Reportagem: Hania Rani – CCOP [Porto]
Reportagem: Hania Rani – CCOP [Porto]
Setembro 13, 2019 8:24 pm
| Reportagem: Hania Rani – CCOP [Porto]
Setembro 13, 2019 8:24 pm
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“Como se setembro fosse música”
Em vésperas do equinócio de outono, Hania Rani, uma jovem pianista e compositora de origem polaca, regressou a Portugal, pelas mãos do Gig Club, para dois concertos. O primeiro teve lugar em Lisboa, no dia 4 de setembro no MusicBox e o segundo no Porto, no dia 5 de setembro no Círculo Católico de Operários do Porto (CCOP), onde apresentou peças de “Esja”, o seu disco de estreia (editado em abril), mas também vários temas inéditos, que muito provavelmente veremos compilados num próximo disco.
Embora tenha por base um ensino de música clássica, Hania cria as suas próprias composições e projetos há vários anos. No seu trabalho, tenta cruzar as fronteiras de estilos e géneros musicais, misturando instrumentos acústicos com sons mais modernos e eletrónicos. Em 2015, lançou o seu álbum de estreia, intitulado “White Flag”, gravado em dueto com o violoncelista Dobrawa Czocher.
Foi com uma timidez e simplicidade emocionante que a vimos entrar em palco, no CCOP. Esperava-a, num ambiente simples, mas intimista, uma plateia expectante que tinha como “pano de fundo” o som do chilrear de aves, de quedas de água e do bailado das folhas secas que se vão desprendendo das árvores.
Hania foi desconstruindo as complexidades melódicas, deslizando suavemente as suas mãos delicadas sobre as teclas do piano e os pés descalços sobre o sustain, numa interpretação perfeita, em que a sonoridade e a doçura da sua voz nos transportaram para um ambiente carregado de magia e de candura bucólica.
Ao longo da sua atuação, presenteou-nos com o seu talento, em tendências da música clássica moderna, com uma ligeira incursão pelo jazz. A sua jovialidade e talento extravasaram num diálogo visceral com o piano, onde as afinidades harmónicas e rítmicas se aliaram para nos cantar estórias de “tonalidades sépia”, hipnotizando quem a ouvia quando atingia o clímax clássico, onde todas as camadas melódicas se entrelaçavam.
Durante a sua atuação, apesar da timidez que deixava transparecer, Hania foi interagindo com o público, explicando como tinha composto as várias peças que ia interpretando, indubitavelmente marcadas pela inspiração suscitada pelos sons e pela beleza da natureza dos lugares mais selvagens e isolados das montanhas da Polónia e da Islândia.
A noite foi de emoção, tanto para o público como para Hania. Afinal era o dia do seu aniversário (deixou-o escapar baixinho, numa das poucas pausas que fez entre peças); um dia especial para a jovem pianista, mas também para todos os que a ouviram e se deixaram seduzir pelo som do piano e da voz desta menina prodígio que se desmarca de uma sonoridade rígida e dura, abraçando tendências da música clássica moderna.
Esta noite de encantamento foi coroada por um “parabéns a você” por muitos daqueles que permaneceram na sala, depois do encore.
Com toda a certeza muito ainda ouviremos falar de Hania Rani. Aguardemos por novos projetos e por um regresso a Portugal!
Texto: Armandina Heleno
Fotografias: Armandina Heleno