Reportagem: Conan Osiris [Maus Hábitos, Porto]

Reportagem: Conan Osiris [Maus Hábitos, Porto]

| Junho 21, 2018 2:33 pm

Reportagem: Conan Osiris [Maus Hábitos, Porto]

| Junho 21, 2018 2:33 pm



Faltavam poucos dias para o iniciar de 2018 quando Conan Osiris surpreendeu tudo e todos com uma receita inesperada de pastelaria. Adoro Bolos, o terceiro álbum do músico e produtor lisboeta pela AVNL Records, tornou-se no disco mais badalado e infame dos últimos meses, dividindo crítica e público num debate interminável sobre a legitimidade ou não de um disco que soa tão alienígena como familiar. Desde então multiplicam-se as entrevistas, concertos e performances em canais televisivos. 


O autor de “Borrego” marcou a sua estreia na Invicta no dia 14 de junho, quinta-feira, no quarto andar mais famoso da cidade. Foi com o supracitado tema que Osiris iniciou a noite, antecedido apenas por um breve momento a capella ao estilo de “Beija-Flor”. A partir daí o concerto desenrolaria pelos restantes temas que marcam o intrigante Adoro Bolos (de fora ficou apenas “Obrigado”). O ambiente era claramente festivo, com um público em êxtase para receber um dos fenómenos mais urgentes que a música portuguesa assistiu nos últimos tempos. “Eu não vos mereço” dizia o músico lisboeta, surpreso pela recepção calorosa com que foi recebido nesta segunda atuação exclusivamente sua (a primeira decorreu em maio, no Theatro Circo, até lá tinha aberto para outros artistas como Linn da Quebrada). Ao lado de João Reis Moreira, que o acompanhou com os seus paços de dança sui generis, Conan Osiris explorou o lado risível e descomprometido dos temas do seu mais recente disco, equilibrando-os com a melancolia e comoção de “Barcos (Barcos)” e “Ein Engel”, que tem vindo a receber um tratamento mais angelical e lunar nas suas últimas performances. 




A restante discografia de Conan Osiris não escaparia ao alinhamento da noite, com “Coruja” e “1ovni” a representarem os únicos temas de Música, Normal, que ouviríamos durante a noite. A recepção foi, mais uma vez, calorosa, com boa parte da plateia a acompanhar os temas de uma ponta à outra. A segunda, pelo seu instrumental caótico e efusivo, transportou-nos para a euforia de uma noite de verão bem passada ao volante de um carrinho de choque. O ritmo frenético aumentaria com a chegada das icónicas “Celulitite” e da faixa que dá título ao seu mais recente disco, culminando o alinhamento com “59 Estrelas”, tema de Sreya e do seu álbum Emocional, produzido pelo próprio Osiris. Instrumental pujante e lírica descomprometida remetem-nos para as imagens de um teledisco dos Santamaria, ou de um João Baião hiperativo no saudoso ‘Big Show Sic’. Por fim, pedia-se o regresso de Conan Osiris para o tão aguardado momento que foi “Amália”, 90 segundos de puro deleite e tristeza em homenagem à figura que melhor soube cantar o choro e a o fado português. 



Numa noite onde o riso e o choro coabitaram em união, sobressaiu acima de tudo o amor nutrido por um culto em ascensão. Alguns apontam a sua música como inovadora, alienígena ou produto do futuro, mas o seu trabalho é, na verdade, um reflexo do presente. Viver cada dia como se não existisse amanhã é um dos seus lemas, onde o trágico e o apocalipse são uma constante. A sua música é para ser sentida, e foi isso mesmo que pudemos comprovar nesta noite memorável de junho. 



Conan Osiris [Maus Hábitos, Porto]

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