3 Warning Shots na Socorro: quando o rock vem da alma, não há obstáculos que o deixem morrer
3 Warning Shots na Socorro: quando o rock vem da alma, não há obstáculos que o deixem morrer
3 Warning Shots na Socorro: quando o rock vem da alma, não há obstáculos que o deixem morrer
Depois do cancelamento da atuação de Santa Lúcida por motivos de saúde, a Saliva Diva não baixou os braços e marcou uma nova matiné na Socorro precisamente na segunda-feira seguinte, desta vez com a presença dos 3 Warning Shots – power trio sediado no Porto que se estreou ao vivo com uma passagem pelo Maus Hábitos, no passado mês de Março.
E na derradeira prova de que há males que vêm por bem, acabamos por assistir a um concerto absolutamente incrível, um dos melhores que esta iniciativa alguma vez ofereceu. Muito resumidamente, o que aqui temos é um garage portentoso e alucinante, de clara alma punk e a piscar o olho ao desert rock (sobretudo a Kyuss, mas também QOTSA ou Fu Manchu) no modo como evoca a “sujidade” de uma riffalhada pujante. As músicas, que para já não se encontram na net e são somente recriadas em palco, soam “ quentes” e vibrantes, autênticas “malhas” suculentas e levemente orelhudas, que frequentemente sucumbem à adrenalina de uma jam incendiária. No fundo, rockalhada jovial de aroma vital, berrada com uma garra que ecoou pela sala com uma energia simplesmente fabulosa.
Aliás, vamos mesmo mais longe e afirmamos que assistimos aqui a um dos melhores concertos este ano por parte de uma banda nacional. Uma declaração que até pode soar estranha (e alguns diriam mesmo exagerada) se pensarmos que a atuação chegou a ser temporariamente interrompida quando Francisca partiu uma corda do baixo, mas até esse pequeno contratempo acabou por originar um ambiente de envolvência e altruísmo, com Manuel Molarinho (músico em diversos projetos, incluindo os Baleia e O Manipulador, e membro fundador da Saliva) a emprestar um baixo para que o serão não tivesse um fim prematuro. Isto sim, é um exemplo da pureza que faz com que acreditemos na cena e lutemos sempre por ela. “No bullshit”, estamos aqui uns para os outros como a família que somos – no underground, é essa a linguagem do amor.
Assim, após esta breve pausa onde aproveitamos para trocar umas ideias e apanhar um bocado de ar, o concerto recomeçou exatamente no ponto onde tinha parado, com o nível de entrega a permanecer intacto e agora recheado de um aroma punk ainda mais acentuado. No final, o público pediu um encore e a resposta do trio foi repetir uma das músicas do set que, curiosamente, soou ainda mais vigorosa e satisfatória nesta segunda volta. Um concerto gratificante numa tarde bem passada – que mais pode um melómano pedir?
Texto: Jorge Alves