The Dandy Warhols no LAV e a abordagem arriscada às canções

The Dandy Warhols no LAV e a abordagem arriscada às canções

| Junho 15, 2023 4:02 pm

The Dandy Warhols no LAV e a abordagem arriscada às canções

| Junho 15, 2023 4:02 pm

“What is LAV? Baby don’t hurt me, don’t hurt me no more” The Dandy Warhols

É geralmente o excerto que nos salta à memória imediatamente após nos ausentarmos desta sala lisboeta, situada agora em Chelas (e outrora em Marvila), sempre que por lá acontece um evento musical, seja este de metal, drum ‘n’ bass ou qualquer outra derivação da música pop. Não fosse este um concerto de rock psicadélico a roçar o shoegaze e teríamos saído como sempre insatisfeitos, felizmente aqui, por sorte, não saímos da sala com os tímpanos feridos.

A ausência de uma maior definição sonora assentou aos The Dandy Warhols que nem uma luva: longe vão os tempos em que de facto a voz do vocalista Courtney Taylor-Taylor se exigia polida e audível. Aqui foi servida encruzilhada no mais profundo reverb e delay, e quando se mistura o delay eléctrico com o delay acústico da falta de preparação da própria sala obtêm-se resultados sísmicos!

Chegando atempadamente ao evento optamos por permanecer do lado fora da sala 2 do LAV até cerca das 22h – hora de início do espetáculo – tendo sido presenteados de forma caricata com uma apoteótica interpretação de “Raining Blood”, original de Slayer, vinda da sala 1, onde se realizava o evento “Candlellight: Clássicos do rock à luz das velas”. Ora bem: viva o rock! E o rock de facto viria!

 

Sem mais demoras “Be-In” seguida de “Ride” assaltam-nos os tímpanos, um teclado gravíssimo de uma faixa ressucitada do seu primeiro disco Dandy Warhols Rule OK que tanto fez pela dita neo-psicadelia, antes de uns Tame Impala a terem enterrado por completo nos idos anos 10… estamos aqui a falar dos gloriosos anos 90. Ai que saudades! Not. Apesar do público claramente apresentar uma faixa etária a rondar os 40 anos, esta pessoa que vos escreve teria porventura zero anos quando a dita faixa saiu… saudades sim de salas em condições.

O concerto prossegue ao ritmo de “Not If You Were The Last Junkie On Earth”, nota para a ventoinha que soprava ar para os longo cabelos da teclista-baixista Zia McCabe, e “We Used To Be Friends”, com direito a bola de espelhos. “I Love You” segue-se pouco depois e é aqui que percebemos que já não nos lembrávamos da quantidade de hits e faixas orelhudas que o quarteto de Portland nos proporcionou nas últimas duas décadas.Os Dandies não vieram aqui para brincadeiras, mas para nos proporcionar um alinhamento em modo Best Of, atravessando toda a sua carreira sem medos e sem rodeios, com versões aprimoradas e apsicadelizadas dos próprios temas, entrelaçados em poucas conversas de palco. Courtney e Zia bem tentavam mas o poder do delay era demasiado forte. Numa destas parcas conversas (a música ou o ruído controlado tratavam do resto) Zia comunica ao público português que esta seria a sua primeira performance em nome próprio em território luso, depois de orgulhosamente terem aberto para os Rolling Stones e tocado em alguns outros festivais, palavras da própria. Corrigimo-la: esta é sim a sua segunda vinda em nome próprio a Portugal, tendo a primeira acontecido no longínquo ano de 2002 aquando da sua presença na Praça Sony (Lisboa) e no Coliseu do Porto, apresentando o então recém-editado Thirteen Tales Of Urban Bohemia, o seu mais bem sucedido disco à data e que neste dia preencheu com seis temas um alinhamento de dezassete. É obra!

 

Não nos queixamos e seguimos com alguns percalços no início de “You Were The Last High”, que aqui teve direito a começo duplo devido a problemas com o som de palco por parte do synth-bass de Zia, e antecipando uma saída de palco da banda com excepção de Courtney, descrita pelo mesmo como “bathroom break”, antes de este se atirar a “Everyday Should Be A Holiday” (vídeo em cima), numa interpretação a solo na guitarra sem que o tema constasse no alinhamento. Mais um brinde. Seguiu-se “Holding Me Up” do disco Odditorium or Warlords of Mars que terminou o contrato da banda com a editora Capitol (os Capitol Years, como uma compilação posterior lhes chamou) antes da disposição do seu grande hit “Bohemian Like You” à plateia numa versão full-on psych, indo ao encontro da toada do resto do concerto.

Sinceramente, não esperávamos uma abordagem tão arriscada por parte da banda seja através da voz quase imperceptível, funcionando mais como uma camada densa de som – à shoegaze – do que propriamente como stand-out lead tal como se verifica em disco, ou através do acréscimo dos mais variados efeitos na guitarra de Peter Homström em temas claramente pop-rock, recorrendo a ruídos distorcidos e a solos quase imperceptíveis, sempre em camadas ténues: uma manta sobre a restante música.

“Pete International Airport” e “Boys Better”, numa versão conjunta em ode ao psicadelismo terminam um concerto, sem encore, em tudo vencedor, não antes de Zia McCabe prolongar indeterminadamente o efeito delay ad eternum do seu teclado e sair em ombros num portento stage dive em direcção ao bar. Que melhor forma existe de se sair de um concerto de rock se não esta? Queriam rock? Pois aqui está ele.

 

Reportagem e vídeo: Rosa Maria

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