MONCHMONCH: não se passa nada às segundas

MONCHMONCH: não se passa nada às segundas

| Fevereiro 17, 2024 8:44 pm

MONCHMONCH: não se passa nada às segundas

| Fevereiro 17, 2024 8:44 pm

Fevereiro trouxe mais uma matiné da Saliva Diva à Socorro, sempre com o nobre objetivo de dinamizar aquele dia da semana em que habitualmente nada se passa. Após um aniversário, em dose dupla, no mês de janeiro, pudemos agora assistir à estreia no Porto de MONCHMONCH, artista brasileiro atualmente radicado em Portugal que aqui se apresentou perante uma plateia surpreendentemente bem composta. Acima de tudo, uma plateia notoriamente animada que se mostrou pronta a acolhê-lo de braços abertos, pois é mesmo assim que a arte deve ser vivida – sem preconceitos e sem fronteiras, só com o coração e a mente totalmente abertos.

Mas se o ambiente foi efetivamente relaxado (e para isso muito ajudou a intimidade que a cave da Socorro proporciona), a verdade é que o concerto também não desiludiu. Já estávamos curiosos para o ver depois de escutarmos GUARDILHA ESPANCA TATO, álbum super promissor que a Saliva fez chegar a Portugal após o lançamento pela Seloki Records no Brasil, mas não esperávamos o berro incontido de energia que daqui saiu. É que se em disco essa garra expressa-se de forma palpável mas cuidada, ao vivo o “rasgo” é estrondoso e até meio caótico, como uma alma punk frenética que encontra na anarquia sonora a sua transcendência catártica. Há quase um sentimento de “rua” na postura adotada, espécie de festa informal banhada em euforia coletiva onde a intensidade é sentida à flor da pele – no fundo, um deboche musical celebrado sem pudor, mas com todo o orgulho. Por nós, tudo bem.

 

Do Brasil para o mundo, a festa de MONCHMONCH é um grito que derruba fronteiras.

Musicalmente a “viagem” pode ser descrita como um desfile de legados incontornáveis da música brasileira, desde referências ao psicadelismo tropical dos Boogarins ou à pujança rítmica vibrante de Chico Science & Nação Zumbi (até aquele tom meio “louco” e selvagem da voz recorda o registo do grande Chico), passando pela força dos Titãs por alturas do mítico Cabeça Dinossauro. Todavia, tudo acaba por se diluir num caldeirão de sons explosivamente idiossincrático que o nosso anfitrião espalha com veemência, e se por um lado alguma dessa musicalidade exibida em estúdio é posteriormente “sacrificada” em prol da loucura (claro, há momentos mais calmos, mas a impetuosidade prevalece), por outro a insanidade mais ou menos controlada acaba por ser contagiante – é imprevisível, é apaixonada, e faz-nos querer saltar e dar tudo. Enfim, irreverência rockeira levada a cabo com muita atitude e o suporte de “infames” companheiros, que aqui incluíram não só José Silva dos Conferência Inferno/Ilusão Gótica e Miguel Pereira dos Marquise, como também Manuel Molarinho e Ricardo “Riscos” Cabral dos Baleia Baleia Baleia… porque quem diz que os colegas de editora não podem ser simultaneamente colegas de banda? Afinal, parece que a união não faz apenas a força, mas também a música. E as duas são indissociáveis.

No final, o saldo é claramente positivo. Há algumas arestas por limar – nota-se que ainda estão a desenvolver a sua química interna e houve um ou outro problema técnico que, de qualquer forma, não afetou a dinâmica da atuação -, mas abandonamos a sala com vontade de rever MONCMONCH, e se possível já num futuro próximo. O potencial é imenso e cada atuação só o vai fortalecer, disso temos a certeza… Estamos a assistir aos primórdios de uma grandiosa aventura.

 

Texto: Jorge Alves
Fotografia: Inês Leal

FacebookTwitter