!!! (Chk Chk Chk) no Hard Club: o dance punk continua vivo (e recomenda-se)

!!! (Chk Chk Chk) no Hard Club: o dance punk continua vivo (e recomenda-se)

| Maio 30, 2023 11:56 am

!!! (Chk Chk Chk) no Hard Club: o dance punk continua vivo (e recomenda-se)

| Maio 30, 2023 11:56 am

A minha primeira experiência com !!! (Chk Chk Chk) foi há quase nove anos no NOS Primavera Sound, entraram em palco pouco depois do fim do concerto de St Vincent. Não estava de todo preparado para o que ia assistir, penso que nunca tinha ouvido a banda antes e foi daquelas bandas que de vez em quando vemos por puro acaso, e que belo acaso. Entra em palco um homem de blazer e calções azuis curtos que dança e faz a festa como nunca tinha visto, um concerto que ainda identifico como um dos melhores a que já assisti. A partir daí tornei-me um fiel seguidor da banda, Thr!!!er (2013) é um dos meus discos favoritos, vivi com entusiasmo o lançamento de As If (2015), Shake The Shudder (2017) primeiro estranhou-se e depois entranhou-se e foi aí tive a oportunidade de repetir a festa da banda de Nic Offer, ao vivo no Hard Club em 2017. Confirmei assim que nunca mais poderia perder um concerto desta banda.

Mais tarde a banda lançou Wallop (2019) e Let It Be Blue (2022), discos que não recebi com a maior das alegrias e que continuo a evitar durante visitas à sua discografia. É assim que chegamos ao presente, dois concertos pela mão da Crowdmusic anunciados no Porto e em Lisboa. Mesmo não sendo fã dos últimos discos e assustado pelo alinhamento tocado em Lisboa (que continha sete músicas que me eram desconhecidas) tive de me dirigir ao Hard Club para assistir a este regresso tão esperado.

O concerto começou com “This Is Pop 2”, o primeiro single de Let It Be Blue, dando início aos cerca de 70 minutos de dança incessante. Nesta atuação Nic já não utiliza o seu característico blazer com o qual iniciava os concertos e os seus calções são ligeiramente mais longos e verdes, os seus cabelos agora brancos, Nic está diferente, mas faz questão em acenar às origens, o primeiro tema tem momentos em que faz lembrar quase hardcore punk, o género musical no qual o vocalista se situava antes de se aventurar pelo dance-punk. Foi esta a primeira surpresa com que nos brindaram.

Nic envelheceu e não o esconde, é algo incontornável. Ou será que é mesmo? Fisicamente mudou, mas tudo o resto se mantém e até teve melhorias. Passou grande parte do concerto no meio do público, a dançar com ele, a desafiá-lo para batalhas de dança (numa batalha injusta onde já se sabe à partida quem vai ganhar) e a incentivar todos a libertarem-se e a divertirem-se da maneira mais despreocupada e natural possível.

Desde a sua última presença em Portugal a banda mudou, juntou-se a vocalista Meah Pace, a quem cabe a tarefa mais complicada, partilhar palco com Nic Offer, um dos maiores animais de palco, sem ser ofuscada por ele. Meah desempenha a sua tarefa na perfeição e, embora não se aventure tanto na dança, os seus vocais são imaculados. No geral parece haver uma maior distribuição do papel que antes era apenas de Nic, a existência de mais backing vocals, e até momento em que tocam “Un Puente” e é cedido o microfone ao guitarrista Rafael Cohen.

chk chk chk

Ainda que os novos discos não sejam de todo do meu agrado é impossível a indiferença ou desgostar do espetáculo com que os !!! nos presenteiam. Conseguem transformar um momento mais fraco de estúdio numa incrível manifestação ao vivo, converter quem não gosta e até justificar o rumo tomado. A força da banda não está nos singles que eles evitaram deliberadamente, a força da banda está em si própria, na sua presença e postura ao vivo e esta é uma energia extremamente difícil de encontrar. Quaisquer dúvidas ou preocupações em relação ao alinhamento dissiparam-se. Nic é a pessoa que mais dança nos concertos de !!!. Isto é lindo! Influencia totalmente quem está a ver, o concerto está a ser divertido para todos, não só para quem está a assistir.

A experiência ao vivo de !!! é um menu de degustação onde vamos preparados para aceitar tudo o que os mestres nos têm para oferecer: música de que gostamos, música de que não gostamos, música que não conhecemos e vamos gostar, não só pelo carinho com que tudo nos é apresentada, mas também pela confiança com que nos é apresentada.

Foram vários os pedidos de “Must Be The Moon”, mas a banda decidiu cingir-se ao alinhamento que tinha planeado e alegou que não se lembrava de como tocar, aproveitando para fazer a ponte para outra canção sobre a lua, a versão de “Man On The Moon” dos R.E.M.. Acho que seria impossível os R.E.M. alguma vez terem previsto que a sua música levaria uma nova roupagem, tornando-se quase irreconhecível a não ser pelo refrão. Ainda que não fossem de total urgência e importância também houve tempo para alguns temas mais antigos: “Our Love (You Can Get)”, “Freedom! ’15” e o mais ouvido no spotify, “Even When The Water’s Cold”. Momentos de destaque pois foram imediatamente reconhecidas pelos presentes e também as alturas em que Meah Pace mais brilhou. O público do Porto ainda teve direito a dois encores, um deles com “NRGQ”, e o segundo com uma música anunciada como sendo um deep cut (música que será mais obscura e pouco conhecida do público) que eu não consegui reconhecer.

Findado o concerto, Nic Offer, ainda teve a coragem e energia para conhecer os seus fãs do Porto, autografar os seus bilhetes e merchandise e ainda mostrar-se profundamente agradecido pela presença e interesse das pessoas no seu trabalho (como é que é possível não ter interesse depois de tremenda demonstração?). Fica reforçada uma certeza: perder um concerto de !!! é um erro, mesmo que não nos identifiquemos com os trabalhos de estúdio mais recentes. A caminho de casa só consegui pensar numa música que não foi tocada nesta noite, mas penso que será a mais adequada: “All My Heroes Are Weirdos”. Bem, não sei se todos, mas pelo menos um deles é, e ainda bem.

chk chk chk

Reportagem: Francisco Lobo de Ávila

Fotografia: Josué Bandeirinha (Noizze.pt)

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