Reportagem: ZANIAS + BUZZ KULL [Stereogun, Leiria]

Reportagem: ZANIAS + BUZZ KULL [Stereogun, Leiria]

| Julho 3, 2019 12:53 am

Reportagem: ZANIAS + BUZZ KULL [Stereogun, Leiria]

| Julho 3, 2019 12:53 am

No passado domingo, 30 de junho, regressámos à Stereogun em Leiria para partilhar mais um caloroso momento inserido em novo episódio relâmpago do FadeInFestival 2019: a poderosa performance do australiano Buzz Kull e o hipnotizante concerto de Zanias. Se, por um lado, Marc Dwyer – o mentor do projeto Buzz Kull – trazia até à Stereogun o disco que o afirmou pela Europa como um dos nomes relevantes do novo cenário da darkwave e EBM, New Kind Of Cross (2018, Avant! Records), por outro, Alison Lewis regressava a Leiria para se estrear sob o moniker Zanias e apresentar o seu primeiro disco de carreira a solo, Into The All (2018, Candela Rising), além da vasta gama de experiência que adquiriu noutros projetos dos quais fez parte: Linea Aspera e Keluar. Neste cenário de antecipação, a Stereogun abriu extraordinariamente as portas a um domingo, para acolher um novo episódio do FadeInFestival 2019, numa casa bastante povoada. 

BUZZ KULL 


Buzz Kull abriu concerto por volta das 17h27 tendo começado por desinibir o público presente com “Tomorrow’s Ghost”, tema retirado do seu disco de estreia Chroma (2017, Burning Rose Records). Sem contacto verbal com o público, nem pausas entre as notas que fazia ecoar através da sua “maquinaria sonora”, Buzz Kull prosseguiu a performance para apresentar um novo tema, que se deverá a vir chamar algo como “Lost In The Club”, a julgar pelo que ouvimos Marc evocar em sala. Com uma carreira que começou como um projeto de quarto até se ter refinado em algo maior, Buzz Kull apresentou em Leiria o resultado de cerca de 10 anos de exploração musical e o facto de que nem sempre nos podemos auxiliar nas máquinas, como o próprio admitiu após ter evidenciado alguns problemas técnicos no finalizar da malha nova. “(…) Let’s see how it goes“, disse Dwyer, enquanto fazia público ouvir as primeiras notas de “Existence”, tema retirado de New Kind Of Cross (2018). 

Por volta dos 14 minutos de concerto Buzz Kull apresentou-nos uma nova versão do seu hit de carreira, “Dreams”, carregado por uma toada de sintetizadores sinistros e bastante obscuros que rapidamente foram convidando o público a ficar mais entusiasmado e a cantar o refrão juntamente com Marc Dwyer. Ainda na apresentação de Chroma (2017) Buzz Kull fez escutar-se na pista de dança da Stereogun “Nausea”, além de temas como “We Were Lovers” e “Into The Void”. 


Num concerto que, retirando os problemas técnicos, soube ser bastante competente, em Leiria Buzz Kull apresentou-se com uma energia ainda mais brutal que aquela que já conhecíamos em estúdio. Trazendo na bagagem um novo disco que lida explicitamente com temas como o isolamento, introversão e às vezes raiva, a música que ouvimos na Stereogun foi frutiferamente pesada, mas altamente aditiva e terapêutica. Além dos já referidos temas de New Kind Of Cross na cidade do Lis ouvimos ainda o bastante aplaudido “Avoiding The Light”, “Ode To Hate” – numa versão ao vivo com um poder incrível – e o tema da despedida do primeiro concerto da tarde, “New Kind Of Cross” que, antes de se fazer escutar, levou Marc Dwyer a dirigir as últimas palavras ao público “Thank you so much Leiria, this was wonderful (…) thank you guys“. Foi maravilhoso sim, pena não termos ouvido “Time” ou “Bodies”, mas como não havia Kill Shelter no cartaz não se pode ter tudo. Pode ser que venha numa próxima! 

Buzz Kull deu o adeus a Leiria por volta das 18h12. 


ZANIAS 

O relógio marcava as 18h24 quando Zanias fez soar na Stereogun o tema de abertura da sua performance – “Rise” – retirado do mais recente disco de estreia Into The All (2018). Numa nuvem de fumo e vento, luzes azuis e uma Alison Lewis situada entre os sintetizadores e a bateria digital, o público começou por ser convidado a entrar no mundo multidisciplinar que Zanias engloba neste disco de estreia sem, contudo, esquecer os temas que deram azo ao início de carreira, como foi o caso de “In Eternal Return”, a segunda música que se fez ouvir em sala. Into the All – que teve recurso a gravações de campo na Malásia e Austrália, além da inclusão de instrumentos oriundos da Indonésia, Arménia e Suméria – mostra que Zanias é uma artista em constante evolução e progresso e Alison Lewis soube mostrá-lo em Leiria. O concerto foi-se moldando no tempo através da performance de temas como “Aletheia”, “Exuvia” até chegar a uma fase mais techno-inspired onde as luzes, num strobe contido, iam fazendo o acompanhamento certeiro. 


Depois de ter marcado presença em Leiria, na edição de 2015 do Entremuralhas (na altura com o seu ex-projeto Keluar), Zanias estava ali de regresso naquela que era a sua estreia na Stereogun. Acompanhada ainda de dois microfones para criação de diferentes efeitos vocais em pontuais músicas durante a performance – que foi bastante modular – Zanias explorou desde os ritmos mais lentos e contemplativos às paisagens mais movimentadas e preenchidas em cores além dos níveis de cinza. Ainda em Leiria fomos recebidos com uma performance bastante emotiva de “Follow The Body”, aquele hit de carreira retirado do EP To The Core (2016, Noiztank); “Division” – numa versão ao vivo com uma presença de voz bem mais poderosa – e, ainda, o bastante aditivo “Idoru”. 


Já a chegar cada vez mais perto do fim, numa performance onde Zanias comunicou apenas de forma indireta com o público, as atmosferas negras e os sintetizadores sinistros tomaram posse do palco, para projetar o espetador a um ambiente de experimentações sonoras com influências orientais. Zanias manteve-se sempre muito ativa em palco durante toda a execução desta estreia em Leiria, aproveitando ainda os momentos em que não tocava para dançar, ou vir até mais junto ao público. Além das faixas já editadas, o concerto em Leiria garantiu ainda a oportunidade de ouvir alguns temas novos. Alison Lewis deu por terminada a sua performance por volta das 19h24, hora em que abandonou o palco, deixando as atenções restantes para a música de fundo. 


Num evento que rendeu a Portugal duas estreias muito aguardadas, a Fade In voltou a mostrar o seu rigor e profissionalismo, garantindo uma matiné de domingo muito bem passada. Em ambiente familiar – como sempre temos sido recebidos – o último episódio do FadeInFestival 2019 voltou a conceber dois espetáculos que, mais uma vez, deixaram o coração cheio àqueles que marcaram presença em Leiria. Agora é esperar pelo próximo!


Texto: Sónia Felizardo
Fotografias: Virgílio Santos