Reportagem: MS NINA + LA ZOWI [Theatro Circo, Braga]

Reportagem: MS NINA + LA ZOWI [Theatro Circo, Braga]

| Novembro 22, 2019 8:58 pm

Reportagem: MS NINA + LA ZOWI [Theatro Circo, Braga]

| Novembro 22, 2019 8:58 pm
© Theatro Circo

A noite na cidade de Braga estava igual a muitas outras desta altura do ano, em que o mau tempo cobre a cidade de tons cinzentos, e o simples facto de não chover já é motivo de contentamento. Contudo, dentro do Theatro Circo, o clima que se estava a preparar era bem diferente. 

A confirmação de La Zowi e Ms Nina foi certamente uma surpresa geral, isto apesar da programação do Theatro Circo muitas vezes confirmar alguns nomes arriscados. Esse arriscar da programação foi logo perceptível no início da noite, quando começou a ser visível a pouca afluência de pessoas na sala principal do Theatro Circo. Para além de poucos, muitos também certamente não saberiam para o que iam, isto apesar das duas artistas serem figuras maiores da música urbana espanhola. 

As pessoas eram poucas, mas o ambiente era descontraído tal como exigia o evento, e foi ficando cada vez mais conforme o dj Mark Luva ia avançando no seu dj set, fazendo com que progressivamente algumas pessoas se levantassem dos seus lugares marcados e fossem para os lugares mais próximos do palco para que, de pé, começassem a dançar ao som das passagens de músicas que foram ambientando a sala por uns bons largos minutos antes da La Zowi entrar no palco. 

Se no início esta demora em La Zowi começar o concerto e deixar o ambiente fluir ao comando do seu dj possa ter parecido excessiva para muitos, talvez a opinião tenha mudado quando esta subiu ao palco. É que a cidade de Braga não está habituada a algo assim, e muitas vezes ambientar pode ser bom para as diferenças culturais significativas, principalmente quando esta começa o concerto da melhor forma ao se lançar em grande modo em “Bitch Mode”, começando assim logo por explicar em palavras diretas quem realmente ela é e como é a sua vida. 

© Theatro Circo

Rapidamente a temperatura da sala do Theatro Circo começa a aumentar, e por isso está perfeito para ela avisar desse intenso calor com “Bitch te Quemas”. Fica a dica. O concerto continua com “Tu o Yo”, mas foi em modo ellas que o concerto ficou melhor, quando uma das suas bailarinas se juntou ao concerto, fazendo as delícias de muitas pessoas e a reprovação certamente de algumas, sendo que num certo momento do concerto até a La Zowi diz a apontar para a dança da bailarina “Esto es solo reggaeton”. Era verdade, era só trap e reggaeton, mas isso não invalida a reprovação que alguns até já deviam ter sentido logo quando perceberam que a palavra puta é utilizada extensivamente no lirismo das composições da cantora. 

O ponto alto do concerto para muitos terá sido quando essa mesma bailarina vai para a parte da frente da plateia literalmente dar tudo com um espectador. Há pessoas com sorte. E eu ali nas grades, tão perto mas tão longe. No entanto, para quem conhecer a produção de La Zowi, certamente que não consegue dizer qual foi o ponto alto do concerto no meio de tantos hinos urbanos a serem cantados naquela sala artisticamente tão bela, que ainda ficou mais sublime ao som de “Obra de Arte”. 

O concerto continuou ao som de músicas como “Oscuro”, e como até aí tinha sido pouca vezes pronunciada a palavra puta, seguiu-se a música “Putas”, ou ainda depois  “Pussy Poppin” e “Si te Pillo”, sempre com uma La Zowi sem papas na língua. É que mesmo sendo noite de halloween e haver alguns jovens mascarados no seu concerto, ela é a matriarca do trap e por isso nunca usa máscaras. 

© Theatro Circo

Certamente muitos nunca teriam visto um concerto assim, que acaba por terminar rápido e em grande ao som de “No Lo Ves”, onde a poucas horas de mais um dia de Todos os Santos, La Zowi canta “Tengo dinero pa mi entierro, ¿o es que no lo ves?”. É que o trap não é só ostentação na vida, mas também na morte, até porque muitas vezes são mundos que estão muito próximos. Que no entanto ela dure muitos anos para continuar a lançar verdadeiros hinos de trap, e sendo ela a matriarca, ilumine o caminho a seguir. 

O segundo concerto desta noite ficou a cargo da joven y guapa rainha do reggaeton Ms Nina, que veio apresentar o seu recente álbum lançado em julho deste ano, Perreando por Fuera, Llorando por Dentro. O nome do álbum já diz muito, sendo assim uma mistura entre perreo e música sentimental. Trata-se de arte portanto, e por isso mesmo, entre tantos estilos artísticos com neo qualquer coisa, podem agora acrescentar o neoperreo. 

Tal como aconteceu no concerto anterior, Ms Nina não se apresentou logo no palco quando começou o concerto, ficando o início entregue ao dj Mygal X, mas como a festa já estava iniciada, demorou menos tempo a subir ao palco. 

© Theatro Circo

Dois dias depois de ter lançado o videoclip, atirava-se a “Coqueta”. E apesar de não ser verdade quando cantava “Vamos a perrearnos toda la noche”, restava aproveitar ao máximo a hora de concerto para a ouvir e a ver juntamente com as suas bailarinas em movimentos sincronizados, e assim também aprender como se perrea. Aliás, todo o concerto foi um ensinamento “Rico Rico” em relação a aprender a perrear, sendo a regra básica o “palante y pa´ trás”, ou seja, o mesmo ensinamento que o mestre Daddy Yankee já apregoava há algum tempo. Pam pam, boas influências dão bons resultados. 

Essa influência é tão assumida (e ainda bem), que antes de começar a tocar a música “Gata Fina”, passou nada menos que “Gasolina” de Daddy Yankee. Tudo certo, porque a gata fina da Ms Nina quer gasolina. E só faltava mesmo gasolina para incendiar o Theatro Circo conforme o calor na sala ia aumentando. “Hace mucho calor aqui”, dizia ela. Alguns palpitavam de que o ar condicionado devia estar avariado, mas como é que algum ar condicionado pode resistir a uma noite assim? 

Sensatos foram aqueles que foram ao bar buscar finos durante o intervalo entre La Zowi e Ms Nina para se assim se refrescarem durante o concerto. Afinal, tal como é apregoado em “Los Angeles”, nada como “un poco de perreo, un poco de cerveza” até porque naquela sala estava montada uma “Noche de Verano” porque Ms Nina esteve ali para dar tudo. “Te Doy”, disse e cantou ela nos inícios do concerto. Não mentiu, tal como depois se viu em “Traketeo” com a máxima de “y no pares hasta que sude”, continuando depois o concerto ao som de músicas como “Y Dime”, a acelerada “Danger” ou ainda “Tu Sicaria”, para assim acabar em grande um concerto latino bem movido de tanto puxar para bailar.

Texto: Óscar Santos

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