Reportagem: Post-Punk Strikes Back Again [Hard Club, Porto]

Reportagem: Post-Punk Strikes Back Again [Hard Club, Porto]

| Setembro 28, 2017 1:40 pm

Reportagem: Post-Punk Strikes Back Again [Hard Club, Porto]

| Setembro 28, 2017 1:40 pm




No
passado sábado, 23 de setembro, fomos até ao Hard Club, Porto assistir à
segunda edição do mini-festival Post-Punk Strikes Back Again que este
ano prendava o cartaz com as estreia dos belgas Charnier, a presença dos
portugueses Ghost Hunt, o regresso dos franceses Tisiphone, do inglês
M!R!M, dos argentinos Mueran Humanos e a fechar o certame, também de
regresso, os alemães Bleib Modern, que avance-se já deram um concerto
enorme. Como expectado, foi um fim de tarde e dia muito recompensadores
para os que marcaram presença no evento, partilhando sorrisos,
experiências e fazendo novos amigos. Mais um evento de luxo agenciado
pela enorme promotora At The Rollercoaster/MIMO.

CHARNIER

Charnier

Com início marcado para as 18h00, a segunda edição do Post-Punk Strikes Back Again arrancou mesmo a tempo, com os belgas Charnier a estrearem o palco e a pisar território português pela primeira vez. Com EP novo na manga – o homónimo Charnier (2017) -, a banda aproveitou essencialmente para apresentar em território português novos singles, tendo aberto o concerto com “Almost a Silence”, que logo chamou a atenção aos mais distraídos. Em formato quarteto e com um total de sete músicas na setlist – cinco das quais novíssimas -, os Charnier deram um espetáculo competente para o público mais curioso que chegou a horas à sala 2 do Hard Club, Porto (O concerto teve início mesmo às 18h00). Durante os cerca de 40 minutos de duração os membros foram trocando de instrumentos entre si, mostrando-se idóneos, apesar de pouco comunicativos. Depois dos empolgante “Run”, e já na reta final da performance dos belgas, ouviram-se os já conhecidos “Bodies Flap Out” e “Gloomy Sunday” que foram muito bem escolhidos para a despedida. O concerto finalizou uns minutos antes da hora prevista, tendo sido uma boa surpresa para todos os presentes.


Charnier

GHOST HUNT

Ghost Hunt

A representar Portugal neste mini-festival de celebração da música post-punk, os Ghost Hunt subiram a palco por volta das 18h55, tal como previsto. A abrir concerto com “Under Ways”, estava ali aberto o período para a diversão total. A música dos Ghost Hunt é feita pela sobreposição de sintetizadores, incorporando no seu todo elementos do post-punk (com um baixo propulsante e feroz), krautrock e um quê de techno, que não deixam qualquer um indiferente. A aterrar no ambiente do disco de estreia homónimo, a dupla composta por Pedro Chau (The Parkinsons) e Pedro Oliveira (ex-Monomoy/Blarmino) começa por fazer eclodir “Red Zone” e o público agradece dançando. Pausa para pedir uma água e passamos a entrar em territórios densos onde se ouvem “Electric Fields”, “Games” e “Shallow End”. Apesar das pausas um pouco estendidas entre cada canção (alguém acabou por pedir “toquem mais uma”), e um errozito aqui e ali o concerto dos Ghost Hunt foi, desta edição de mini-festival, dos que mais teve intervenção do público e um dos concertos mais fofinhos do dia, resultado da própria sonoridade da banda. Já a chegar ao fim, Pedro Chau apresentou a próxima música, “TV OD”, uma versão da música original dos The Normal (1978), que foi destacadamente um dos pontos altos do concerto. Antes da despedida, o público pôde ainda ouvir mais uma música e despedir-se com carinho de uma das bandas interessantes desta “nouvelle vague” portuguesa.

Ghost Hunt

TISIPHONE

Tisphone

Os Tisiphone eram uma das grandes apostas desta segunda edição do Post-Punk Strikes Back Again. A regressar ao país um ano após a sua estreia no festival MONITOR, traziam na bagagem o seu disco de estreia homónimo, que tem vindo a destacar-se como uma surpresa no mercado da música underground. Os Tisiphone têm uma peculiaridade incrível em palco, a vocalista Clara toca de pé, numa bateria desprovida de bombo (que é tocado pela baixista Suzanne) e do hi-hat (tocado pelo guitarrista Léonard). A subir a palco pelas 19h50, os Tisiphone abrem palco com “Where Are You”, prontos para arrecadar sorrisos incontáveis e palmas frutíferas entre o público presente na sala. Apesar de terem tempo limitado para tocarem, todos os que assistiram ao concerto dos Tisiphone sentiram-se extremamente recompensados. A banda apresentava na Invicta singles “Blind”, “Spiritual Object” e ainda os mais antigos “Looking Down”, “Empty Streets” e “Black Velvet” – esta última a arrecadar um êxtase compartilhado entre todos os expectadores (muitas emoções à mistura). Além das músicas do LP de estreia, o Porto teve ainda a oportunidade exclusiva de ouvir o novíssimo single “Atomic”, que deverá integrar a tracklist de um novo trabalho. Com o tempo de concerto a chegar ao fim, os Tisiphone decidiram surpreender de vez (e para sempre) todos os espectadores com o enorme e também novo single “Hereux Je Suis”. A única música da banda cantada na sua língua nativa foi definitivamente o ponto alto do concerto. A vocalista Clara é a nova Nina Hagen e disso já não restam dúvidas. “Hereux Je Suis”, mais que uma música é um hino. E os Tisiphone são definitivamente uma banda que não pode ficar de fora dos holofotes das listas de melhores novas bandas. Que single poderoso! Que sensações tamanhas que invadiram os corpos de todos os presentes (só queremos repetir a dose) e que não deixaram ninguém ficar indiferente (Voltem para o Post-Punk Strikes Back Again, por favor). Heróis! Heróis!

Tisphone

M!R!M

M!R!M

De regresso a Portugal, depois das passagens por Leiria e Lisboa, M!R!M – projeto a solo do engenheiro de som Jack Milwaukee – estreava-se pela primeira vez na Invicta. A apresentar o mais recente disco de estúdio, Iuvenis (2017), e acompanhado por Jerro Sabaii nos sintetizadores e percussão, a dupla subiu a palco por volta das 22h15. Abrindo o concerto com “Crast” começou logo a instalar-se uma atmosfera fofinha no Hard Club. Apesar da distorção excessiva (já característica do trabalho em estúdio) que se fez sentir na abertura do concerto, com o volver da performance o som foi tornando-se gradualmente mais apelativo. A interação com o público foi certeira e sempre com um “obrigado” a chegar nos momentos certos. Ouviram-se singles como “Broken Hearts Club”, “Matilde”, “Avoid”, “Grand Duchy Of Tuscany” e “To You My Bliss”, sendo o primeiro concerto do festival a fazer acompanhar-se de projeções, que embora pouco notórias (pelo facto da “tela” serem as cortinas pretas), foram relevantes para acrescentar algo novo ao que até então tínhamos assistido. M!R!M foi uma surpresa boa para aqueles que os viam ao vivo pela primeira vez ali no Porto. De regresso a Iuvenis, Jack Milwaukee despediu-se do público português dizendo que tinham merchandise disponível para venda à saída da sala e que nós (público) fomos uns fofos. (Cutes.)

M!R!M

MUERAN HUMANOS 

Mueran Humanos

Os Mueran Humanos eram um dos nomes mais chamativos deste Post-Punk Strikes Back Again. A regressar ao país depois da passagem pelo warm-up do NOS Primavera Sound, a dupla argentina (atualmente sediada na Alemanha) trazia novos singles para apresentar em primeira mão, além do seu mais recente disco de estúdio, Miseress (2015). A subirem a palco pelas 23h10, Carmen Burguess (voz, caixas de ritmos, sintetizadores) e Tomas Nochteff (voz, baixo, tambores) fizeram ecoar na sala mais pequena do Hard Club o novíssimo single “Vestido”, a integrar o próximo disco da banda, que segue ainda sem data anunciada. Além do referido tema, o público portuense pôde ainda ouvir “Guardián de Piedra” e “Detrás de una Flor” em primeira mão, aproveitando para dançar ao som dos sintetizadores. O concerto dos Mueran Humanos foi, contudo, um concerto que dividiu opiniões relativamente ao seu resultado final. Mesmo que a pouca interação com o público não tenha sido relevante para a avaliação final, ficou uma sensação de que em estúdio os Mueran Humanos conseguem cativar mais que ao vivo. Não foi um concerto mau, de longe, mas (pessoalmente) faltou ali qualquer coisa para ser um espetáculo tão cativante como o esperado à priori. A fechar concerto com “Espejo en la Nada”, os Mueran Humanos despediram-se do público português com um “Buenas Noches”. O concerto finalizou por volta das 23h50. Por ouvir ficou o enorme “Corazón Double”.

Mueran Humanos

BLEIB MODERN

Bleib Modern

Os alemães Bleib Modern foram o único nome a repetir a estadia no mini-festival. (E ainda bem que voltaram). Formados por Philipp Läufer em 2014, os Bleib Modern foram uma surpresa enorme ao vivo. O concerto, poderoso, começou logo a chamar a atenção quando as guitarras de “Dust” se fizeram ouvir na sala. Com a famosa t-shirt Life is Hell e a sua voz forte e obscura, Philipp Läufer e companhia encheram o palco de uma música que soa incrivelmente melhor ao vivo que em estúdio. O seu post-punk obscuro, com influências da coldwave e do shoegaze arregalaram os ouvidos dos espectadores e conquistaram os corações dos que os viam ali pela primeira vez. “Hate Abuses Me” – single retirado do álbum de estreia -, foi suficiente para deixar o amor desabrochar numa sala já saudosa por um festival incrível que estava a chegar ao fim. Os Bleib Modern são maravilhosos. A sua simpatia contagiante e a forma afectiva com que tratam os fãs não deixam ninguém indiferente. O concerto no Porto refletiu isso e se há forma de descrever o que se passou na sala depois da meia noite, numa palavra, é saudades. A apresentar em primeira mão o terceiro disco de estúdio Antagonism (2017), ao vivo os Bleib Modern transformam-se em autênticos camaleões de palco. “Mindless”, “Nothing” e “Mirror” foram três dos grandes destaques da noite, resultando num entretenimento celestial e totalmente envolvente. A arrecadar inúmeros aplausos entre cada tema e vários gritos de êxtase, os Bleib Modern fecharam concerto com “Blue Avowal”, mostrando que a sua repetição no festival, e o facto de serem a banda responsável pelo encerramento do certame, não foi por acaso. (Que voltem em breve, por favor.)

Bleib Modern

A segunda edição do Post-Punk Strikes Again voltou a sublinhar o profissionalismo, simpatia e eficácia da promotora independente At The Rollercoaster que nos últimos anos tem trazido excelentes projetos e concertos a solo nacional, continuando a oferecer a um público de nicho experiências únicas. Foi uma edição excelente, com projetos dentro da mesma onda musical, mas díspares entre si, que garantiram uma miscelânea de sensações e, obviamente, um dia muito bem passado no Porto. Uma iniciativa de louvar. 

Post-Punk Strikes Back Again [Hard Club, Porto]

A Fotogaleria completa do evento pode ser vista aqui.
 
Um agradecimento especial aos Tisiphone que se disponibilizaram para uma entrevista pessoal (a ser publicada aqui em breve) e um agradecimento do tamanho do mundo à At The Rollercoaster que nos recebe sempre tão bem a cada evento.





Texto: Sónia Felizardo
Fotografia: Virgílio Santos
FacebookTwitter