Reportagem: HOLYGRAM + The Woodentops [Hard Club, Porto]
Reportagem: HOLYGRAM + The Woodentops [Hard Club, Porto]
Novembro 8, 2017 3:27 am
| Reportagem: HOLYGRAM + The Woodentops [Hard Club, Porto]
Novembro 8, 2017 3:27 am
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No passado sábado (4 de novembro) a irreverente At The Rollercoaster voltou a proporcionar mais uma icónica noite aos fãs da música underground e de tonalidades obscuras no Hard Club, Porto. Como principal atração estava o regresso dos britânicos The Woodentops para um concerto único em Portugal, e igualmente histórico. As altas expectativas tendiam, contudo, para os alemães HOLYGRAM que se tornaram relevantes na cena post-punk com a edição do muito aclamado EP de estreia homónimo, editado o ano passado.
HOLYGRAM
Com concerto previsto para as 22h00 os HOLYGRAM subiram a palco pelas 22h05 com “Hideaway” como pano de fundo e quatro, dos cinco elementos integrantes, prontos para surpreender o público com a sua música para os perdidos. A banda alemã rapidamente se tornou um fenómeno, mesmo apesar de jovens, após editar o primeiro trabalho curta duração em outubro do ano passado. Basta observar a quantidade de pessoas que suportaram o trabalho do quinteto no Bandcamp, as edições em cassete completamente esgotadas e fazer o streaming do EP para perceber que estamos perante uma banda com uma prospeção tamanha. A At The Rollercoaster estava atenta e soube trazê-los numa altura certeira, em estreia absoluta, para uma abertura de concerto que foi icónica (se fossem a banda principal ninguém desconfiava). “Daria”, o segundo single apresentado, foi também o que começou a elevar os ânimos em sala, pela sua aura ritmada (não tem como não dançar) e aquele refrão que não sai da cabeça (não tem como não cantar).
Apesar das pausas um pouco prolongadas entre as canções – que serviram para trocar umas poucas palavras entre banda e público – os alemães tiveram uma prestação incrível e ainda trouxeram mais dois novos singles para mostrar ao público português. A primeira apresentada creio que se chama “Signals” (segundo este vídeo da mesma música apresentado na edição do Wave Gotik Treffen deste ano) e a segunda, “She’s Like The Sun”, que para quem ainda não conhecia tornou-se super fácil de assimilar com a progressão da música especialmente pelo seu ritmo à la 80’s – a fazer lembrar um cruzamento entre bandas de luxo como The Sound e DIIV – e também pelo refrão simples “She’s Like The Sun, Far Away (x4)” (podem ouvir uma versão ao vivo aqui) e as melodias psicadélicas intrínsecas.
O ponto alto do concerto aconteceu com o mais parado “Accelaration”, canção na qual o palco, lentamente, se foi enchendo por um fumo que se projetou para o público até a um ponto em que o vocalista já não se via e reconheciam-se apenas as silhuetas do baixista e guitarrista. Foi como ver HOLYGRAM no nevoeiro com toda aquela toada negra e obscura e um fundo azul, afinal a música é mesmo para os perdidos. Já na reta final a banda afirmou que já só faltavam duas músicas para se irem embora (para nosso infortúnio) tendo tocado o enorme e já muito aguardado hit “Still There” que colocou toda a gente a cantar. A finalizar “Distant Light”, a música que também encerra o EP de estreia e que funcionou como uma malhão de fuzz para gastar de vez as energias. Que concerto enorme! Os HOLYGRAM são definitivamente um dos novos nomes no panorama musical a reter e o concerto que deram veio demarcar que a sua projeção tem uma qualidade indubitável tanto em álbum como ao vivo. Um dos grandes concertos de 2017.
The Woodentops
A subir a palco pelas 23h05, os britânicos The Woodentops regressavam a Portugal seis anos depois de terem atuado no Teatro Municipal de Vila do Conde, com uma setlist recheada dos grandes êxitos do disco Giant (1986) e o alguns singles mais recente Granular Tales (2014). Com três membros da formação atual e sem a teclista Aine O’Keeffe, os Woodentops apresentaram-se em formato quarteto para apresentar 34 anos de carreira. Para dar início ao concerto ouviu-se “Get It On”, um dos memoráveis singles do disco de estreia Giant editado pela conceituada Rough Trade. Embora com um jogo de luzes inferior ao dos HOLYGRAM, os Woodentops apresentaram-se cheios de energia em palco (também pudera, Rolo McGinty encontrava-se bastante embriagado) e prontos para colocar o público presente na sala – que ainda parecia estar em ressaca do concerto anterior – a dançar.
Apesar da pouca comunicação do público com a banda, os aplausos, após o findar de cada canção mostravam-se fervorosos e os Woodentops certamente que encheram as medidas ao público que estava ali propositadamente para os ver, talvez não da forma mais memorável, mas eventualmente uma das mais divertidas (
Rolo McGinty quis uma noite marcante e teve-a, o espaço do palco parecia insuficiente para uma tamanha vontade de expressão, o que o levou a saltar para o meio do público várias vezes durante o volver do concerto. Além disso ainda durante a performance Rolo McGinty foi buscar umas baquetas junto ao baterista Paul Ashby para invadir a bateria dos HOLYGRAM na execução de “Good Thing”. Houve ainda espaço para ouvir a “Why”, música que no seu final colocou o vocalista a desatarraxar o microfone enquanto gritava “punishment” (ok isto não foi giro). Após uma breve apresentação dos músicos que o acompanhavam em palco, Rolo McGinty e banda tocaram “Stay Out Of The Light” para encerrar a despedida do território nacional.
Depois de um fim que não teve pedido de encore por parte do público, os The Woodentops abandonaram o palco agradecendo ao público. O que não era esperado era que cerca de três minutos depois voltassem a palco com vontade de tocar mais e a dizerem: “Actually we will play one more song“. Bem lá animados estavam. De uma forma geral o concerto dos The Woodentops foi tipo o concerto dos The Replacements no palco principal do Nos Primavera Sound 2015, divertido mas pouco eficaz.
Fotogaleria completa aqui.
Texto: Sónia Felizardo
Fotografias: Edu Silva