Party Sleep Repeat: uma festa que celebra a música portuguesa

Party Sleep Repeat: uma festa que celebra a música portuguesa

| Maio 5, 2023 3:04 pm

Party Sleep Repeat: uma festa que celebra a música portuguesa

| Maio 5, 2023 3:04 pm

No passado dia 22 de abril realizou-se a edição de 2023 do festival Party Sleep Repeat, na Oliva Creative Factory em São João da Madeira. Esta edição marca o 10º aniversário do PSR, que desde o seu início procura apoiar instituições solidários enquanto celebra a música (neste caso a Liga Portuguesa Contra o Cancro e a campanha Apadrinhe Esta Ideia).

Com um cartaz digno da sua década de existência, o festival dividiu os seus concertos por 4 palcos, de acordo com os horários dos mesmos: Palco CAO (Centro de Arte Oliva), Terraço, Alameda e Sala dos Fornos. Infelizmente, devido a mudanças entre autocarros para o Porto e shuttles para São João da Madeira, não pude assistir aos concertos de Arianna Casellas e Kauê, MAQUINA e Gala Drop.

O primeiro concerto completo que consegui apanhar foi dos espanhóis Kings of the Beach, já familiares para o público português devido ao booking da Pointlist, no Palco Alameda, ao ar livre. O trio trouxe um set com garage rock divertido, e uma boa-disposição que rapidamente contagiou o fim de tarde do público do PSR, que apesar de estar um pouco disperso, estava em sintonia com a música.

No mesmo palco mas já ao anoitecer tocaram os YAKUZA, com um baterista diferente do habitual, mas igualmente apto. O quarteto de fusion de Lisboa ganhou instantaneamente o amor do público – durante o concerto não faltaram pessoas a dançar, mesmerizadas pelas incríveis capacidades musicais da banda que tão bem articula melodias mágicas de sintetizadores e linhas de baixo groovy.

Seguiram-se os portuenses Sunflowers, a apresentar o disco A Strange Feeling of Existential Angst, lançado umas semanas antes. Num layout com a bateria ao centro, guitarra à esquerda e baixo à direita, tocaram com toda a energia que conseguiram, notável em músicas como “Electric Piety” ou “Body Craves Data”. Apesar do foco ser nas novas músicas, também foi tocada “Sleepy Sun”, do álbum Castle Spell. Havia planos para tocar mais, mas infelizmente o set foi cortado antes da banda conseguir terminar, deixando alguma desilusão entre o público, não pela performance, mas pelo fim desta.

Party Sleep Repeat

Moullinex & GPU Panic © Emanuel Canoilas

Às 22h entrámos no palco interior da Sala dos Fornos, onde o primeiro concerto apresenta uma disposição inesperada. No centro da sala que é uma espécie de armazém (afinal de contas, o edifício é uma fábrica recompartimentada), por entre o nevoeiro das máquinas de fumo, estava um pequeno palco quadrangular, onde encontrámos Moullinex e GPU Panic, a substituírem o seu colega da Discotexas Xinobi, que por motivos de saúde cancelou a sua participação no festival. A música eletrónica do duo foi acompanhada por luzes tipo lasers a incidir nos músicos e público, incitando novamente os espetadores a dançar como se estivessem num after de madrugada.

O palco mais convencional da mesma sala é estreado por David Bruno, que traz consigo António Bandeiras, Marco Duarte e Mohammed, assim como o convidado Marlon Brandão, d’Os Azeitonas, que canta “Tema de Guedes” no disco áudio novela Sangue & Mármore. Entre cânticos de “Gaia”, “Gondomar” e até “Caxinas”, concursos de flexões, ofertas de camarões e de gomas, em duas ocasiões diferentes, a António Bandeiras, e crowdsurfing do mesmo, David Bruno apresenta um dos espetáculos mais divertidos que encontramos neste momento na música portuguesa, com música igualmente cativadora e agradável.

Já perto do fim da noite, por volta da uma da manhã, os Linda Martini subiram ao Palco Sala dos Fornos. Os veteranos do rock contemporâneo português atraíram para o Party Sleep Repeat uma boa quantidade de fãs, agraciados por um público bem composto (não tanto como David Bruno), cativado e leal, a gritar as letras com a banda. A energia dos Linda Martini é refletida pela energia dos espetadores, entre os quais encontramos pessoas de todas as idades, e faz tremer o chão e paredes da Oliva Creative Factory.

Os Fogo Fogo estiveram a cargo de terminar os concertos desta edição do PSR. Mantiveram o lema de fazer as pessoas mexerem, honrando o “Party” no nome do festival, com baterias energéticas e sintetizadores divertidos. Mesmo sendo já 3 da manhã, depois de nove horas de concertos, o público mostrou-se disposto a dançar, bater palmas, e não se deixou ir abaixo, com a banda de funaná e afro funk a cumprir a sua missão de manter o festival animado.

Foi um dia cansativo, mas que deixa boas memórias de concertos rodeados por amigos. O Party Sleep Repeat procura honrar Luís Lima, jovem sanjoanense falecido em 2013, vítima de cancro, ao celebrar a partilha da música, e deixa-nos incapazes de não fazer. Ficamos felizes que, depois de alguns anos duros de pandemia, o festival esteja de regresso e permita disfrutar de alguns artistas que marcam a música nacional, entre a companhia de pessoas incríveis.

Fogo Fogo © Francisco Gomes

 

Reportagem: Afonso Mateus

Fotografia: Emanuel Canoilas (fotografia de capa) e Francisco Gomes

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