Reportagem: ACTORS + Isolated Youth [RCA, Lisboa]

Reportagem: ACTORS + Isolated Youth [RCA, Lisboa]

| Setembro 2, 2019 10:00 pm

Reportagem: ACTORS + Isolated Youth [RCA, Lisboa]

| Setembro 2, 2019 10:00 pm



Agosto é um mês mágico para os fãs das sonoridades mais underground. É o nosso querido mês de agosto e a última semana fica sempre pautada por concertos que encantam a quem os assiste. Foi neste cenário de decadência e paixão que os suecos Isolated Youth e os canadianos ACTORS se despediram do país no passado sábado, 31 de agosto no RCA Club, em Lisboa. Numa noite fria a encerrar mais um dos meses de verão, os espectadores que marcaram presença em Lisboa puderam assistir a dois atos relevantes dentro da nova escola do post-punk


ISOLATED YOUTH



Com início marcado para as 22h00 os Isolated Youth subiram a palco por volta das 22h12 para abrir concerto com uma das mais magistrais canções do EP de estreia da carreira – Warfare – editado no segundo dia do mês de fevereiro em formato vinil pela conceituada Fabrika Records. Ouviam-se assim, em sala, os primeiros ritmos de “Oath”, enquanto se esperava ansiosamente pela subida a palco do vocalista Axel Mårdberg. A banda sediada em Estocolomo, fazia a sua estreia na capital com a fragilidade da tenra idade que aportam: tímidos e com pouca comunicação com o público, mas com um conceito de honestidade muito vívido e bonito. 


Warfare é um dos grandes marcos deste ano e um EP que mostra que estes meninos suecos não andam a brincar às bandas. Através de cinco belas canções os Isolated Youth conquistam sem margem para dúvidas o pódio para as bandas revelação do ano, melhor nova banda e melhor EP. Voltando ao concerto, pudemos ouvir “Seasons”, tema que também integra o alinhamento do novo EP e, ainda, confirmar que a voz de Axel ao vivo é altamente cativante, tal como na versão estúdio. Depois de dirigir um pequeno obrigado ao público foi tempo de ouvirmos novas canções. “Voodoo” apresentando-se como a primeira da sucessão de três, com Axel a agarrar a maior parte da atenção entre a sua performance de vocalista, performer e guitarrista, Egon completamente no seu mundo mas a mostrar-se um exímio baixista, Andreas a destacar-se em grande na bateria e William a fazer memoráveis riffs acontecerem. 




Entre uma pequena pausa para afinar instrumentos, a segunda nova música que se ouviu em sala foi “Iris”, que deu tempo para apreciarmos um novo caminho na sonoridade dos Isolated Youth. Atmosferas carinhosas, quebras de ritmos repentinas, evoluções mais no caminho do indie rock e uma nova roupagem que encaixa bem como sucessão de Warfare e que, certamente, os levará a alcançarem o público que merecem. Para fechar a rodada das novas músicas Axel apresentou a música sucessora como “ICT”. A aproximar-nos da segunda parte do concerto, tempo para ouvirmos mais duas malhas do EP de estreia: o tema homónimo “Warfare” e o single que os fez surgir entre os media internacionais, como uma banda com um novo ar fresco, “Safety” – que, apesar de ter demorado a iniciar, rapidamente conquistou o coração do público português: “There Is no Safety until I hunt you down and take you home” – cantam eles – e pensamos nós, espectadores, enquanto os vimos atuar. Quem nos dera levar estes meninos para casa! 




Já a chegar ao fim, para nossa infelicidade, tempo de ouvir a última canção dos suecos chamada algo como “Ferris Wheel”, mais uma das novas malhas que certamente teremos oportunidade de escutar no muito aguardado disco de estreia da banda. E que malha, caros leitores, que música incrível! Ritmos emaranhados entre uma voz mais experimental e com influências mais divergentes que os tornam ainda mais interessantes. Fiquem com isto na cabeça: Os Isolated Youth vão ser uma das grandes bandas alternativas da próxima década, só precisam de mais tempo para florescerem por completo. A sair do plano visual por volta das 22h52 com som de feedback da guitarra em destaque, a banda não regressou a palco apesar do pedido do público. 




ACTORS

Às 23h15 entravam em palco os canadianos ACTORS a abrir performance com o tema “It Goes Away”, enquanto emitiam uma onda sonora altamente contagiante e a trazer à memória aos anos 80. Com Jason Corbett a mostrar-se um vocalista com uma enorme presença em palco e os restantes elementos da banda a seguirem-lhe as pisadas, os ACTORS seguiram performance com “How Deep is the Hole”, para um público que ia sentido a vibe de boa onda e o espírito acolhedor que os ACTORS aportam ao vivo. As guitarras e os arranjos de It Will Come To You, o mais recente longa-duração dos ACTORS, começam por ser explorados através de “L’appel Du Vide”, tema apresentado a um público bastante mais desinibido que no concerto de abertura e que assegurou as primeiras palmas conjuntas dos espectadores em sonância com a banda. 


Sem tempo para pausas seguiram-se “Slaves” e “Face Meets Glass” – cujo término levou a mais um momento de comunicação de Jason Corbett com o público – antes de partirem para “Post Traumatic Love” e o side B “Nightlife”, dois temas que marcaram o início de carreira dos ACTORSMuito bem acompanhado por Shannon Hemmett (sintetizadores/voz), Jahmeel Russell (baixo/voz) e Adam Fink (bateria), Jason Corbett puxou constantemente – e durante toda a performance – o ânimo do público para um concerto que se mostrava bastante competente. 






De volta a It Will Come To You (2018, Artoffact Records) ouvimos ainda “Crystal” – tema que mostrou que o timbre de Jason Corbett faz lembrar, em certas ocasiões, o icónico Adrian Borland dos The Sound -; o mais recente hit “We Dont Have To Dance” – que colocou algum do público a cantar com a banda, além de embutir a sala no autêntico ambiente de folia. Depois de “Let It Grow” ouvimos o vocalista afirmar: “We only have two more songs” antes de, juntamente com a banda, fazerem rasgar o incendiário “Bury Me”. “Like U Want 2” deu por terminada a performance dos ACTORS em Portugal com a banda a afirmar que queria passar algum tempo com o público que marcou presença no concerto e, inclusive, tirar fotos após a despedida do palco. O concerto dos ACTORS acabou pelas 00h01 sem registo de encore.




Como já era esperado, à priori, esta foi mais uma memorável noite patrocinada pela irrequieta e sempre atenta promotora portuense At The Rollercoaster. Ter a oportunidade de ver dois nomes relevantes da cena underground num mesmo espaço tão português é um esforço de louvar e não poderia terminar esta reportagem sem deixar um grande abraço e um profundo obrigada a toda a organização.


Fotografias: Virgílio Santos
Texto: Sónia Felizardo

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