Os Meth Math são a pista de dança de um sonho fragmentado, e é nesse clubbing onírico que escolhemos viver

Os Meth Math são a pista de dança de um sonho fragmentado, e é nesse clubbing onírico que escolhemos viver

| Junho 7, 2024 3:26 pm

Os Meth Math são a pista de dança de um sonho fragmentado, e é nesse clubbing onírico que escolhemos viver

| Junho 7, 2024 3:26 pm

Imaginem a eletrónica lo-fi de uns Crystal Castles abraçada aos ritmos latinos do neoperreo e ficam com uma ideia da singularidade artística oferecida por estes Meth Math, espécie de banda sonora mirabolante a emanar de uma discoteca surrealista. Cultivando a dicotomia de contrastes coesos – texturas etéreas temperadas com sabores tropicais, ou atmosferas insólitas a revelar traços de familiaridade – , o trio mexicano passou pelo espaço da Lovers, munido da estreia Chupetones, para nos conduzir pelo seu universo onde a diversão livre de preconceitos constitui um ato de transcendência luminosa.

Há uma intimidade quase esotérica na sonoridade dos Meth Math – o sentimento de que o mundo deles se abre exclusivamente a quem se dispõe a absorver a sedução da sua fragilidade emotiva, a quem se liberta e espiritualmente renasce na melancolia delicada das suas batidas possantes, como se tudo isto fosse uma desconstrução futurista para erguer um cantinho só deles. E num espaço como o da Lovers – intimista e orgulhosamente diferente, tal como o som da banda que nesta tarde acolheu-, o ambiente vivido foi de uma proximidade revigorante, como um encontro de melómanos unidos para apreciar as sensibilidades de um coletivo que se serve da tecnologia – não há aqui guitarras, apenas maquinaria e vozes distorcidas – para encontrar novas formas de expressão. Para isso bastou juntar duas fórmulas existentes (no caso dos Meth Math, o já mencionado cruzamento entre Crystal Castles e neoperreo) e daí fazer nascer algo vibrante e refrescante, e que acima de tudo soa brutalmente honesto mesmo com todo o seu caráter performativo – uma performance que, especialmente por parte da vocalista Ángel Ballesteros, parece procurar ligações genuínas com a audiência, fazendo do experimentalismo eletrónico uma fonte de empatia nesta era de individualismo digital.

Meth Math

Enfim, foi mesmo bonito sentir que, unidos pela música, todos celebramos o momento com amor e sem barreiras, criando memórias que permanecerão eternas. Quando os virem num festival de grandes dimensões – e o caminho poderá muito bem ser esse -, lembrem-se que foi aqui que tudo começou, numa garagem transformada em sala onde se experienciou um clubbing surreal . Sem dúvida um dos melhores concertos do ano, e um dos que claramente apontou o caminho para o futuro… Agora é seguir a sua luz.

Antes do concerto, no entanto, a tarde começou ao som de Lava DJ Set aka alliannnnn, membro do coletivo Arcana (grupo de artistas bastante envolvidos no circuito LGBTQIA+ em Portugal) que, na ausência da DJ venezuelana Caliente Isa, proporcionou um pujante aquecimento com o objetivo de pôr toda a gente a dançar. No final já todos davam tudo, e se fomos felizes em Meth Math, foi também porque este DJ Set aqueceu bem a alma – e o corpo, claro.

Texto: Jorge Alves

Fotografia: Carolina Ribeiro

 

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