Reportagem: No Age [Hard Club, Porto]
Reportagem: No Age [Hard Club, Porto]
Setembro 20, 2018 12:52 pm
| Reportagem: No Age [Hard Club, Porto]
Setembro 20, 2018 12:52 pm
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Os No Age já não são estranhos para ninguém. Entre vários concertos e festivais, o duo natural de Los Angeles foi estabelecendo uma relação duradoura com o público português, que os recebeu novamente para as duas primeiras datas em Portugal em cinco anos. O reencontro fez-se na semana passada em Lisboa, na ZDB, seguindo-se o Porto com um concerto no Hard Club ao lado dos portugueses El Señor.
Formados em 2005, o duo composto por Dean Spunt, baterista, e Randy Randall, guitarrista, nasceu do interesse mútuo pela cena DIY, que canonizaram ao longo da adolescência e rapidamente alcançaram com um contrato pela mítica Sub Pop, essa meca da música independente por onde editaram três álbuns de estúdio – Nouns (2008), Everything In Between (2010) e An Object (2013). Snares Like a Haircut, o regresso do duo às edições sob a alçada da norte-americana Drag City, serviu de mote para o reencontro com o nosso país.
“Cruise Control”, o poderoso tema de abertura de Snares Like a Haircut, deu o pontapé de arranque, mostrando um duo longe de se encontrar em piloto automático. No seu primeiro álbum em cinco anos, os No Age encontram-se mais maduros, confiantes e confortáveis com as peripécias que a vida lhes tem vindo a proporcionar. Agora pais e casados, o duo está de regresso e em boa forma, com um disco aclamado pela crítica internacional especializada que o tem vindo a descrever como a sua obra mais progressiva e aprimorada, uma onde a frustração jovial e furiosa dos primeiros registos encontra finalmente a paz, abrindo caminho para um trabalho de meticulosa coerência.
Percorrendo um alinhamento extensivo, o duo intercalou os temas mais recentes do repertório com algumas das canções mais marcantes da sua já longa carreira, desde potenciais hinos esquecidos – “Sleeper Holder”, “Glitter”, “Fever Dreaming” – a novos capítulos de uma carreira que parece não ceder à passagem do tempo – “Send You”, “Drippy”, “Stuck In The Charger”.
“Teen Crips”, esse grito que marcou a quintessência dos No Age, não escapou ao ânimo inevitável do escasso mas conhecedor público que se apresentava na sala 2 do Hard Club, que cantou e celebrou a fúria contida de um tema que soa tão refrescante como soava há dez anos atrás. “Every Artist” e “Boy Void”, temas que inauguram Weirdo Rippers, recordaram os passos iniciais dos No Age como força vital do espírito enraizado no mítico The Smell (o mesmo espaço que emoldurou a compilação de 2007), encerrando esta onda nostálgica ao som de mais duas canções do acarinhado disco de estreia, “Miner” e “Ripped Knees”.
Entre novidades e revivalismos, os No Age proporcionaram um serão ruidoso e abafado de canções ricas em textura, distorção e a intensidade que sempre nos acostumaram, reunindo novos e antigos fãs para uma noite de celebração do som que marcou uma década.
Texto: Filipe Costa
Fotografia: Edu Silva