Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – Dias 3 & 4

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – Dias 3 & 4

| Agosto 25, 2016 2:47 pm

Reportagem: Vodafone Paredes de Coura – Dias 3 & 4

| Agosto 25, 2016 2:47 pm



19 de Agosto foi o terceiro dia da última edição do Vodafone Paredes de Coura. Kevin Morby abriu o palco principal com um bom concerto, simples e agradável, onde elogiou Portugal e tocou canções já conhecidas, como “All of My Life”, e músicas novas. Entraram depois em palco os Crocodiles, cuja sonoridade genérica não beneficiou um concerto algo aborrecido, sem nenhum aspecto especial a apontar. Melhor estiveram os Psychic Ills, no palco secundário. Não sendo também uma banda especialmente original, estiveram bem com o seu rock psicadélico, num palco adequado à sua música. Enquanto regressava ao palco principal começou um dos melhores e mais intensos concertos do festival. Os King Gizzard & The Lizard Wizard, na maior parte dos festivais portugueses com a visibilidade do Paredes de Coura, tocariam provavelmente num palco secundário, mas mereceram o público que tiveram no Palco Vodafone do PdC, onde partiram tudo. Quando ouvi o mais recente disco da banda, Nonagon Infinity, não gostei muito. Ouvidas em casa, as novas músicas podem soar demasiado genéricas e repetitivas, mas num concerto, as parecenças entre as canções dão continuidade ao concerto de maneira excelente, mantendo a energia da música e do público sempre no topo. Foi um concerto muito consistente e é difícil apontar momentos especialmente bons, mas entre os destaques está sem dúvida “Cellophane”, uma das melhores malhas da banda australiana.




Os últimos dois artistas a tocar neste palco foram dois dos maiores nomes do cartaz: The Vaccines e Cage The Elephant. Ambos deram bons concertos, mas nenhum deles correspondeu ao estatuto e sucesso da respectiva banda. Os The Vaccines entraram em palco ao som do tema de abertura de Game of Thrones, no que foi o momento mais inesquecível do seu concerto. Seguiram-se algumas músicas boas, outras nem tanto. O som da voz estava várias vezes demasiado baixo e a sonoridade do trio inglês não foi suficientemente interessante para impedir a existência de vários pontos baixos no concerto, mas músicas como “Post Break-Up Sex” e “Nørgaard” são quase tão boas em 2016 como eram em 2011 e conseguiram criar maior animação. Os Cage The Elephant estiveram um pouco melhor. A setlist incluiu, como era de esperar, mais músicas dos últimos dois álbuns do que dos primeiros dois, algo de que não gostei, e o vocalista saltava e corria e esquecia-se de pôr o microfone perto da boca, mas mesmo assim foi bom ouvir ao vivo algumas das melhores músicas da banda. Em termos de interacção com o público também estiveram bem, mas, infelizmente, a energia que os músicos tentavam passar para fora de palco nem sempre era sentida.

Comecei o dia seguinte com uma passagem rápida pelo palco secundário, onde espreitei o concerto de Filho da Mãe & Ricardo Martins durante alguns minutos, não suficientes para chegar a alguma conclusão, especialmente porque mal conheço este duo. No entanto, deu para perceber que Ricardo Martins é um bom baterista, com bastante técnica. Fui depois ver, pela sétima vez, os Capitão Fausto. Tal como na apresentação do novo álbum na Casa da Música, as canções mais recentes não funcionaram tão bem ao vivo como as mais antigas. Os destaques ainda são, no geral, as malhas do seu primeiro álbum, Gazela. Não há muito a dizer sobre eles que não tenha dito em outras reportagens. Ainda assim, há que apontar a entrada da banda em palco ao som da música do John Cena (bom meme) e o mosh ocorrido durante a “Tem de Ser”. Não percebo como nem porque é que alguém haveria de fazer isso, mas aconteceu. Antes de voltar ao Palco Vodafone espreitei o concerto dos Motorama, mas a banda de pós-punk russa não me deu razões para ficar lá durante muito tempo. 

Kristian Matsson, o Bob Dylan sueco, mais conhecido por The Tallest Man on Earth, trouxe o seu folk ao palco principal do festival e encantou o público com canções muito boas, como a conhecida “King of Spain”, alguma interacção com a plateia e uma excelente presença em palco. Tinha tudo para ser o melhor concerto do dia, não viessem mais tarde os Portugal. The Man surpreender-me. Entretanto houve Cigarettes After Sex. Tocaram músicas do seu EP e apresentaram algumas que irão integrar o seu álbum de estreia. A sua sonoridade em estúdio foi bem recriada no concerto, mas não me chamou muito a atenção, provavelmente porque estava a precisar de ouvir algo não tão calmo. E isso não faltou no concerto dos Portugal. The Man. Já não os ouvia há muito tempo, nunca lhes tinha dado nenhuma atenção especial apesar de ter gostado de vários dos seus álbuns e não tinha expectativas definidas para a sua actuação, mas saí do recinto (não ia aturar Chrvrches ao vivo uma segunda vez na minha vida, não é?) muito satisfeito com o seu concerto. O som estava bom, as projecções em palco também (quem me dera vê-las melhor de onde estava) e a setlist surpreendeu-me pela positiva, como tocaram a minha música preferida deles, “People Say”. Outro aspecto do concerto que me surpreendeu foi a mistura de músicas suas com partes de músicas de outros artistas. As covers de “Don’t Look Back in Anger” e “I Want You (She’s So Heavy”) foram especialmente boas e encaixaram perfeitamente no alinhamento. Horas depois, regressei ao recinto e vi parte do DJ Set de Matias Aguayo, que não me desiludiu.


No geral, estou muito satisfeito com a experiência que foi esta edição do festival. 
Normalmente acho que se deve ir a um festival pela música, neste caso compreendo que isso não seja o factor principal. Se só tivesse em conta o cartaz não iria a todos os dias do festival. Quando recordar esta semana vou provavelmente pensar mais nos dias da vila e nos acontecimentos no campismo do que nos concertos, tirando LCD Soundsystem e pouco mais. Mesmo assim, fico feliz por ter visto alguns bons concertos e espero que para o ano tenhamos um cartaz digno de um Primavera Sound. O espaço é bom, a organização também, o público nem tanto (nunca fui tão incomodado pelo público em concertos como neste festival…), mas valeu a pena. Espero ter mais razões para voltar lá para o ano.

Texto e fotografias de Rui Santos
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