Reportagem: MONITOR 2018 [Stereogun, Leiria]
Reportagem: MONITOR 2018 [Stereogun, Leiria]
Reportagem: MONITOR 2018 [Stereogun, Leiria]
Para um primeiro concerto de carreira, Matthieu Roche esteve bastante à altura mostrando, ainda, que a sua voz doce não se fica só pelos trabalhos em estúdio. Durante o concerto pudemos vê-lo a dançar aqui e ali e ouvir temas como “So Typical”, “Lust For Lights” e “Heatwave”, além de uma mão cheia de novas faixas a integrar o disco de estreia que segue ainda sem data de lançamento prevista. A encerrar com “Collapse”, Matthieu Roche agradeceu à Fade In pelo convite e por todo o festival MONITOR, sempre com aquela sua simpatia tímida. Para quem chegou a tempo este foi um bom aperitivo de entrada e a garantia que daqui a uns anos Fragrance. será certamente um produtor requisitado pelas pistas de dança.
O concerto de Hante. começou de forma mais calma e foi progressivamente ganhando uma estrutura enérgica que culminou numa intensa interação com o público, onde nos primeiros minutos da performance de “One More Dance”, Hélène de Thoury desceu do palco para a zona do público para que todos pudéssemos disfrutar da sua música ao mesmo nível enquanto íamos dançando. Apesar da voz se notar um pouco baixa face à instrumentação que a acompanhava, Hante. manteve uma performance dinâmica interpretando diferentes estados espírito em placo e revisitando os seus diversos trabalhos através de músicas como “Live To Die Another Day”, “Éternité”, “Storm” ou “Living in a French Movie”. A sua performance teve fim pelas 20h30.
Esta performance foi também enriquecida pela sonoridade divergente que caracteriza a discografia dos Black Nail Cabaret e que conseguiu construir momentos distintos e igualmente diligentes durante a sua execução. Deu para dançar, cantar em uníssono, gastar a reserva de calorias até à hora de jantar e ainda ouvir temas como “Sister Sister“, “Let Me In“, “Satisfaction“, “Therapy“ e, para finalizar, “Veronica“.
Pelas 21h30 estava assim encerrada a primeira parte desta terceira edição de festival MONITOR que pela noite fora ainda prometia muitas surpresas. Devido ao atraso de 30 minutos foi comunicado pela organização que a segunda parte do festival iria arrancar pelas 23h30 e não pelas 23h00 como estava inicialmente previsto.
“Obrigado, that’s what you say in portuguese, right? Thanks a lot to you guys, the next one is in french” disse Giraud e começávamos a ouvir mais uma das grandes malhas do trio francês, “Je Te Fuis” que seria sucedida, mais tarde pela também poderosa “Nonsense”, ambas a receberem uma imensidão de aplausos. Já com “Strangers” a começar por se fazer ouvir, aconteceu mais uma vez um engano, assumido por Giraud com um “we’re sorry tonight” o que levou a alguém do público afirmar “shame on you“, prontamente respondido pelo vocalista com um “yeah, shame on us (…) Do you want to dance?“, preparando assim o público para mais folia. Com “The Light” a ser anunciada como última música da performance, os L’Ann2000 acabariam por surpreender o público com ainda mais uma música, desta vez em tributo aos The Cure, com uma cover do seu conhecidíssimo tema “A Forest”. Foi uma performance muito boa e a prova de que é possível errar e mesmo assim dar um concerto muito aplaudido e sentido, pelo público. Os L’Ann2000 despediram-se de palco pelas 00h50.
Depois de uma performance estrondosa com “Immaterial Man” a fazer escutar-se suja, o guitarrista Michael Pedel queixou-se de problemas ao nível do amplificador o que levou cerca de nove minutos a voltar a restabelecer. Ao contrário do concerto dos L’An2000 esta foi uma pausa extremamente longa e sem interação entre banda público o que, certamente, levou a que muitos acabassem por ficar desiludidos com a prestação da banda. Na minha opinião pessoal, apesar não ter percebido qual o problema com o amplificador, esta pausa acabou por não afetar a minha experiência como ouvinte, uma vez que os Autobahn continuaram a fazer o papel deles enquanto músicos, sem deixar que a sua prestação em palco fosse afetada por isso, tocando com a energia que eu tinha projetado para eles. Aliás, também na minha opinião profundamente pessoal, a performance de Craig Johnson foi meritória. Quando não cantava, além de distante, por vezes virava-se de costas para o público para que percebêssemos que aquele era o momento dos seus colegas brilharem.
Seguindo a sonoridade mais punk de Dissemble a banda apresentou ainda “Beautiful Palce To Die“ e “Impressionist“ antes de retomar a The Moral Crossing. Foi depois de “Future“ que se notou que os problemas técnicos sentidos inicialmente já estavam mais atenuados, contudo Craig dirigiu-se pela primeira vez ao público com um “sorry, it’s really hard to play with this amp“, deixando que “Execution/ Rise” se fizesse ouvir alto e bruto para que o público sentisse a energia e, igualmente, perdesse o controlo. De regresso a Dissemble ouvimos ainda a enorme “Ostentation“ antes de os Autobahn se despedirem de Portugal com o tema homónimo “The Moral Crossing“, uma das melhores composições deste segundo disco e, eventualmente a mais marcante de toda esta performance, sem direito a encore.
Estava ali encerrado (para mim) o grande concerto do MONITOR 2018 e a resposta ao porquê dos Autobahn serem todo um novo furacão. Já diziam os Kraftwerk, “Wir fahren fahren fahren auf der Autobahn“, mas o que eles não sabiam era que um dia aparecia uma nova Autobahn que nos iria conduzir a nós. Essa “Autobahn“ chegou e é liderada por cinco músicos exímios de Leeds, talvez demasiado perfecionistas, mas ainda assim profissionais.
Para encerrar a terceira edição do MONITOR, a Fade In escolheu o electro-punk minimalista de Petra Flurr, vocalista que em Leiria se juntou ao mexicano 89st para encerrarem o MONITOR de forma histórica, como não poderia deixar de ser. A subirem a palco por volta das 02h30 a dupla promoveu mais uma das atuações que colocaram a pista da Stereogun ao rubro, numa dança descoordenada, mas sempre sentida. Apesar de terem uma plateia mais reduzida que os antecessores Autobahn isso não inibiu Petra Flurr & 89st de mostrarem que no que toca à música eletrónica eles sabem o que fazem.
A apresentarem novos temas em palco foi com os mais conhecidos “Augenhöhe“, “Criminal Is The Name“, “Flurr- Frei sein“ e, claro, o enorme “Monotone Agressione Zone“, que o público do MONITOR mais uma vez pôde comprovar a eficácia e eficiência da Fade In na escolha criteriosa de excelentes artistas que outrora, muito dificilmente passariam por cá. Petra Flurr & 89st despediram-se do público português por volta das 03h26.
Esta terceira edição do MONITOR foi totalmente exemplar. O cartaz estava muito bom para quem teve a possibilidade de ouvir as bandas em estúdio; aconteceu pela primeira vez na sala Stereogun – um dos espaços mais futuristas do país com uma sala reservada a fumadores e pista de dança reservada a não fumadores -; os artistas e performers eram bastante amigáveis e, no geral, deram bons concertos e a Fade In voltou a mostrar que há uma cultura que não se vende em prateleiras de hipermercados. Que venha a quarta edição.