“We’re going downtown we don’t want to be alone with ourselves We’re going downtown to meet our other half We’re going downtown cuz we’re tired of masturbating We’re going downtown to have a story to tell”
O roteiro escrito desta noite passa pelo Sabotage Club. O Manipulador veio ao Cais do Sodré apresentar Doppler. O cenário exterior parece uma recriação de Blade Runner: chuva miudinha néones publicitários, vendedores de substâncias ilícitas e colónias de turistas, a chamada globalização.
Esta noite atrai-nos o fetish pelas sonoridades obscuras e sombrias. As paisagens campestres já não nos movem. O estado de espírito está preso/congelado algures numa nave intergaláctica perdida num buraco negro.
Manuel Molarinho é exímio em lançar-nos numa teia sem fuga possível. A subversão com que toca nas quatro cordas e o bate pé nos efeitos especiais são poesia sonora para o nosso sistema auditivo.
O que me prende naquilo que vejo é a alternativa que ainda nos vai surpreendendo com estes “astronautas”, que nos fazem ainda acreditar em Deus e nos extraterrestres. O paraíso ainda é possível!
O homem é músico sim, mas é também contador de estórias citadinas e noturnas, procurando encontrar, em cada esquina, uma satisfação para os seus desejos imediatos…. Afinal o presente/futuro estão mesmo aqui ao lado, o seu nome é Doppler.
A artwork do CD (editado pela Saliva Diva) de André Catarino é belíssimo; um mundo de fantasia sinistra em decadência, um ilustrador a acompanhar.
Setlist:
“The Sheep” | “Downtown” | “Baby I Don’t Feel So Well” | “It’s You” | “If You Ruled The World” | “Coward” | “Ground People” | “Voices In Your Head” | “Bloody Tongue” | “They Took It” |
Videodrome
Conferência Inferno, transmissão psíquica na televisão do eterno paraíso da estática, é o ID de apresentação na sua página do Facebook aos telespectadores…
O programa exibido em prime time é uma espécie de onirismo. Salvador Dali fazia uso da privação do sono para composição das suas obras. Raul Mendiratta e Francisco Lima no seu Bandcamp descrevem os seus delírios entre “pop náutico e militarizado que levou uma injeção de pica descontrolada e o kraut um supositório de tensão. Pastilhas coloridas de surrealismo foram dissolvidas na água da darkwave mais escura e o punk enfiado num colete de forças com fecho eletrónico”.
O que assistimos nesta noite no Sabotage faz-nos lembrar um pouco o canal memória da RTP. Traz-nos recordações disto e daquilo, a voz é o X, os synths são o P, o baixo é o T e tudo o resto é O de …. Onírico!
O meu desejo enquanto espectador é conhecer a nova temporada, que espero, acredito mesmo que seja, a saída de um álbum neste 2020, para além dos quatro temas que ouvi e que constam no EP de estreia Bazar Esotérico.