Reportagem: Yo La Tengo [Capitólio, Lisboa]

Reportagem: Yo La Tengo [Capitólio, Lisboa]

| Fevereiro 22, 2019 9:16 pm

Reportagem: Yo La Tengo [Capitólio, Lisboa]

| Fevereiro 22, 2019 9:16 pm

Foi no dia 6 de fevereiro que fomos até ao Capitólio para assistir a mais um concerto de Yo La Tengo em terras portuguesas. Aqui vieram outra vez apresentar There’s a Riot Going On, o registo mais recente da banda norte-americana, tendo saído no passado dia 16 de março via Matador Records. Um disco calmo e introspetivo, que segue a formula serena e sónica dos Yo La Tengo na composição de álbuns, mais especificamente como em And Then Nothing Turned Itself Inside-Out e I Can Hear the Heart Beating as One. O ambiente no Capitólio estava calmo, não se tratava de um concerto de black metal que íamos assistir, mas sim embarcar numa viagem pelas estrelas na nave espacial deste trio. A noite estava menos fria do que se tem estado nos últimos tempos, e por isso algumas pessoas aproveitavam para socializar um bocado antes de entrar na sala. Pela hora marcada para o começo do concerto, o Capitólio já se encontrava cheio e pronto para receber a banda nova-iorquina, até que enfim Ira Kaplan, Georgia Hubley e James McNew entraram em palco para grande êxtase do público. 

“You Are Here” e “Forever”, do álbum There’s a Riot Going On, foram as malhas que os Yo La Tengo escolheram para começar a noite. Desde logo que eles nos prenderam num sonho com a sua sonoridade estrelar, os olhos das pessoas quase que imediatamente fecharam devido às vibrações pacificas que emanavam daquele palco. Músicas longas e introspetivas inundavam o Capitólio de sorrisos serenos, pois este não se tratava de um concerto para dançar efusivamente, mas sim para (como já dissemos) embarcar na nave espacial dos Yo La Tengo e navegar pelas estrelas. A setlist ia percorrendo um pouco da discografia inteira desta banda, desde os álbuns mais antigos até aos mais recentes, com evidencia obviamente dada ao último registo. Músicas como “Ashes” e “I’ll Be Around” puseram as nossas almas completamente a flutuar nas nuvens, num dos sonhos mais calmos e bonitos que possam imaginar.


Uma hora e meia depois do começo desta noite, Ira disse gentilmente que a banda ia fazer uma pausa. As pessoas provavelmente pensavam que ia haver um encore de 2 ou 3 músicas, mas os Yo La Tengo são conhecidos por fazerem concertos longos, e aqui não foi exceção. 





Na segunda parte desta viagem percorreram, novamente, um pouco de toda a sua discografia. Desde President Yo La Tengo a Electr-O-Pura, os pontos altos desta parte da noite foram para “Stockholm Syndrome” e a incrível rendição de “I Heard You Looking”, esta última malha que rebentou completamente com o Capitólio. Uma explosão sónica da guitarra distorcida de Ira Kaplan, da bateria de Georgia Hubley, do baixo de James McNew (embora os 3 fossem sempre trocando de instrumentos ao longo da noite) e de mais uma pessoa extra que trouxeram só para esta música. 


Tendo acabado a segunda parte deste concerto, e com 3 horas de emoções genuínas que os Yo La Tengo nos proporcionaram, ainda houve tempo para um encore. O público aplaudia a este segundo regresso, as pessoas iam gritando alguns nomes de músicas que desejavam ouvir. Até que alguém gritou “NUTRICIA!!!”, a qual Ira alegremente respondeu “Nobody asks songs from that album”, concretizando de seguida o desejo à pessoa que pediu esta música. Seguiram-se mais duas covers para acabar esta incrível noite, “Prisoners of Rock’n’Roll” de Neil Young e “Somebody’s in Love” dos Cosmic Rays. Duas covers extremamente bem conseguidas com o tratamento que os Yo La Tengo lhes deram, fazendo inveja de certeza aos autores originais destas malhas. 



Depois de enormes aplausos e beijinhos, o trio despediu-se extremamente agradecido do palco. Já é normal para os artistas estrangeiros terem aquele amorzinho por Portugal, o qual também se notou nesta banda. Eles proporcionaram-nos aqui mais um concerto incrível, cheio de uma serenidade espacial com algumas explosões sonoras que nos faziam voar se fechássemos os olhos, um sentimento que é difícil explicar para as pessoas que não foram ao Capitólio. Faz tudo parte da experiência que é ouvir esta banda ao vivo, principalmente em sala própria. Até à próxima Yo La Tengo, e por favor, voltem sempre.

Texto: Tiago Farinha
Fotografia: Ana Pereia (gentilmente cedidas pela Música em DX)
FacebookTwitter