Reportagem: OUT.FEST 2017 – Dia 4 [ADAO, Barreiro]
Reportagem: OUT.FEST 2017 – Dia 4 [ADAO, Barreiro]
Outubro 15, 2017 6:59 pm
| Reportagem: OUT.FEST 2017 – Dia 4 [ADAO, Barreiro]
Outubro 15, 2017 6:59 pm
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O último dia, 7 de outubro, da 14.ª edição do OUT.FEST – Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro, trouxe ao peculiar espaço da ADAO (Associação Desenvolvimento Artes e Ofícios), nada mais nada menos do que uma dúzia de concertos, divididos por quatro palcos: Palco Oficina, Sala das Colunas, Sala de Jantar e Salão Nobre.
Esta Associação de Artistas, tem o seu “gigante” atelier num antigo Quartel dos Bombeiros do Barreiro. É um espaço com cerca de 3200 metros quadrados, que pelas suas características e dimensões acaba por ser o lugar ideal para um evento desta natureza, ateliers de moda, fotografia, salas de exposições, tornaram este espaço cultural num local aprazível como desejaríamos nós que houvesse em todas as cidades. Este ano, para além do espaço da ADAO, o evento realizou-se também na Igreja de Santa Maria, no Museu Industrial da Baía do Tejo e no Auditório Municipal Augusto Cabrita. Na ADAO, a noite teria que ser de escolhas, pois alguns concertos eram à mesma hora, talvez algo a “afinar” no futuro.
Cerca das 21h30 na Sala das Colunas, bem composta, surge em palco Simon Crab, figura central dos Bourbonese Qualk, banda mítica do chamado underground da cena electrónica, formados, em Inglaterra, nos anos 80. Em palco acompanhado de uma jovem baterista portuguesa, a Diana Combo, levou-nos a uma viagem por terras da electrónica, onde pontificam, agora, sonoridades menos cinzentas e até, aqui e ali, mescladas de laivos de cor e luz.
O ponto alto da noite, estaria reservado para as 22h00 no Palco Oficina, com a presença dos históricos This Heat, agora denominados This Is Not This Heat. Formados em 1976 em Camberwell, Londres, pelos multi-instrumentistas Charles Bullen (guitarra, clarinete, viola, voz e tapes), Charles Hayward (bateria, teclados, voz e tapes) e Gareth Williams (teclados, guitarra, baixo, voz e tapes). Gareth Williams morreu em 2001, pouco após a banda se ter reunido em novos ensaios. Em 2016, Charles Bullen e Charles Hayward resolvem recuperar a banda, agora com a denominação: This Is Not This Heat (mas são).
No Barreiro tivemos oportunidade de conferir que as deambulações sonoras, variam entre vários estados, da electrónica, à acústica, passando pela colagem, o rock, o punk, a improvisação, tudo isto numa perfeita harmonia, onde por vezes o caos é a ordem… existe harmonia no caos. Com uma assistência onde a média de idades era sem dúvida elevada, viveram-se autênticos regressos ao passado, visivelmente estampados no rosto de quem ali estava. Havia arrepios, havia sorrisos, a cumplicidade era mútua a cada tema que se ouvia.
Quase duas horas de um fantástico e energético concerto presenteado pelos “velhinhos” This Heat, que em palco apresentaram-se com uma nova geração de músicos e percorreram os seus dois, fabulosos, álbuns, This Heat (de 1979) e Deceit (de 1981) e o EP Health and Efficiency (de 1980). Foi, sem dúvida um momento único! This Heat… This Is Not This Heat… enfim, a música é a deles!
Há mesma hora dos This Is Not This Heat, no Salão Nobre, as sonoridades eram bem diferentes e estavam entregues a Nocturnal Emissions. O projeto fundado em Derbyshire no final da década de 1970 por Nigel Ayers, contou, na altura, com a colaboração de Danny Ayers e Caroline K.A a partir de 1984. As sonoridades extrovertidas do projecto Nocturnal Emissions, continuaram a ser produzidas, mas só já pelo seu fundador Nigel Ayers. O artista, que conta já com uma existência invejável, cerca de 40 anos de produção de sonoridades, trouxe ao Barreiro as suas características e próprias ambiências sonoras, ora ruidosas, ora harmoniosas.
Na Sala de Jantar, DJ Problemas (projeto de Afonso Mota) servia pratos de electrónica / house / trance e sei lá o que mais, muita gente sem ter reservado mesa esperava a sua vez no exterior (corredor). Um problema.
O trio que veio de Brooklyn, os Black Dice, no Palco Oficina mostraram que a música não é para meninos, noise, rock e electrónica, colagens sonoras às carradas não deixaram ninguém indiferente à sua actuação.
Texto: António Caeiro
Fotografias: Virgílio Santos