Reportagem: Unknown Mortal Orchestra + Iguana Garcia [Aula Magna, Lisboa]
Reportagem: Unknown Mortal Orchestra + Iguana Garcia [Aula Magna, Lisboa]
Novembro 5, 2018 8:43 pm
| Reportagem: Unknown Mortal Orchestra + Iguana Garcia [Aula Magna, Lisboa]
Novembro 5, 2018 8:43 pm
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Noite de Outono? Eu diria de Inverno pelo frio que se faz sentir lá fora. Uma noite de aguaceiros, há sinais de aviso amarelo na costa por causa do mau tempo. Vi o mar agitado da janela, mas para onde vou, o mar não está assim tão perto.
Tocaram no Porto numa segunda-feira 29 de Outubro, no Hard Club, e cruzaram o “temporal” para tocar no dia seguinte em Lisboa. Neozelandeses, residentes em Portland, Oregon, os Unknown Mortal Orchestra e as suas canções psicadélicas. Já tinha ouvido dizer que são incríveis ao vivo, e confirmo. São excelentes músicos, mas, já lá vamos.
Iguana Garcia
Já em Lisboa, a responsabilidade da primeira parte do concerto dos Unknown Mortal Orchestra, coube ao português, Iguana Garcia: “Iguana Garcia é um homem só, que procura unir o universo pela força de um caldeirão mágico onde se colocam várias musicalidades: rock, electrónica, psicadelismo, tropicalismo, e o que mais vier” e isto sabe-se pelo que está descrito no Soundcloud do músico.
São as canções de Cabaret Aleatório como um primeiro álbum de estreia que o levaram até ali. E ali está ele entre o branco e o verde das luzes de palco na Aula Magna, Iguana Garcia aparece envolto em nevoeiro libertado pela máquina de fumos, num pequeno rectângulo centrado a meio do palco, rodeado de teclas, liberta para o ar acordes de guitarra, cruza teclados, ritmos e baixo programado. E olhem, fez-me lembrar por uns momentos o timbre do vocalista dos Heróis do Mar. Mas é diferente, mas igual a um certo “Fado” banal no bom sentido do termo.
Em círculos de luz azul, desenhados no chão do palco, desfila uma dança lenta, mas pujante ao terceiro tema, “Vapor” é uma música maioritariamente instrumental. São bonitos os sons deste português que sozinho, consegue arrebatar um anfiteatro cheio de gente sentada. Belo presente este, a antecipar a actuação dos Unknown Mortal Orchestra: “meus queridos eu quero ouvir barulho de vocês”, – diz ele. E a audiência reage às batidas sincopadas e cheias, a cem por cento o som, graves e agudos em pleno no refrão, e canta que “já pensei em deixar de ser feliz para ser normal’, é o “60KF”, do seu álbum de estreia, deu para muito no palco, aqueceu a sala, foi aplaudido, e foi feliz.
Unknown Mortal Orchestra
Confirmo, dizia eu que são excelentes músicos, na interpretação das canções ao vivo, nem uma nota ao lado, são de um sincronismo absoluto.
Lotação esgotada numa terça-feira à noite e portanto, numa Aula Magna cheia de gente para ouvir Unknown Mortal Orchestra, comprovando assim o extraordinário sucesso que estes músicos têm em Portugal, demonstrando também a boa reputação que têm como banda ao vivo.
São 22h em ponto, a banda de Ruban Nielson ali está, de forma descontraída e confiante, entram discretos, não tanto quanto o alarido e as palmas que se fizeram ouvir da plateia. E o espectáculo começou ensolarado com a canção “From The Sun”, num cenário de luz vermelho vivo progressivo ainda distante daquilo que viria a transformar-se numa “explosão” luminosa e exuberante de psicadelismo policromático, portanto, de muitas cores. Numa actuação enérgica e emocionante eis que Ruban Nielson salta do palco de guitarra ao peito, (foi o delírio) soltou-se um solo intenso da sua guitarra, percorreu quase de lés-a-lés o anfiteatro, de baixo para cima, subiu e desceu à direita e à esquerda, sinalizado pelo staff um sabre de luz verde à sua passagem pelos cantos da sala, provocando a agitação e o contentamento geral. Os decibéis explodem numa ambivalência sonora entre a bateria e a discreta distorção da guitarra e sempre com um baixo com apontamentos ligeiros de funk e as teclas semi-presentes. “Swim and Sleep”, “Necessary Evil”, “Ministry Of Alienation” e o saxofone que grita numa esquizofrenia sonora, So “Good At Being In Trouble” de atmosfera intimista a fazer lembrar um slow dos anos 60, Ruban está com a voz um pouco mais rouca do que o habitual, e até parece que chora num sentimento overdubbed na cauda do refrão.
“Major League Chemicals”, “American Guilt”, e as explosões de luz são agora maioritariamente de um vermelho raiado a verde, o saxofone que grita ao compasso com as luzes de palco, bateria explosiva, e as guitarras de um psicadelismo que nos confunde os sentidos numa mixagem perfeita entre o que os olhos vêem e o que os ouvidos escutam: “Not in Love We‘re Just High”, “Multi-Love”, e há nova incursão pelo anfiteatro, novo passeio de Ruban pela plateia, agora sem a guitarra, próximo do palco, canta, dança e salta e aterra no palco de mão no chão em pose de Homem Aranha. Audiência estridente e o público a pedir mais, bate palmas. ’This is amazing! thank you so much!’. No encore houve “Hunnybee” e “Can´t Keep Checking My Phone”, num registo mais eufórico em contraste com o original gravado em estúdio. Terminaram abruptamente com uma explosão sónica de ruído e relâmpagos de luz branca, um espectáculo de precisão, cor e calor.
Texto: Lucinda Sebastião
Fotografia: Nuno Conceição / Everything is New