Reportagem: ENTREMURALHAS 2017 [Castelo de Leiria] – 1º dia
Reportagem: ENTREMURALHAS 2017 [Castelo de Leiria] – 1º dia
Reportagem: ENTREMURALHAS 2017 [Castelo de Leiria] – 1º dia
O Entremuralhas voltou a cobrir de negro o Castelo de Leiria no passado fim-de-semana entre os dias 24, 25 e 26 de agosto, para a sua oitava edição. Este primeiro dia de festival (quinta-feira, 24 de agosto) trouxe a palco quatro bandas: o espanhol Ramos Dual (o nome extra que totalizou como 16 os nomes a presentearem o cartaz deste ano); os californianos Bestial Mouths e os franceses Position Parallèle, ambos em estreia absoluta em território nacional e, ainda, um dos maiores nomes de culto nacionais e cabeças de cartaz do dia, os Pop Dell’Arte. Com acesso vedado aos palcos Igreja da Pena e Alma e início marcado para as 21h00, a oitava edição do Entremuralhas começava ali a fazer história, mesmo apesar deste primeiro dia ser o menos “popularizado” e após os três cancelamentos que avassalaram as semanas antecedentes ao festival.
Não vos sei precisar a que horas arrancou esta oitava edição do Entremuralhas (foi a primeira em que não consegui estar presente à hora marcada), mas posso garantir que o concerto do Ramos Dual foi uma surpresa tamanha para quem chegou ao Castelo por volta das 21h00 e para quem, como eu, só apanhou aproximadamente metade do concerto. Em formato duo, o espanhol Ramos Dual fez-se acompanhar por uma teclista, em apresentação do seu mais recente disco de estúdio DrumSolo (2017), tendo aberto o concerto com a “Intro (Haendell’s Sarabande)”. Quando cheguei ao Castelo, por volta das 21h30, já se fazia ouvir, há algum tempo, no Palco Corpo, o single “Búfalo Dron” e um concerto que da porta de entrada se apresentava já como muito promissor. Música das ondas techno, industrial e com tons punk não é um habitué na abertura do festival Entremuralhas, mas claro está, a imprevisibilidade é uma das características que tão bem define a Fade In, e isso torna cada edição do festival sempre tão especial. Este concerto do Ramos Dual e companhia veio denotar isso mesmo e, além de abrir os ânimos aos mais tímidos, também soube colocar o público a dar os seus primeiros saltos de dança. “Freedom Banzai Revolution” foi outro grande malhão presente na setlist que surpreendeu e colocou o público a interagir com a dupla na parte no refrão.
Bem, eu fiquei estupefacta porque, para já, não estava à espera que Ramos Dual fosse tão poderoso e cheio de energia ao vivo e, depois, a artista que o acompanhava nos sintetizadores fez com que toda aquela performance ganhasse um toque mágico. Após “Tu Mundo Es Us Theremín De Mentiras Y Sexo”, o multi-instrumentista e compositor de Córdoba, começou por pôr a tocar a base rítmica da música errada. Sem se deixar intimidar com o sucedido faz arrancar o enorme “Noise De Bichos In Ya Head” que conseguiu pôr a pequena multidão num delírio semi-contido. O ponto alto do concerto (do infelizmente pouco que vi) foi definitivamente este final, onde a treclista deu tudo no seu Teremin deixando, inclusive, Ramos Dual com um ar de espanto. Um malhão de etherwave que tão depressa não se fará esquecer na memória dos que rumaram a Leiria no último fim-de-semana de agosto.
Assim em retrospetiva, só tive pena que não se tivesse ouvido “Nada Importa Tanto” no Castelo de Leiria, que foi uma daquelas músicas que saltou logo a atenção do ouvido em formato estúdio. Em síntese, Ramos Dual deu um espetáculo de estreia mesmo porreiro pah, com boa luz e som que aguçou as expectativas para o segundo nome que se estrearia em Portugal, ali: os californianos Bestial Mouths.
Bestial Mouths era, à priori, um dos concertos mais promissores desta primeira noite. Além de ser uma das estreias em território nacional, a artista Lynette Cerezo – detentora de uma voz poderosa com timbre a trazer comparações a artistas como Diamanda Galás e Lydia Lunch – juntamente com os sintetizadores de Lisa Cuthbert e a bateria de Ara Vbs (que tão icónicos vídeos têm vindo a publicar no Youtube), tinham conseguido elevar as expectativas de todos aqueles que apostavam em Bestial Mouths como um dos concertos a destacar nesta edição do Entremuralhas.
Por volta das 22h10 o trio subia ao Palco Corpo abrindo a performance com o single “Witchdance” retirado do seu mais recente disco de estúdio (Still)Heartless (2017). E com este início tão disforme ao vivo, sem aqueles gritos iniciais e característicos da voz de Lynette Cerezo em estúdio o concerto começava a ficar comprometido. Mesmo após começarem a ecoar as primeiras batidas de “Greyed”, o concerto dos Bestial Mouths já via o seu desenvolver ditado. Assim que se ouviram os primeiros timbres da vocalista era notória a incompreensão constante das palavras por esta evocadas, incompreensão essa que se foi mantendo constante com o volver do concerto. Lynette Cerezo mostrava-se pouco comunicativa com o público e nem grandes hits como “Worn Skin” ou “Heartless” conseguiram fazer jus ao seu enriquecido tom vocal em estúdio. O público aplaudia esporadicamente aqui e ali mas sem um grande entusiasmo envolvido.
Apesar de breve (teve uma duração aproximada a 40 minutos), o concerto de Bestial Mouths foi, na minha opinião pessoal, o concerto mais fraco desta edição do Entremuralhas. Contudo creio também que, para aqueles que não escutaram nada em estúdio da artista, antes de assistir ao concerto, a experiência tenha sido boa. “Faceless” encerrou a performance dos canadianos que abandonaram o Palco Corpo imunes de sorrisos e com uma expressão facial apagada.
Os franceses Position Parallèle foram a terceira e última banda a marcar a sua estreia em território nacional neste primeiro dia do festival. Com concerto agendado para as 23h00 a dupla, liderada pelo vocalista Geoffroy Delacroix (Dernière Volonté), subiu a palco pelas 23h16 para aquele que viria a ser o melhor concerto deste primeiro dia de festival gótico (e definitivamente o mais atendido). A banda trazia ao público do Entremuralhas o seu mais recente disco En Garde À Vue (2017) e uma mão cheia de hits que caracterizam a sua ainda pequena discografia. Uma indubitável pedrada no charco que não deixou quase ninguém indiferente. Em grande destaque ficou a performance do vocalista Geoffroy Delacroix que conseguiu entreter de início ao fim uma multidão faminta por diversão. As suas danças ocasionais, com diferentes gestos e ritmos também contribuíram para ajudar à festa.
Apesar de não ter apontado a setlist da banda (bem aquele concerto foi para dançar do início ao fim) e uma vez que esta não foi oficialmente divulgada, de uma forma resumida posso garantir que os Position Parallèle tocaram no Palco Corpo malhões como a “Hotel Du Nord”, “Mon Plus Bel Echo”, “Néons Blancs”, “Pass Par Issi”, “Quelques Aiguilles”, “Pop Mortem”, “Si Je Te Croise”, “Par La Fenêtre” e “Mort ou Vif”, entre inúmeras outras.
A
única coisa a apontar foi a projeção que durante o concerto apresentou
alguns erros que acabaram por intreferir com a experiência total do
espetador.
O concerto dos Position Parallèle foi também o primeiro concerto do festival a ter direito a encore e o único deste primeiro dia. Foi ainda o concerto mais aplaudido da noite. Que voltem em breve!
Os míticos Pop Dell’Arte foram os responsáveis pelo encerramento do primeiro dia de festival. Previstos para as 00h00, João Peste (vocalista e membro fundador) e companhia ingressaram palco por volta das 00h18 para um concerto antológico a revisitar 32 anos de carreira. Apesar da massa de público ser menos notória que a dos antecessores Position Parallèle, (em conversas paralelas com os festivaleiros deu para perceber que Pop Dell’Arte é aquilo tipo de banda em que não há meios termos, isto é, ou se gosta ou não se gosta) fez-se ouvir “En Kphth (Em Creta)” no Palco Corpo, como música de abertura. Embora não tenha sido suficientemente forte para atrair novos espetadores, os Pop Dell’Arte começaram por encher os corações daqueles que estavam ali, de pé, a escutá-los em formato ao vivo. Findada a abertura, João Peste interviu com o público para dedicar a segunda canção do concerto, intitulada de “A New Identity”, aos Tuxedomoon, banda que viu cancelada a sua atuação no Entremuralhas 2017, devido à morte do baixista Peter Principle, e da qual João Peste afirmou como influência. Foi bonito ver uma banda do cartaz a compreender e a também expressar uma tristeza compartilhada com o público do mesmo espaço físico. Entre “Panoptical Architecture for an Empty Street”, e “Loane & Lyane Noah“, o público foi brindado com a performance poética e cativante de João Peste e uma percussão intensa levada a cabo por Ricardo Martins (Cangarra, Papaya, Adorno, Lobster). Pelo meio fez-se ainda ouvir “Sonhos Pop”.
Após “Rio Lane” João Peste balbuciou um “Obrigado. Vocês são fixes” e apresentou uma nova música a integrar o disco Panoptical Days, que segue ainda sem data de avanço oficial. Um dos pontos altos do concerto (ou que pelo menos ainda é visível na memória) foi a performance da música “La Nostra Feroce Volontá D’Amore”. Para que percebam melhor o meu ponto de vista convém referir que eu era o tipo de público que conhecia muito pouco de Pop Dell’Arte em estúdio e que estava ali a ter o meu “quase primeiro contacto” com a banda. Convém também referir que já nesta música me estava a tornar no tipo de público que gosta de Pop Dell’Arte. E eu gosto de coisas líricas, sempre gostei. Então esta música foi do tipo a cereja no topo do bolo. Com a “Freaky Dance” – e um concerto a aproximar-se do fim-, embora se notasse um esvaziamento constante de público, os Pop Dell’Arte pareciam bastante felizes por estar ali. “Querelle” foi a música escolhida para encerrar a estreia dos Pop Dell’Arte no Entremuralhas. Por incrível que pareça a banda voltou a palco para se despedir oficialmente com os singles “Anominous”, “Mr.Sorry”, “Juramento Sem Bandeira”, “Poppa Mundi” e “Poligrama”. Não o melhor do dia, mas sem dúvida um concerto especial.
O primeiro dia do Entremuralhas foi o dia que teve menos público dos três dias de festival. Neste dia subiram a palco um total de onze músicos.