Reportagem: Varg + M.E.S.H. [Les Siestes Électroniques, Coimbra]
Reportagem: Varg + M.E.S.H. [Les Siestes Électroniques, Coimbra]
Agosto 26, 2018 9:39 pm
| Reportagem: Varg + M.E.S.H. [Les Siestes Électroniques, Coimbra]
Agosto 26, 2018 9:39 pm
|
A primeira edição do festival itinerante Les Siestes Électroniques em Portugal decorreu nos passado dias 24, 25 e 26 de agosto no jardim da Casa das Artes da Fundação Bissaya Barreto, em Coimbra. O festival francês conta com mais de 20 edições ao todo e tem levado alguns dos nomes mais emergentes da vanguarda eletrónica contemporânea aos quatros cantos do mundo. De dia, longe da confusão das praias e dos festivais habituais, passaram pelo centro de Coimbra nomes como Varg (um dos muitos projetos de Jonas Rönnberg), as estreias nacionais de Kate NV, Giant Swan e M.E.S.H., o parisiense Zaltan e os portugueses João Pais Filipe, Ghost Hunt, The Lions e DJ Nigga Fox.
Varg, M.E.S.H. e The Lions estiveram no arranque desta primeira edição em terras lusas.
Varg |
Ao vivo como em estúdio (ou até no instagram), Varg assume uma posição sempre extravagante perante o intrigante universo da música techno. Para muitos, o seu trabalho poderá nem se integrar nesta categoria pelo introduzir frequente de elementos fora do espectro do género. A sua performance neste primeiro dia de festival, uma exploração sónica de texturas e atmosferas lascivas, poderá ter apanhado alguns de surpresa, contando porventura com um fim de tarde descomprometido de ritmos e batidas familiares. Em oposição, o jardim da Casa das Artes da Fundação Bissaya Barreto recebeu uma barreira impenetrável de graves e linhas de baixo que puseram à prova os limites do sistema de som. A abordagem tímida e introspetiva com que iniciou a performance aproximou-se do registo apresentado em Techno Music, um disco que de techno tem, na verdade, muito pouco, com vozes sussurrantes e composições de toada melancólica e gelada a dar lugar a um discreto mas destrutivo conjunto de batidas esmagadoras. Em cerca de cinquenta minutos, o co-fundador da Northern Electronics proporcionou um set irrepreensível de paisagens densas e poderosas, livre de normas e convenções pré-estabelecidas que demonstram o espírito irreverente de um dos mais emergentes produtores da atualidade.
M.E.S.H. |
Se em Varg assistimos à vertente mais arrojada e abstrata da esfera electrónica, em M.E.S.H., o projeto do DJ e produtor norte-americano James Whipple, assistimos à sua vertente mais suja e libertina. Peça fundamental no desenvolvimento do coletivo berlinense Janus, que em conjunto com os fundadores Dan DeNorch e Michael Ladner tem oferecido algumas das noites mais entusiasmantes do circuito experimental da música de dança, Whipple conjuga no seu alinhamento uma palete eclética de estilos e sonoridades que refletem o que de melhor se anda a produzir no momento. Embora aclamado pelas suas produções sob a chancela da germânica PAN, onde editou o mais recente Hesaitix, é nas suas performances como DJ que o seu trabalho ecoa mais alto, onde as batidas desconstruídas dos registos de estúdio coabitam os compassos mais convencionais do techno, da house e da UK bass. Secções rítmicas aparentemente simples dão lugar a estruturas imprevisíveis que são ora cerebrais, ora fluídas e cativantes, proporcionando uma banda sonora versátil e eficaz para o finalizar deste serão.