Reportagem: Circuit des Yeux + Matchess [Auditório de Espinho – Academia]
Reportagem: Circuit des Yeux + Matchess [Auditório de Espinho – Academia]
Abril 30, 2018 6:24 pm
| Reportagem: Circuit des Yeux + Matchess [Auditório de Espinho – Academia]
Abril 30, 2018 6:24 pm
| Nada previa que a noite de 28 de abril se tornasse tão bonita e perfeita depois de termos feito a escolha de ir ver o primeiro dos dois concertos que Haley Fohr, mentora do projeto Circuit des Yeux, tinha agendado em Portugal. A artista regressou ao nosso país para apresentar Reaching For Indigo, o seu terceiro disco de estúdio, o qual tem sido mencionado como a obra-prima na carreira de Fohr. Tê-lo ouvido ao vivo, no passado dia 28 de abril no Auditório de Espinho – Academia e ainda por cima acompanhada de músicos tão exímios como os que marcaram presença no palco naquele sábado, certamente que fez todos os presentes perceberem a importância de uma obra deste calibre.
Previsto para as 21h30, com abertura de Matchess – projeto a solo de Whitney Johnson, violista de Circuit de Yeux – o primeiro concerto da noite teve arranque pelas 21h36 numa sala praticamente ausente de luz com Whitney Johnson a acender uma vela antes do início da performance musical. Matchess nasceu em 2013 e o seu discurso baseia-se na reprodução de sons e significados através de vários processos históricos e materiais, como a repetição de fita bobina-a-bobina, samples através de cassetes e gravações de campo. O seu concerto teve, se não estou em erro, um total de quatro músicas que foram tocadas sem pausas e sem espaço para aplausos durante a sua execução. Whitney Johnson ia criando uma fusão entre elementos da música clássica contemporânea com a música eletrónico-experimental, enriquecendo-os com um certo misticismo. Entre pausas, numa voz embutida em efeitos, Matchess cantava em plena simbiose com a sua viola, tendo sido uma abertura honrosa para o suprassumo que viria a ser Circuit des Yeux.
Depois do intervalo de 20 minutos entre o primeiro e segundo espetáculo, o projeto da norte-americana Haley Fohr subiu a palco, em formato quarteto, pelas 22h28, para uma performance que faria mais que jus a todas as críticas excelentes que o mais recente disco de estúdio, Reaching For Indigo, tem arrecadado. Esta obra peculiar passeia entre uma folk vanguardista e barroca, tendo marcado a estreia de Fohr nas edições pela Drag City, daí que se perceba a referência de Haley Fohr em concerto, enquanto afinava a guitarra, ao facto de que durante dez anos ninguém quis saber dela, mas que agora as coisas são diferentes.
A abrir concerto com “Brainshift”, que logo nos primeiros segundos fez o público encantar-se com as tonalidades tipicamente graves e obscuras que Haley Fohr consegue atingir, foi em “Black Fly” que Circuit des Yeux e companhia surpreenderam toda a plateia do Auditório de Espinho. Todas as sobreposições e desenvolvimentos estabelecidos entre a guitarra de doze cordas (de qual Haley Fohr agora se apoderava), viola, contrabaixo e bateria foram exímios e a vontade do público era certamente de se levantar para libertar todas aquelas sensações lindas que os Circuit des Yeux emanavam do palco. O resultado, incontáveis e entusiastas aplausos vindos de um público de sorriso esboçado ao findar de cada canção. Entre os hits do novo álbum pudemos ainda ouvir “Paper Bag”, mais um dos temas inaugurais da noite que satisfez quaisquer dúvidas (se é que ainda as havia) sobre Haley Fohr ser um camaleão ao nível da voz (por vezes a lembrar os tons clássicos de Diamanda Gálas e a voz operática de Laure Le Prunenec, a.k.a. Rïcïnn).
Nas pausas entre as canções Haley Fohr aproveitou ainda para apresentar a banda, dizer uns simpáticos “thank you” e ainda introduzir a última música do concerto dizendo “Thank you very much (…) In America we don’t really do encores because no one wants to hear you (…), so this is going to be our last song, but if you clap then we will play a few more songs“. E obviamente que o público aplaudiu com uma força estrondosa para que voltassem, afinal Circuit des Yeux estava a ser uma experiência incrível. Nem tenho como descrever o que se sentiu naquela bela noite de sábado.
A artista regressou a palco para um encore de três músicas, sendo que a última foi uma cover da Lucinda Williams e contou apenas com a presença de Haley Fohr como pano de fundo (além das projeções e luzes que finalmente lhe iluminavam a cara). Este foi e será, definitivamente, um dos grandes concertos de 2018.
Texto: Sónia Felizardo
Fotografia: Eduardo Silva