A jarda transcendente dos The Telescopes é a catarse dos nossos sonhos, vivamos eternamente na sua memória

A jarda transcendente dos The Telescopes é a catarse dos nossos sonhos, vivamos eternamente na sua memória

| Outubro 15, 2024 10:41 pm

A jarda transcendente dos The Telescopes é a catarse dos nossos sonhos, vivamos eternamente na sua memória

| Outubro 15, 2024 10:41 pm

A semana passada ficará na história como uma das mais movimentadas que a Socorro alguma vez viveu, com um total de três bandas internacionais a passar pela cave da loja em três dias seguidos. Uma conquista notável para um espaço ainda recente, e o primeiro capítulo desta trilogia gloriosa (que continuou muitíssimo bem com os Throw Down Bones na terça, terminando com uma casa completamente lotada para receber os Maruja na quarta) teve um arranque fulgurante com a atuação dos britânicos The Telescopes. A banda de culto liderada por Stephen Lawrie, aqui em formato quinteto (com especial destaque para Tara Clamart no sintetizador analógico, bem no centro do palco enquanto Stephen permanecia mais à direita, próximo do amplificador), aproveitou esta visita para criar uma parede de som tão imponente quanto elegante, numa autêntica escultura de ruído meditativo que nos deixou boquiabertos. Houve momentos mais melódicos pelo meio, não fosse este concerto uma viagem de sensações gradualmente fortes, mas o que aqui tivemos foi essencialmente uma dose de shoegaze/ psych/noise simultaneamente possante e onírico, a garra e a introspeção a fundirem-se para originar um clima de densidade sónica que ameaçava “engolir” a sala .

Sem dúvida alguma, sentir isto ao vivo é indescritivelmente poderoso, como ser puxado para um nevoeiro espesso de feedback que arrepia profundamente a alma enquanto os ouvidos são punidos com veemência. Aliás, a última música evocou praticamente o legado dos Swans -sufocante, cantada como um lamento etéreo e debitada com uma violência sonora, de tal forma intimidante que quase nos rasgava a pele. Acreditem que não há vídeo no YouTube que faça juz à pujança que os The Telescopes possuem em palco, e a única maneira de a sentir é mesmo presencialmente, se possível na fila da frente (mas com tampões auditivos), para que a intensidade esotérica tome conta de nós. Um dos melhores concertos que a Socorro alguma vez recebeu, e um dos mais impressionantes que já vimos este ano. Jarda brutal, jarda excelsa.

Antes deste “ritual” houve um belo aquecimento por parte de Magickal Misery, projeto a solo de João Gomes Martins (guitarrista em bandas como os Overdoses ou Summer of Hate), que já aqui tinha estado quando assinou a primeira parte do concerto de Crocodiles, em setembro do ano passado. Contando agora com acompanhamento de bateria, lançou-se numa exploração meio improvisada, mas altamente dinâmica, de um shoegaze ora mais musculado, ora mais atmosférico, com pitadas de garra punkish para adoçar a fórmula. Um concerto super interessante, guiado pela força de uma guitarra abraçada a texturas, que plantou o ambiente perfeito para aquilo que se seguiu. Honestamente, esperamos vê-lo mais vezes por cá, e sem ser só enquanto suporte de headliners… Fica a sugestão.

 

Texto: Jorge Alves

Fotografia: Erwan Iliou

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