‘Bad Pritt’ (de Bad Pritt) revisitado
‘Bad Pritt’ (de Bad Pritt) revisitado
‘Bad Pritt’ (de Bad Pritt) revisitado
No meio dos meses que passaram não cheguei a ouvir nunca o disco de estreia de Luca Marchetto (The White Mega Giant) como Bad Pritt, até que o disco chegou até mim pelo correio. Às vezes são precisas insistências e confirmo que neste caso a Shyrec teve um bom desempenho. Então, passados quase dois anos depois desse lançamento, aqui estou eu a explicar como é que este disco de estreia homónimo se revelou um claro poço de sons interessantes, eletrónicos e amplamente conquistadores. Neste projeto, Bad Pritt concentra-se amplamente nos espectros sonoros da música cinematográfica, apoiando-se ainda na música eletrónica sofisticada e influenciada pela escola neoclássica. Como resultado são produzidos sete temas amplamente emblemáticos, criados pela mente de um produtor só, mas a funcionarem no ouvido como uma orquestra completa. Exploremos então o seu alinhamento.
Bad Pritt inicia a estreia nos discos com “The Ghost In My Bed”, tema altamente sinfónico e puramente instrumental que nos conduz a um forte estado de imersão quase instantânea. São cerca de dois minutos e meio de música conduzida pelo meio de batidas secas e arranjos sintetizados de aura emotiva e profundamente envolvente. A estética dos elementos orgânicos continua em forte exploração no tema que o sucede, “Stalactite”, o primeiro tema do álbum onde tomamos consciência dos tons vocais que caracterizam Bad Pritt: ténues, confortáveis e um certo ponto de abrigo. Em “Stalactite”, a veia mais clássica da eletrónica ganha foco, num deleite musical que é feito por ritmos monocromáticos, a pureza dos violinos e o contraste mais denso nos sintetizadores mais escuros.
Continuamos viagem com “International Dark Sky Association” e todo um novo amor que começa por ser descoberto logo no início com a subtileza da imersão entre o som arrojado do violoncelo e a fragilidade do violino. No meio do som exasperante, Bad Pritt vai acrescentando as suas batidas naturais envolvidas pela eletrónica densa e toda uma nova exploração a nível vocal com grande foco na digitalização. Eletrónica espacial e sci-fi a incluir samples de gravação em italiano e toda uma viagem imersiva naquela que é certamente uma das melhores pérolas desta estreia. Sucede-se “Falls Like a Domino” e há toda uma nova condução para as ambiências mais clássicas num tema dominado inicialmente pelo piano e pela desvisceração do som analógico da voz humana. Numa segunda parte da faixa há ainda uma aproximação a sons característicos da dream-pop num esquema de sonoridades a trazer à memória nomes como Sleep Party People – (talvez por isso Bad Pritt se apresente ao mundo com uma máscara self-designed).
Já a chegar à reta final do disco somos surpreendidos com “XOXO” tema que, acompanhado pelo seu trabalho visual volta a frisar um certo lado esotérico na parte multimédia do projeto. Do caos existencialista de “XOXO” somos projetados até ao tema que dá por encerrado este primeiro esforço de estreia de Bad Pritt, “Burning Bridges”. Num tema mais melódico e de traços pop Bad Pritt tece tonalidades contemporâneas, inspiradas pela música clássica e construídas sobre estruturas do neorromantismo e ecos sentidos nos picos de certas emoções mais intensas.
Foi curioso voltar a este Bad Pritt quase dois anos feitos após um primeiro contacto não muito bem sucedido. Encontrar aqui um disco com uma denotada essência humana que é construído ao redor de arranjos tecnológicos e um efeito de imersão quase automático trouxe a prova de que há um timing certo para as coisas acontecerem. Se em 2018 não houve uma ampla curiosidade em insistir na procura de informações e agir como consumidor ativo, no presente 2020 o disco de estreia de Bad Pritt ainda chega em boa altura para conquistar as almas sensíveis.