Reportagem: James Holden & The Animal Spirits [gnration, Braga]

Reportagem: James Holden & The Animal Spirits [gnration, Braga]

| Novembro 27, 2018 10:54 pm

Reportagem: James Holden & The Animal Spirits [gnration, Braga]

| Novembro 27, 2018 10:54 pm

Poucos dias depois do seu último álbum, The Animal Spirits, ter feito um ano de lançamento, James Holden voltou novamente a Portugal, muito pouco tempo depois de se ter apresentado na última edição do festival Neopop, no âmbito da programação Red Bull Music. Voltou novamente acompanhado com os seus The Animal Spirits para apresentar o último disco, primeiro, no dia 7 de novembro no Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa, e no dia seguinte, na Blackbox do gnration, em Braga. Concertos esses aguardados com expectativa pelos fãs. Afinal de contas, James Holden, há um ano, surpreendeu fãs e críticos especializados ao pegar na música electrónica e ao unir em perfeita harmonia com o free jazz, o krautrock, o post-rock e músicas africanas (influências da música marroquina gnawa). Tendo em conta estas influências, segundo James Holden, este álbum é de folk-trance. Quem somos nós para duvidar?


Numa noite fria, rapidamente a sala da Blackbox começou a aquecer consoante a moldura humana ia aumentando. O concerto não esgotou, mas esteve perto disso. Nada mau para um evento a decorrer numa noite de quinta de um nome que ainda não é amplamente conhecido pelos fãs de música electrónica.  O palco estava perfeitamente organizado numa Blackbox ainda na ressaca do festival Semibreve e com um novo PA para Holden e companhia estrearem. Ao centro encontravam-se dois estrados, um na parte de trás para James Holden (sintetizadores) e outro na parte da frente para Camilo Tirado (percussão). À direita destes estava Tom Page (bateria) e do lado esquerdo encontravam-se Etienne Jaumet (saxofone), Liza Bec (saxofone e clarinete) e Dan Tombs (visuais). A adornar o palco tinham um arranjo floral pousado no estrado de James e várias fitas idênticas às que aparecem na capa do último álbum, espalhadas por vários pontos do palco. O ambiente estava criado e o clima era acolhedor. 

Entre as últimas conversas do público, as deslocações ao bar para finos e o fim do compasso de espera para o início do concerto, ouve-se a “Sexy Boy” dos AIR vinda das colunas. Melhor aviso de que o concerto ia começar. Afinal de contas, o músico de grandes cabelos, sorriso contagiante, voz simpática e que se gosta de se vestir com fatos-macaco está prestes a subir ao palco.

James Holden & The Animal Spirits

Começaram o concerto da mesma forma que abre o disco The Animal Spirits, com “Incantation for Inanimate Object” a ecoar num coro suave de voz processada, a fazer um chamamento para o público num modo perfeitamente ritualístico. Rapidamente transitaram para a faixa homónima “The Animal Spirits”, como se de um ritual religioso pagão de culto à mãe terra se tratasse, fazendo com que o público ficasse cada vez mais imerso no concerto. Numa espiral cada vez mais a caminhar para o frenesim dançável, fazem a transição para “Spinning Dance”, com uma flauta e uma bateria que progridem cada vez mais para a contemplação através dos ritmos que fazem o corpo movimentar, como se fossemos serpentes a sermos encantados pela flauta. Começavam assim os primeiros momentos de completa absorção musical, perfeitamente conjugada com os visuais manipulados ao vivo que acompanhavam o concerto, fazendo com que um mundo de cores e formas se abrisse diante dos nossos olhos e contribuísse ainda mais  para o estado de transe geral. 

A incendiária “Pass Through The Fire” continuou na linha da atmosfera já criada, graças aos sintetizadores e percussão em uníssono, para de seguida se intensificar com a junção do saxofone. De seguida, “Each Moment Like The First”, a música do novo álbum com mais parecenças com o The Inheritors. Quase dois minutos depois de começarem a tocar, o sistema “crashou”. Rapidamente deram conta do problema e voltaram a tocar. Um mal menor que até soube bem. Como não ficar a suspirar pela continuação dos ritmos catchy desta música vindos dos sintetizadores?   

Com o esquema tático novamente composto, começam a apresentar músicas do The Inheritors, iniciando ao som da contemplativa “Blackpool Late Eighties”, de techno repetitivo cheio de melancolismo, para logo a seguir lançarem a visceral “Gone Feral”, a progredir para os ritmos de sintetizadores e batidas formulados a criar tensão, como se estivéssemos a cair no abismo. A faixa homónima do álbum, “The Inheritors” foi a que se seguiu, cheia de energia e velocidade de ritmo, como se de uma corrida contra o tempo se tratasse.  

Depois de três músicas de The Inheritors, vieram mais três músicas de The Animal Spirits. A primeira foi a xamânica “Thunder Moon Gathering” para subirmos aos céus. Sem nunca abandonarem a espiritualidade dos sons, voltamos a descer à terra com a pacífica “Go Gladly Into the Earth”. O ritmo calmo continuou com a “The Neverending”. Para o fim guardaram “Renata”, possivelmente a música mais acessível de The Inheritors, com batidas e ritmos intensos, mais apropriados para a pista de dança, fazendo com que no fim desta o público ficasse ansioso por mais, aplaudindo entusiasticamente para um encore. Voltaram para tocar apenas uma única música, finalizando o concerto em todo o esplendor ao som da intensidade de “Caterpillar`s Intervention”, também do The Inheritors.

James Holden & The Animal Spirits [gnration, Braga]

Fotogaleria do evento aqui.
Texto: Óscar Santos
Fotografia: Ana Carvalho dos Santos
FacebookTwitter