Desire Haze: aqui respiram-se ares de promessas luminosas
Desire Haze: aqui respiram-se ares de promessas luminosas
Desire Haze: aqui respiram-se ares de promessas luminosas
Foi com os Desire Haze que a Saliva Diva celebrou a sua matiné de setembro na Socorro, aquela precisamente concebida para dar vida e ânimo a uma segunda feira que, ao contrário das outras que o mês oferece, se recusa a ser sugada pela inércia.
Curiosamente, esta sessão era suposto contar com a presença de Santa Lúcida, mas devido a um imprevisto de última hora vieram os Desire Haze no seu lugar. Contudo, é seguro dizer que mais do que uma simples substituição, tivemos aqui uma bela revelação. Apoiados num indie/rock alternativo que muito vai beber ao universo de Angel Olsen e PJ Harvey – falamos, portanto, de guitarras simultaneamente potentes e “cintilantes”, que se deixam guiar por uma voz feminina, a oscilar entre o registo etéreo e a garra latente -, assinaram um concerto exemplarmente competente e fluido, engrandecido por uma audiência bastante bem composta (é o que dá ter amigos, nesta fase inicial), que os recebeu de braços abertos como se de grandes headliners se tratassem. Só isso fez uma enorme diferença, pois a “magia” desta festa intimista – foi a isso que o concerto soou, honestamente, a uma espécie de comemoração familiar vivida em clima de descontração feliz, como um episódio da juventude para na velhice recordar – não seria a mesma perante uma audiência mais “distante”. Aqui deu-se e viveu-se tudo, e tudo foi efetivamente melhor.
Além disso, se é inegável que toda a banda se mostrou coesa, foi a vocalista/guitarrista Laura quem mais se destacou com a sua sensibilidade penetrante, ali entre a leve timidez e a vontade de exteriorizar toda a grandeza do seu “eu”. Foi por isso comovente aquela altura em que, sozinha em palco com a sua guitarra, se entregou de corpo e alma à intimidade frágil de uma solidão coletiva, recordando a “libertação” poética e possante de Angel Olsen quando esta se apresentou a solo em Guimarães, corria o ano de 2018. “Homenagem” consciente ou indireta? Isso não sabemos bem, mas o que é certo é que a sentimos na alma, confortáveis que estávamos naquela teia de delicadeza emotiva. Mesmo não se encontrando ainda ao nível da referida cantautora americana (isso nem é fácil, nem para agora se exigia), a verdade é que Laura tem uma presença intrigante em palco – uma postura que tanto consegue ser cautelosamente contida quanto docemente afável, e da qual se serviu para transmitir, ainda que com algum nervosismo, a beleza da sua honestidade crua.
Após esse momento a banda regressou ao palco e interpretou a última música – que, na verdade só foi a última por não haver mais nada para tocar (podem sempre ensaiar umas covers, para improvisar em gigs futuros), já que o público fez questão de berrar por um encore que posteriormente não aconteceu… Mas não havia como resistir, o concerto tinha efetivamente chegado ao fim.
Ainda assim, abandonámos a Socorro com a reconfortante sensação de um final de tarde bem passado, na companhia de um grupo ainda jovem e com muito espaço para crescer, mas cheio de potencial revigorante mesmo nesta fase “embrionária”. Por agora é acompanhar a sua pequena aventura, a começar pelo lançamento do single já no próximo dia 20 – nesta ocasião ouvimo-lo e gostámos…
Texto: Jorge Alves
Fotografia: Márcia Costa