APUROS 3: uma notável demonstração de ecletismo

APUROS 3: uma notável demonstração de ecletismo

| Junho 22, 2023 5:13 pm

APUROS 3: uma notável demonstração de ecletismo

| Junho 22, 2023 5:13 pm

Foi na noite significativamente cinzenta e chuvosa de 27 de maio que o terceiro evento da APUROS (e o primeiro fora do habitual espaço deles, o AL859) teve lugar na Casa do Salgueiros. Apesar do alinhamento ter sido atormentado por vários atrasos, as pessoas – tanto os jovens como alguma gente de gerações mais envelhecidas – foram chegando ao local, dando uma vistoria ao mercado de arte com os diversos prints e CD’s à venda de artistas independentes instalados à porta do recinto, ao mesmo tempo que antecipavam um serão que se adivinhava ser bastante promissor, com vários nomes emergentes a quererem desfilar a sua identidade musical e por conseguinte, causar furor em palco.

A tarefa de começar a noite coube ao duo Lesma Sem Paça, que apresentou um DJ set marcado por uma constante desconstrução desenfreada feita com várias faixas diversas e bem conhecidas do público geral (pense-se Barbatuques, New Order e Spandau Ballet, entre outros). Este mishmash de temas tornou-se caótico no bom sentido, resultando numa demonstração que foi tanto vibrante como alucinada, e foi bastante eficaz a aquecer o público que bailou imenso até ao fim do set.

A seguir no alinhamento, veio ao palco o jovem músico Rui Santos, conhecido pelo seu nome de projeto Bug Snapper e a postos com os seus sintetizadores e guitarra, com o seu álbum de estreia Neptune Recreation Center prestes a ser tocado ao vivo. O que se seguiu foi uma jornada sonora de cânones interplanetários, composta por uma explosão de sons futuristas que emanam uma miríade de melodias ambient etéreas e que podiam ter passado facilmente por uma banda sonora de uma aventura sci-fi fantástica, tendo assim captado facilmente a atenção da plateia apesar da brevidade do set.

APUROS

APUROS/Gabriel Andrade

Depois foi a vez do projeto a solo de José Vale, geralmente conhecido pelo público graças ao seu contributo nos Unsafe Space Garden. No entanto, este projeto em nome próprio tem uma natureza ainda mais experimental e noisy em comparação com a banda psicadélica vimaranense. O concerto de Vale caracterizou-se por sons de guitarra mais agressivos e brutais, com um uso liberal de vários pedais de efeitos, e que ainda teve espaço para uma desmantelação sonora com recurso aos acordes da La Vie en Rose de Edith Piaf(!), mas que curiosamente também originou uma aura mais melancólica ao longo de cerca de uma hora.

Findo esse concerto, os portuenses Penumbra pisaram o palco do Salgueiros na mesma data que marcou o primeiro ano do seu mais recente EP, Banda Gástrica, o que serviu como pretexto perfeito para um concerto arrebatador. A banda, que possui uma sonoridade post-rock/noise rock volátil e colérico cheio de distorção, esteve a cargo de um set que durou uma hora e que providenciou a altura mais pesada da noite. Para ajudar a celebrar este aniversário de Banda Gástrica, o saxofonista Óscar Ferreira juntou-se à banda para dar uma nova dimensão ao seu ataque sónico, em iguais partes vagaroso e intenso, que conquistou a plateia com a sua cadência hipnótica e primal e convidou ao moshpit.

A responsabilidade do penúltimo concerto coube ao coletivo Ângulos Mortos, munidos de uma parafernália composta por sintetizadores e efeitos que se dispunham pelo piso do palco e aos quais se ficava a dever a obscuridade da música ambient que então nos chegava. Para dar um suporte mais sinestésico à experiência ao vivo, o grupo providenciou uma instalação visual controlada ao vivo, cheio de imagens glitchy e bizarras, que confluía com a sua identidade sonora. Apesar de ter sido uma performance bastante competente e com ideias interessantes no geral, o grupo teve a infelicidade de executar o seu live-act numa altura em que a fadiga se começava a instalar pela audiência, o que acabou por afetar a apreciação daquela que poderá ter sido a oferta sonora mais complexa da noite.

APUROS

APUROS/Gabriel Andrade

O encerramento do evento esteve a cargo do produtor almadense TOMÉ, cujo live-act deu uma injeção de uma mui necessária energia aos resistentes na plateia. O seu cunho musical envolve um misto versátil e dinâmico de sonoridades ambient, jungle e footwork, cunho esse que foi incrivelmente eficaz a contagiar e a convencer o público ainda presente a dar tudo na pista de dança. VALE_​Ј​̵​Θ​Ј​̵, o novo álbum do jovem produtor, foi o mote da sua presença no cartaz, mas também houve espaço para inclusões surpreendentes que tiveram tanto de orgânico como de agradável, como um remix da Besaid Beach, incluída na soundtrack do Final Fantasy X. TOMÉ encerrou assim a terceira edição da APUROS em grande estilo, dando grandes expectativas acerca do que é que a associação irá planear num futuro próximo.

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