mão e a dar mergulhos.

Em seguida, deitado na toalha, vi o início de Tomaga. E isso bastou-me para ir a correr até ao relvado junto do palco para assistir a mais um duo dinâmico que fez a tarde. Intenso do início ao fim, fechei os olhos e senti cada batida, cada compasso. O concerto passava à velocidade da luz, é o poder do último dia de festival,queria conseguir dar “freeze” nestas alturas. Para ser sincero em relação a este concerto, tenho de dizer que não estava à espera de um concerto tão bom mas mais uma vez lá está, aquela capacidade desta organização trazer bandas boas desconhecidas para a maior parte do público e anos depois, aparecerem em cartazes de festivais maiores. Quem diz Tomaga pode dizer Alt J, ou Connan Mockasin que é pedido por muitos e adorado por outros tantos. É um festival que faz por mostrar, por partilhar sem medos e sem receios o que é bom, o que ouve durante o ano e o que realmente interessa ver.

Como foi dito anteriormente, dedicámos o último dia também ao Palco Taina e esse dia foi especial, era o aniversário de um “ganda maluco”, o DJ Quesadilla, que juntou uma seleção de bandas formidáveis para a tarde do TainaTive a oportunidade de ver o melhor concerto do palco nesse dia. My Expansive Awarness, meninos e meninas, senhoras e senhores. Uma banda espanhola que fez com que muita gente viesse do país vizinho para ver e ouvir “rock garajero”, segundo as palavras de QuesadillaO concerto começa e fico logo fascinado. Mais uma vez tudo batia certo. Pensava nisso e imaginava um triângulo, com os lados todos iguais, dava certo. Tocaram música do que é o seu melhor álbum, Uroboros, e ainda umas quantas outras malhas que me deixaram a mim e a quem assistia, a viajar. Foi bom psicadélico, a fazer passar imagens de Woodstock, a fazer lembrar o concerto de Allah-Las em Paredes de Coura, esse local também perdido lá no meio do monte. O momento dessa tarde no Taina surgiu quando tocaram “Up and Down”, meus amigos quando conseguirem ouvir, oiçam. Valerá a pena. Foi um concerto cósmico e de arrepiar do início ao fim. Obrigado e muitos parabéns Quesadilla, continua a pagar finos e a dar tudo.


My Expansive Awarness- Taina Dia 3

Após a chapada psicadélica de My Expansive Awarness surgem os Extraperlo. Uma banda que trouxe “Chill Aquí” para animar a festa do DJ que ouvia cada banda e agradecia de longe sempre que podia. Extraperlo fez-me lembrar uma coisa: Heróis do MarDepois da viagem até Woodstock fui transportado para o Portugal dos anos 80, com música disco bem animada, guitarras cheias de sintetizadores, bateria na batida certa. Eram os Heróis do Mar modernos ou algo como os Heróis do Mar vão a Ibiza, bebem uns copos, mergulham na piscina e fazem um álbum bem bom, que muda vidas, que faz toda a malta dançar como é tradição. Apesar disso o concerto já foi puxado, difícil agradar o pouco público que assistia. Quando reparei nisso decidi que era altura de levar a festa para outro local, o campismo.


Ao princípio estávamos com ideia de entrar no recinto só às 23h00, hora à qual El Guincho iria atuar, mas por algum motivo entrámos mais cedo, quase no final do concerto de Evil BlizzardAo descer para o palco vi algo que me fez logo lembrar Ty Segall and The Muggers, as máscaras que os elementos da banda utilizavam. Mas não foi só isso que reparei também que estavam dois petizes em palco, esses dois que pela manhã se encontravam pela piscina e que julgava serem jovens de Barcelos. Outro concerto completamente insano, cerveja pelo ar, crowd por parte da banda e ainda…público no palco a tocar com a banda. Só sei que tive uma sorte incrível em ter visto isto, foi um momento mágico entre banda e público, a banda adorava o que se estava a passar e fazia por prolongar. No final da música tiveram tempo para dizer: “We love you Portugal, see you next year”, o que poderá ser uma nova história de amor entre uma banda britânica e Barcelos. Tive tempo também para pedir setlist e desta vez sim, recebi a setlist e ainda uma cerveja dada pelo vocalista da banda. Lindo. Magnífico mesmo poder ter este contacto com os artistas e com as bandas.

Setlist EVIL BLIZZARD:
Sacrifice
Stupid People
Misery
Sleep
Slimy Creatures
Are You Evil?
Re Box
Corremos para Part Chimp e aí assisti à saga do “grandes velhos empenham grandes camisolas parte não sei quantos”. O baixista vestia uma camisola dos grandes CAN, uma das minhas bandas favoritas. O concerto começa com um poderio danado, sinto a minha pele a ir com o caraças no momento dos primeiros acordes, que colunas potentes. Part Chimp chegam directamente do Reino Unido e enfiaram-nos com um noise rock pela goela abaixo, nunca esquecer “War Machine”, uma malha que me marcou os ouvidos para o resto da noite que ainda faltava. Vi pelo menos metade do concerto e depois decidi ir comer alguma coisa. Travámos conversa com mais pessoas entre os quais, Joaquim Durães ou “Fua” para os amigos, e tivemos tempo para lhe agradecer pela festa e por tudo o que nos estava a proporcionar. Um verdadeiro festivaleiro, um homem da música com um trabalho incansável para poder estar em todo o lado.

Adiante. Comemos, bebemos e estávamos pronto para El Guincho. Ainda se conseguiam ouvir os Part Chimp lá bem no fundo, tenho a dizer sobre isso: “Meu, esses velhos estão a abusar bué, têm quantas colunas e quantos amps, man?”. Mas entretanto terminaram o seu concerto e El Guincho esperava agora ansiosamente com a sua banda, da qual fazia parte o guitarrista de Extraperlo, para começarem um concerto que se esperava ser um festim, algo fresco para uma noite mais quente que o habitual. Mas não, El Guincho deixa um pouco aquém, um concerto morno até certo ponto, com muito pouco a apontar a não ser o grande comboio que se fez nas últimas duas músicas que este “filho pródigo” tocou e disse serem as músicas que poderiam ser o hino dos Milhões de FestaApós este concerto só queria um pouco de descanso, último dia, corpo começava a dar de si, precisa de RedBull e já não havia nem dinheiro, nem sala da press que me valessem. Lá me fizeram um favor e me compraram uma Sommersby, soube pela vida.

Fomos dar um giro ao Lovers onde atuavam Oozing Wound. Desgostei. Demasiado para os meus ouvidos. Ok que é bem fixe estar ali colado à coluna a ouvir o baixo do jovem esbelto de longos cabelos louros que parecia ter um orgasmo a cada nota que dava. Mérito por isso e pelo som que a banda transmitiu. Na minha opinião foi um concerto de trepar paredes, não consegui aproveitar nada com muita pena mesmo. 


Depois da volta ao Lovers, que não correu da melhor maneira, passámos pelo Taina onde bebemos uns copos de vinho e seguimos para o Palco Milhões para ver o nome da noite: Dan DeaconPor essa altura recebi uma bola da piscina para encher, diziam-me “Atira ao ar assim que puderes, vamos partir isto tudo”.



Assim foi, chegada a hora só se vê bolas insufláveis pelos ares, uma enorme nuvem de poeira novamente a invadir o recinto do Milhões de Festa e muita alegria. Nesta altura reparei na presença da baterista de Wume, April Camlin, estava a dar tudo em palco, imparável, incansável mais uma vez a juntar-se ao seu vizinho de Baltimore que agradecia a sua presença no festival e o facto de ter aceitado tocar naquela noite com ele. Foi mágico, sim. Foi cósmico? Sim. Dan Deacon tem esse poder, o poder de unir mentes através de música que não tem género. 


Na entrevista dada para o “Milhões de Notas #3” o próprio diz que se sente bem por estar no meio dos géneros, por não ser de um género específico e isso nota-se a léguas mesmo. Dan Deacon brinca com a música, faz dela gato sapato e constrói músicas como “Learning to Relax” ou “Glass Riffer”, duas das muitas músicas que fizeram parte do alinhamento do artista. O momento da noite chega quando o americano pára o concerto e pede um grande círculo. Já se aguardava este momento há muito. Era “show time”, o pedido era simples: dentro do círculo iria existir um espaço para dançar e o artista escolhia quem queria, em seguida, durante algum tempo, os escolhidos faziam o seu passo de dança e logo após isso, alguém tinha de ir para o lugar deles. Foi o caos. Aqui começou tudo. Mosh, crowd, poeira, tosse, roupa pelo ar. Delírio em Barcelos. Do nada para tudo.

Alguém começa a gritar “óculos”. Haviam uns óculos caídos no meio da confusão e aí se viu o espírito do festival. Toda a gente gritava pelos óculos, como se esses ouvissem, toda a gente procurava os óculos e já parecia uma causa perdida até que um jovem guerreiro solta o seu grito: “ÓCULOS!”. Sim. Apareceram os óculos e aí ainda houve mais delírio, corria-se, abraçava-se quem se podia, tiravam-se fotos ao grande descobridor de óculos. O concerto retomava com outro momento engraçado, caricato como o próprio DanMomento de “separação de públicos” , existia agora um grande corredor com as duas grandes fatias do público. A dar os passos de dança estavam nada mais nada menos que dançarinas que trataram de nos mostrar como se faz uma dança “à la Deacon”. Nós éramos pastilhas elásticas, dum lado para o outro, quase que flutuávamos. Foi um concerto formidável para fechar quatro dias de Palco Milhões formidáveis. Pelos vistos sim, tudo tem um fim. Isto é muito poético, de facto. O tempo não para. Mas o Milhões espera por nós como nós esperamos por ele, pensei eu enquanto dava os últimos passos até ao Palco LoversSó nos faltava agora Ho99o9 para acabar.

Milhões de Pessoas- Dan Deacon Dia 3
Bom, emoções à parte, fica para depois a golpada final assim mais emocional, Ho99o9. A banda composta por theOGM e Eaddy traz-nos algo que na minha antevisão do festival disse ser semelhante a Death GripsDe facto foi isso, um concerto puxado, um concerto de partir chão até ao fim.

O mosh era intenso, tudo a dar tudo outra vez nem parecia que tínhamos acabado de ver Dan Deacon e de ter levado uma sova poeirenta. Passaram “Bone Collector” e aí foi a “casa abaixo” ou então começou mesmo o incêndio, a insanidade estava presente, meus amigos. Eu bem avisei. 


Este público não é para brincadeiras, faz todos os concertos parecerem impróprios para cardíacos, via-se um jovem então às cavalitas de alguém a berrar junto de theOGM que na altura acabava de receber, vindo do ar, um colete, com qual perguntou mais tarde se poderia ficar. E ficou.

O cheiro a marijuana era também algo que ficava no olfato de qualquer um e pelos vistos chegou ao palco, nessa altura ouve-se: “Hey man, you guys smoke a lot of weed, man. We need some, we like weed!”




E os risos soltavam-se apesar do ambiente estar pesado. Foram quase deuses os dois grandes que atuaram na que foi o meu último concerto do palco Lovers. Assim acabou. Da maneira como começou, no Jardim das Barrocas pelas 18 horas do magnífico e quente dia com Ensemble Insano. O nome dizia como ia ser o festival, quem não viu, paciência.

É difícil não ficar emocionalmente lixado com o final de festival, ir para o campismo e ficarmos todos parvos a olhar uns para os outros, a ver quem chora primeiro, quem manda uma palavra de consolação. É lixado ouvir “Como assim já acabou?”, se Milhões de festa é isto, bem que poderia ser 365 dias com muita Red Bull mas que se dane, 4 dias fazem valer o ano, fizeram valer a espera, as horas que passei acordado, as viagens longas daqui do Sul para lá bem para o Norte.

“Foi bonita a festa pá, fiquei contente.” Podia cantarolar essa frase do Chico para sempre que me perguntarem se gostei “lá do festival para o norte, né?” cá pela casa ou no grupo de amigos.

Quero agradecer à Threshold Magazine pela confiança depositada em mim e na fotógrafa convocada, a quem também desde já deixo um agradecimento especial, a grande Sofia Ribeiro que foi impressionante e incansável mesmo naqueles momentos em que o calor se fazia sentir ou a noite já não dava para aguentar o peso de um dia de esforço.

Agradecer aos pais deste pré-adolescente que é o Milhões por o fazerem crescer sob as melhores influências musicais. Joaquim, Márcio, André e todos mais estão de parabéns. Finalmente, agradecer a todos vós que fizeram o Milhões de Festa, que fizeram a festa, que sentiram Milhões como se chegou a ouvir inúmeras vezes.
Isto foi de facto o Milhões de Festa este ano, o ano da entrada na pré-adolescência. O seu décimo aniversário. Foram dias genuínos de muito café, muita Red Bull, muita piscina, sol e escaldões, muito vinho e muitas outras coisas que podia enumerar aqui. Para o ano estamos de novo para os 11 anos de Milhões de Festa, se este se concretizar. E escreverei tudo o que me vier na cabeça novamente, tudo o que vir, sentir, ouvir.

Bandas incríveis, pessoas incríveis. Gostava imenso de ser de Barcelos por momentos, pessoal que tem um festival deste calibre tem um mundo à descoberta. Vou acabar este artigo dizendo que houve música para flutuar, música para dançar, para sentir de olhos fechados.
Obrigado Milhões, obrigado Barcelos e para o ano é partir tudo outra vez, deixar o pessoal sem dormir 4 dias como este ano para dar mais Milhões de amor, Milhões de comboios, milhões de Xispes e Milhões de música.




Dia 2+3 @Milhões de Festa



Texto: Duarte Fortuna
Fotografia: Sofia Ribeiro
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