7 ao mês com Weyrd Son Records

| Fevereiro 15, 2019 6:07 pm

A Weyrd Son Records, a prolífica editora belga que tem tomado de assalto o panorama musical underground desde 2013, com vários lançamentos de qualidade e novos nomes interessantes na atual cena dark, é o nosso novo convidado para a nova edição da rubrica “7 ao mês”, cujo objetivo é apresentar bandas/artistas, promotores ou editoras, revelando os seus gostos musicais e nomes que inspiraram o seu trabalho. Para a edição de fevereiro, convidamos Michael Thiel – o dono da Weyrd Son Records – para selecionar sete nomes/músicas/discos que de alguma forma o influenciaram não apenas como editor, mas também como pessoa.

As suas sete opções revelam um pouco mais sobre a identidade da Weyrd Son, apresentando-se também como uma intensa viagem a vários géneros musicais. Aproveitem para as ler e ouvir, abaixo.

SNOWY RED – “Never Alive” (1982)

Eu cresci num ambiente envolto em música, uma vez que o meu pai foi um músico. Tanto quanto me lembro, os sons e canções que ele criou e compôs foram os primeiros a entrar no meu cérebro e coração. Eu tinha cinco anos quando ele lançou o seu segundo álbum The Right To Die, sob o nome de Snowy Red. Cinco anos é provavelmente uma idade jovem para dançar e cantar um álbum que tem músicas com títulos como “Nowhere”, “Never Alive”, “I’m Hurt”, “Opium”, “Lies In Your Eyes”, etc. Esta música aqui, “Never Alive” é provavelmente a que teve o maior impacto em mim. Fiquei fascinado com os sons desbotados e sequenciados. Isto definitivamente levou a que, alguns anos depois eu estivesse a ouvir bandas como Depeche Mode, Duran Duran ou Frankie Goes To Hollywood. Esta é também a razão pela qual o primeiro lançamento da Weyrd Son Records (uma homenagem ao álbum duplo de Snowy Red) tem o título _ever Alive, que é uma referência àquela música “Never Alive” que era tão querida para mim.



FAITH NO MORE – Angel Dust (1992)

Quando a idade de escolher um caminho musical e um género surgiu, o metal foi aquele que de alguma forma me ajudou a lavar e a livrar de todas as frustrações enquanto adolescente. Em 1989 deparei-me com a música “Epic” e houve uma espécie de clique. Depois eu fiquei à espera do próximo álbum, com as expectativas bastante altas. Quando a banda voltou com “Midlife Crisis”, o primeiro single do novo disco Angel Dust, eu fiquei em choque. Para mim todos os temas pareciam tão avançados no tempo além de sofisticados. Era definitivamente metal convencional e era isso o que eu estava secretamente à procura, sem ter sequer noção. Os teclados distorcidos e desequilibrados, o baixo funky, as guitarras pesadas, mas líricas, os vocais grosseiros/suaves/maníacos com um toque e todas aquelas influências de tantos mundos musicais distintos… Eu comprei o álbum e de alguma forma odiei-o no momento. Eu não conseguia identificar-me com nada do que eu estava a ouvir ou conhecia na altura, mas todos os dias eu voltava e ouvia um pouco mais e arranhava a superfície para tentar descobrir o que estava acontecendo. Duas semanas depois, eu estava comprado. Eu não poderia passar três horas sem tocar esse álbum. E eu fiz por muito tempo. Provavelmente meses, para não dizer anos. É até hoje meu disco clássico e  o mais ouvido de todos os tempos.



JOHN ZORN – “Bith Aneth” (1994)

Por volta da mesma altura descobri o álbum Naked City, do saxofonista e compositor John Zorn. O álbum era uma mistura de jazz com grindcore, surf, punk, tudo misturado com música de filme fácil de escutar e tantos outros estilos misturados num registo muito desafiador com uma duração de 55 minutos. Na capa, o cadáver de um gangster deitado na rua, fotografado por Weegee. Eu estava em torno dos meus 16 anos e tudo isto me impressionou bastante. John Zorn e o seu gosto pelo extremo tornaram-se uma obsessão para mim e tudo o que eu queria fazer era testemunhar ele e a sua banda louca ao vivo. Um ano mais tarde, em 1994, ouvi dizer que ele vinha a Bruxelas apresentar o seu novo projeto chamado MASADA. Eu cheguei lá sem saber o que esperar. A única certeza que eu tinha é que seria selvagem. Quando cheguei lá, descobri uma audiência muito antiga (pelo menos mais antiga que eu). Em vez de grindcore punk com instrumentos de metal, eles tocaram o que me pareceu um “quarteto de jazz para avós”. E senti-me um pouco perdido, mas novamente, eu pude sentir ique eles tocavam algo novo, um novo mundo musical com o qual eu não tinha tido nenhuma conexão antes. Eu finalmente comprei o primeiro álbum da série MASADA (e depois toda a coleção dos 10 discos). Na verdade, é um pouco de jazz pouco convencional com uma sensação punk! Hoje quando eu toco esta música, sinto que ela me leva de volta àquele dia de 1994 (abril eu acho) e é como eu posso sentir o cheiro dos assentos, ouvir as pessoas na plateia a tossir entre as músicas ou até mesmo sentir a suave e grossa carpete debaixo dos meus sapatos enquanto eu batia com os pés.



JESSIKA KENNEY & EYVIND KANG – “Tavaf” (2012)

No verão de 2014 eu participei num festival de jazz ao ar livre em Bruxelas e um dos meus ídolos e gurus de todos os tempos, o tocador de viola Eyvind Kang, foi convidado para tocar como convidado especial de um trio de jazz belga. Depois do concerto, eu fiz de tudo para o conhecer apenas com o intuito de agir como um fanboy e expressar todo o meu amor pela sua música e arte. Trocámos os endereços de e-mail e, no decorrer da semana seguinte, enviei-lhe o link de uma entrevista que eu fiz alguns meses antes. Uma das perguntas dessa entrevista era algo como “Nos teus sonhos mais loucos, cita três artistas com quem adorarias trabalhar”. Um dos nomes que eu dei foi Eyvind Kang… No dia seguinte eu recebi este e-mail dele a dizer “Eu li a tua entrevista, e vejo que tu mencionaste querer lançar alguma coisa?” e a perguntar como eu me sentia sobre trabalhar em algo com ele de verdade. Eyvind enviou uma música junto com o e-mail e esse foi o ponto de partida de nossa colaboração no álbum At Temple Gate com a vocalista Jessika Kenney e o percussionista Hyeonhee Park. Este lançamento trouxe novas perspectivas e abriu muitas portas para a editora. Além disso, com este álbum, decidi criar uma subdivisão da gravadora, chamada The Light Diggers Series, explorando outros caminhos musicais que a Weyrd Son Records tem trabalhado nos últimos dois anos.



CHELSEA WOLFE – “Neon Green” (2010)

Por volta dos meus trinta anos, exatamente há cerca de dez anos atrás, passei por uma fase em que meu amor pela música estava a esgotar-se. Eu estava a ouvir o mesmo estilo de música repetidamente por um período aproximado a dez anos. Eu estava a sentir-me aquilo que eu poderia chamar de “entediado musicalmente”. Uma noite eu estava conversando online com uma boa amiga minha que sempre tinha a música mais obscura e desconhecida para compartilhar. E então ela copiou/colou este link com uma sessão acústica daquela rapariga a cantar e tocar guitarra no que parecia ser algum tipo de música folclórica obscura numa pequena sala com esse reverb exagerado. Isso era tudo tão novo para mim! A cantora era Chelsea Wolfe e eu imediatamente fiquei obcecado com o seu som e as suas composições. Essa música abriu novas perspectivas para mim e eu lembro-me de passar o resto daquela noite a procurar e a ouvir tudo o que pude encontrar dela no Youtube, no Bandcamp e assim por diante. Eu queria tudo. Através dela, descobri uma nova constelação de artistas. Cinco meses depois, ela lançou seu segundo LP, Ἀποκάλυψις, que é até hoje um dos meus discos mais amados.



PURE GROUND – “Atlantic Wall” (2014)

Com a Chelsea Wolfe eu descobri o “toque de Los Angeles”. Eu estava a ouvir tudo o que este novo mundo me estava a oferecer. Foi assim que me cruzei com a cena eletrónica minimal de LA e o nome Greh Holger, o compositor e fundador da gravadora experimental Chondritic Sound. Ele também foi membro da dupla Pure Ground, juntamente com Jesse Short. “Atlantic Wall” é a faixa de abertura do segundo EP da banda, Protection, e a primeira coisa que ouvi deles. Eles estavam a fazer alguns concertos muito malvados e a fazer de mim algum tipo de dançarino maníaco – e acreditem em mim, eu não sou o que poderíamos chamar de “dançarino”… – Pure Ground provavelmente tem a mais perfeita discografia dentro do género e eu não podia imaginar a vida sem nenhum dos seus registos na minha coleção. Além disso, tive a sorte de trabalhar com eles num lançamento da Weyrd Son Records, o 7″ The Arsonist / And So Remain.

THOT – “DUNA” (2017)

Como um amante de música e dono de uma editora, não tocar música sempre foi algo que me deixou um pouco frustrado. Eu tocava bateria e violoncelo quando era adolescente, mas sempre achei que era terrível e desisti… O álbum de THOT, FLEUVE, é um daqueles discos que me impressionaram muito. Eu às vezes até o chamo do meu “Angel Dust” (ver a segunda referência nesta lista) da década de 2010. Recebi a demo deste álbum na caixa de correio há cerca de dois anos e essa foi uma das poucas vezes que ouvi toda a compilação na totalidade, sem pular nenhuma música. Eu decidi lançá-lo apesar do fato de se tratar de um disco que era absolutamente o oposto de qualquer coisa que eu tinha lançado até à data na Weyrd Son Records. Pela primeira vez, senti como se estivesse andando no escuro e, para ser honesto, um pouco assustado por não fazer a escolha certa. Mas eu simplesmente não conseguia fechar os olhos e queria fazer parte da aventura. Foi uma experiência desafiadora mas igualmente incrível. Agora o líder da banda faz também parte da Weyrd Son Rec como meu braço direito e eu me tornei um membro em tempo integral nos THOT como percussionista depois de um membro da banda não poder fazer uma tour na Coreia do Sul, no último outono.



Se quiserem saber mais sobre a Weyrd Son Records aproveitem para a seguir através do Facebook, pela plataforma Bandcamp, ou através do website, onde podem comprar o seu trabalho.


—————- ENGLISH VERSION —————-


Weyrd Son Records, the prolific Belgian label that has been assaulting the underground music panorama since 2013 with lots of quality releases and interesting new names in the current dark scene is our new guest in the new edition of “7 ao mês”, whose objective is to present bands/artists, promoters or record labels by revealing their musical tastes and names that have been inspiring their work. For February’s edition, we invited Michael Thiel – the owner of Weyrd Son Records – to select seven names/songs that somehow have influenced him not only as a record owner but also as a person.

His seven choices reveal a little bit more about Weyrd Son‘s identity and also present an intense trip to various musical genres. Enjoy reading and listening to them, below.

SNOWY RED – “Never Alive” (1982)

I grew up with music as my dad was a musician himself. As far as I remember, the sounds and songs he created and composed were the first ones to enter both my brain and heart. I was five when he released his second album “The Right To Die” under the moniker of Snowy Red. Five is probably a young age to dance and sing along on a record that has songs with titles such as “Nowhere”, “Never Alive”, “I’m Hurt”, “Opium”, “Lies In Your Eyes”, etc. This song here is probably the one that had the biggest impact on me. I was fascinated by the sequenced “washy” sounds. This definitely led me to listen to bands such as Depeche Mode, Duran Duran or Frankie Goes To Hollywood a few years later. This is also the reason why Weyrd Son Records‘ first release (a double album tribute to Snowy Red” has the title _ever Alive, which is a reference to that “Never Alive” song that was so dear to me. 


FAITH NO MORE – Angel Dust (1992)

When came the age to chose for a music path and a genre to stick to, metal was the one that kinda helped washing and getting rid of all my teenager’s frustrations. In 1989 I came across the song “Epic” and something clicked. I’ve then been waiting for the following album, expecting a lot from it. When the band returned in 1992 with “Midlife Crisis” as the first excerpt from their new album Angel Dust, I was in shock. Everything to me sounded so advanced on its time and sophisticated. It was definitely conventional metal to me and that was all I was secretly searching for without even knowing it. The distorted and unbalanced keyboards, the funky bass, the heavy but lyrical guitars, the stark/croony/maniac vocals with a twist and all those influences from so many distinct music worlds… I bought the album and kinda hated it on the moment. I couldn’t relate to anything I knew then but every day I would go back to it and listening to a little more and scratching the surface to try discovering what was under. Two weeks later I was sold. I couldn’t spend three hours without playing that album. And I did for a very long time. Probably months, not to say years. It is to this day my all-time classic and most listened record. 

 

JOHN ZORN – “Bith Aneth” (1994)

Around that same era, I discovered the album Naked City by saxophone player and composer John Zorn. The album was a mixture of jazz with grindcore, surf, punk, all blend with some easy listening film music and so many others styles mixed into a very challenging 55 minutes long record. On the cover, the dead body of a gangster lying on the street, photographed by Weegee. I was around my 16 and all this got a great impression on me. John Zorn and his taste for the extreme became an obsession and all I wanted to do was to witness him and his crazy band live. A year later, in 1994, I heard he was coming to Brussels to present his new project called MASADA. I got there, not knowing what to expect. All I was sure of is that it was going to be wild. When I got there, I discovered a very old (at least older than me) audience. Instead of punky grindcore with brass instruments, they played what seemed to me some “grandpa” jazz quartet. I felt a bit lost but again, I could feel it touched something new, a brand new musical world I had no connection with before. I finally ordered the first album of the MASADA series (and later the whole 10 records collection). It is actually some pretty unconventional jazz with a punk feel! Today when I play this tune, I feel like it takes me back to that day of 1994 (April I think) and it’s like I can smell the seats, hear the people in the audience coughing in between songs or even feel the soft and thick carpet under my shoes as I was tapping with my feet.



JESSIKA KENNEY & EYVIND KANG – “Tavaf” (2012)

In the Summer of 2014, I attended an open-air jazz festival in Brussels and one of my all-time idol and guru, viola player Eyvind Kang, was invited to play as a special guest with a Belgian jazz trio. After the show, I managed to meet him only to act like a fanboy and express all my love for his music and art. We exchanged email addresses and in the course of the following week, I sent him the link of an interview I did a few months before. One of the questions of that interview was something like “In your wildest dreams, name three artists you’d love to work with”. One of the names I gave was Eyvind Kang... The next day I got this email from him saying “I read your interview, and I see that you mention wanting to release something?” and asking how I’d feel about working on something together for real. Eyvind sent a piece along with the email and that was the starting point of our collaboration on the album At Temple Gate with vocalist Jessika Kenney and percussionist Hyeonhee Park. This release brought new perspectives and opened lots of doors to the label. Also, with this album, I decided to create a subdivision of the label, called The Light Diggers Series, exploring other musical paths than Weyrd Son Records have been about for the two previous years. 



CHELSEA WOLFE – “Neon Green” (2010)

Around my thirties, exactly ten years ago, I went through some phase where my love for music was quite running dry. I was listening to the always same stuff over and over for almost ten years. I was what I could say “musically bored”. One night I was chatting online with a good friend of mine who always had the most obscure and unknown music to share. And so she had copy/pasted this link with an acoustic session of that girl singing and playing guitar on what appeared to be some kind of dark folk music in a small room with this exaggerated reverb. That was all so new to me! The singer was Chelsea Wolfe and I instantly became obsessed with her sound and compositions. This song opened new perspectives to me and I remember spending the rest of that night seeking and listening to everything I could find from her on Youtube, Bandcamp et so on. I wanted everything. Through her, I discovered a new constellation of artists. Five months later she released her second LP Ἀποκάλυψις which is to this day one of my most loved records. 



PURE GROUND – “Atlantic Wall” (2014)

With Chelsea Wolfe, I discovered the “Los Angeles touch”. I was listening to everything this whole new world was offering. This is how I crossed paths with the minimal electronic LA scene and the name of Greh Holger, some composer and founder of noise experimental record label Chondritic Sound. He was also a member of the duo Pure Ground, along with Jesse Short. “Atlantic Wall” is the opening track of the band’s second EP Protection, and the first thing I’ve heard of them. These guys were throwing some real badass shows and were making me some kind of dancer maniac – and believe me, I’m not what we could call a “dancer”… – Pure Ground probably has the most perfect discography in the genre and I couldn’t imagine life without any of their records in my collection. Also, I was extremely fortunate to work with them on a release on Weyrd Son Records, the 7″ The Arsonist/And So Remain.


THOT – “DUNA” (2017)

As a music lover and record label owner, not playing music myself has always been something I was a little frustrated with. I did play drums and cello when I was a teenager but always thought I was terrible at it and quit… THOT‘s album FLEUVE is one of those records that highly impressed me. I even sometimes call it my “Angel Dust” (see the second reference in this list) of the years 2010. I received the demo of this album in the mailbox about two years ago and this was one of the very few times I did listen to the whole comp in its entirety, without skipping any song. I decided to release it despite the fact that it was absolutely to the opposite of anything I’ve released so far on Weyrd Son Records. For the first time, I felt like I was walking in the dark and to be honest a little scared not making the right choice. But I just couldn’t close my eyes on this one and wanted to be part of the adventure. It was both a challenge and an amazing experience. Now the leader of the band is part of Weyrd Son Rec as my wingman and I became a full-time member of THOT as their percussionist after a member of the band couldn’t make it tour in South Korea last Fall. 




If you want to know more about Weyrd Son Records make sure you follow them on FacebookBandcamp, or their website where you can buy their work.

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